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08/11/2017

Foder e Poder

Foder e Poder
Barata Cichetto


Acabamos. Ela acendeu um cigarro. Eu também. A cama encharcada de um líquido estranho. Ela jorrara num squirt vigoroso. Fumávamos. Eu segurava o cigarro com a mão direita. À esquerda ainda na buceta dela. Ela segurava o cigarro com a esquerda. À direita no meu pau. Sentados na cama. Comecei a mexer no seu clitóris. Ela gostou. Ainda segurando o cigarro com a mão esquerda, deitou no meu colo e abocanhou meu pau ainda lambuzado de esperma. Chupou. Lambeu meu saco. Soprava a fumaça do cigarro no meu pau. Tornava a lamber. Chupar. Eu acariciava a cabeça dela com a mão esquerda e soprava a fumaça do meu cigarro nos cabelos perfumados dela. Ela chupava com vontade. Senti vontade de gozar. Gozei. Dentro da boca dela. Segurei sua cabeça de encontro ao meu corpo para que não perdesse nenhuma gota. Soltei. Ela ergueu a cabeça, limpou os lábios e deu outra tragada bem profunda no seu cigarro. Eu também. Nossos cigarros acabaram. Dormimos sobre o lençol encharcado. Acordamos. Ela tinha um hálito de noite horroroso. Quis me beijar. Recuei. Mandei escovar os dentes. Ela emburrou. Fez cara feia e acendeu um cigarro. Fumou quieta e voltou a dormir. Eu levantei e fui ao banheiro. Escovei os dentes e acendi um cigarro. Fumei. Voltei pra cama. Enconchei sua bunda. Tentei comer seu cu de conchinha. Ela não acordou. Desisti. Bati uma punheta e limpei na bunda dela. Ela acordou melada. Acendeu outro cigarro. Fiz café. Tomei café e fumei outro cigarro. Coloquei café na xícara e coloquei açúcar. Mexi com meu pau ainda melado de esperma. Subi ao quarto e ofereci a ela. Ela tomou com gosto. Eu ri da minha maldade. Ela perguntou por que eu ria. Era uma molecagem minha com tom de vingança juvenil. Uma bobagem. Ela pediu pão. Não tinha. Pediu pinto. Isso tinha. Fodemos de novo. A xícara virou e molhou mais uma vez a cama. Misturou-se com o liquido do squirt dela e com minha porra. Nojento. Imundo. Ela queria no cu. Enfiei. Saiu bosta. Misturou com tudo. Uma nojeira. Meu pau cheio de merda. A bunda dela cheia de merda. Fumamos novamente. Outro e outro. Três cigarros ao todo. Dormimos abraçados em cima daquela porcaria toda. Acordamos ao meio dia. Ela se sentia enjoada. Enfiei meu pau na boca dela. Ela vomitou. Pediu café. Lhe dei sem açúcar. Pediu açúcar. Lhe mijei na cara. Ela gostou. Se masturbou e soltou outro jorro de squirt. A casa fedia. E ela pedia. Mais pau. E eu queria mais buceta. Mais líquidos produzidos. E a cada golfada de algum liquido um cigarro. Chegou a noite. Acabaram-se os cigarros. Nós fediamos. Nós fodíamos. E fumávamos. Tínhamos o poder!

31/10/2017

06/11/2017

Dinastia

Dinastia
Barata Cichetto

Não. Eu não sou o que pensa de mim. Não sou o que pensa. Nem de mim nem de ninguém. Não sou seu pensamento. Nem seu sentimento. Não sou. Não sou o que imagina de mim. Em rede social. Não sou um monstro sexual. Meu apetite é seleto. E se pensa que sou legal. Também há engano em seu pensar. De mim. Não pense de mim. Não pense por mim. Nada há de ser pensado. Não sou Jesus. Nem Cristo. Nem existo. Não sou Lúcifer. Nem Baco. Ai meu saco. Com essas ideias lúcidas a respeito de mim. Sai dessa! Não interessa. Deveras. O que pensa. Como pensa. Não crie ideias. A meu respeito. Sou suspeito só por seu pensar. Sobre o que pensa. De mim. O meu interesse. Filosófico. Teológico. Ilógico. É na sua bunda. Na sua buceta. Mostre suas tetas. É a sua hora. Deite na cama. E abra a cabeça. Te penetro sorridente. Com meus novos dentes. De plástico. Não crie uma história. Sobre minha pessoa. Leia Pessoa. E não perca tempo comigo. Do seu tempo quero apenas o gozo. Gostoso. Fabuloso. Te espero no motel. As três da tarde. Na esquina de casa. Quando seus cachorros dormirem. E seus filhos andarem. Não espere a hora. É agora. Não pense nada de mim. Que sou vagabundo. Escape do meu mundo. Sem pensar. Por um segundo. Te faço sonhar. No outro te faço gozar. E esquecer do segundo. Do primeiro. E do ultimo que chegar. Te quero louca. Sem pensar. E se for pouca. Tua vontade. Te faço temer. Minha morte. Por sorte. Ou por azar. Nem pensar. Que pode pensar. Da minha lida. De versejar. E se sou maldito. E nem acredito. No seu bendito. Me faça acreditar. Que te pego. Na esquina torta. Com a ideia morta. De seu pensar. E se na tua escravidão. Na servidão da tua cegueira. Quiser enxergar. Te coloco uma venda. Te coloco à venda. Te amarro na cama. E te faço desejar. A morte ou a vida. Depende de teu desejar. E se teu querer for imundo. Me chame vagabundo. Que te faço esperar. Com uma tigela de restos de comida. No portão da tua casa. Sendo teu mendigo. De estimação. Em nome da tua causa. Por tua causa. Então mate minha fome. Da tua comida. Me mata a sede. Da tua virilha. E me humilha. Feito mulher de família. Mulher de casar. Não case comigo. Que não posso. Te sustentar. Sustente tua filha. Sustente a condição. Abra um negócio. Serei teu sócio. Serei teu ócio. E não esqueça a calcinha. Pendurada no chuveiro. Quando for se lavar. Limpe a bunda. Enxugue a vagina. E se me imagina. Esqueça qualquer pensamento. Sobre pensar.  Eu não sou seu pai. Não sou seu filho. Nem seu espírito santo. Nem sou amém. Sou a trindade santa. Três em um. Sou todos em um. Não pense que sou o que quer. Nem o que deseja. Sou seu desejo. Mais obscuro. Mais escuro. Mais duro. Sou uma dinastia. Carolíngia. Sou Magno. Carlomano. O Piedoso. O Calvo. O Simples. E o quinto, o Indolente. Sou Luiz. Sou Carlos. Senão o primeiro. Sem nunca ser o último. Sou seu caminho de liberdade. Rubra. Cubra sua vergonha. Descubra sua vontade. Cubra sua verdade. Com a mão esquerda. Estou a tua direita. Segura meu pau. Leia meu Manual. É tudo normal. Sou teu mal. Teu mau. Tem bem. Então vem. Senta no meu colo. Ter consolo. É tudo diferente. Da história. Diferente da lei. Sou rei. Fui deposto. Derrubado. Mas agora preposto. Sou teu encosto. Teu desespero. Sou o sonho que te faz se masturbar no banheiro. De manhã. Sou pesadelo. Sou elo. Anelo. Chinelo. Teu pensamento sórdido. Mórbido. Híbrido. Pútrido. Lúcido. Fétido. Então saia de casa. Com o útero em brasa. Te espero. Na Ponte Rasa. Na Água Rasa. Em um motel da Marechal. Da General. Ou atrás do Hospital. Geral. Guardo teu segredo. Tiro teu medo. Mas amanhã cedo. Durma antes de se deitar.

06/11/2017

05/11/2017

Barat-of-hell

Barat-of-hell
Barata Cichetto

"Sirenes estão gritando. Fogos estão queimando. Nas sombras um homem com uma arma apontada para o olho." Em Gotham City a calma reina. E a alma queima. Morcegos cegos despencaram sobre os telhados das casas. Há mal no ar. No Inferno apenas solidão.  Batman está cansado. De descer pelo poste da batcaverna. No fim todos estamos cansados. De descer e de subir. Subindo por onde se desce. Descendo por onde se sobe. E no fim do dia. De todos os dias. Resta apenas o cansaço. Cobras rastejam. Sobem encostas. E nas tuas costas. Sobem todos. Não há mais estrelas em Gotham City. O luar está do avesso. Do avesso. E o que pode ser feito é acender a luz. Abrindo o buraco dentro da escuridão. Não risque fósforos. Perigo de explosão. De implosão. Mental. Eu escutei os sinos dobrarem. Era o chamado. De ser amado. E os sinos calaram. E sobrou apenas um par de botas no armário. Sem ninguém dentro delas. A gordura escorre pelo tapete da sala.  Há porcos no chiqueiro. Cachorros ladrando à noite. Galinhas cacarejam. Jacarés sem escrúpulos. À beira do pantanal. Do Inferno demônios relincham. Éguas no cio correndo peladas. Há fogo no ar. Cruzes brancas queimadas. Cruzes negras cheirando enxofre. Patas de bodes. Asas de anjo. Penas de ganso. Borboletas batem asas na Ásia. E mudam meu destino. Quero ir embora. Agora. Já não há senhora. Quero um par de tetas. De uma vaca profana. Esfregando na minha cara. A vaca de leite. A vaca sagrada. Sangrada. Meu deleite. Seu enfeite. A vaca tem pernas tortas. No pasto come a grama pisada pela história. Da escória. E eu. Que nem sei nada. Queria ensinar. A ser tarada. Acabou. Morreu. Aquele meu antigo brilho escureceu. Acabo meus dias sem fé nem esperança. Coisa mediúnica. Em Gotham City tudo é pálido. Ácido. Barulhento. Sou filósofo. Encoxo tua mãe no trem. Tem. Tem que ter coragem. Seguir a viagem. E foder com o maquinista. No fim da linha. Onde tinha uma nota de cem esperando.  Há que ter coragem para descer na estação errada. E depois retornar aos braços do amante. Sou o amante numero cem. Sem nada. Sem mim mesmo. Devorado. Sugado. Transformado em monstro ao anoitecer. Não sou belo. Mas soube tocar o sino. E fazer jorrar litros de tesão. Matei a sede. Morri de fome. Nem tenho mais nome. Sou apenas Barata. Bat out of hell. Barat-of-hell. Fui céu. Sou réu. Culpado. Tragam a forca. Enforquem-me na madeira mais alta da casa. Podem ficar com tudo. Nunca nada foi meu. O século XXI me deu razão. A razão que era de Piva. E de Shiva. De Chivas. A morte chega com a foice. Eu com o martelo. Belo é ser morto. Ser morto por decreto. Ato secreto. De um ditador. A semente do mal. Na água da cidade. Flúor e necrochorumem. Morte na torneira. Geração de acerebrados. Cérebros corroídos nas salas de aulas de faculdades de história. Maconha e cocaína. Ideologia tirana. E o amalgama criado pelo flúor. Distribuído pelas companhias de saneamento. Mas em Gotham City a bandeira vermelha tremula. E eu limpo a bunda com papel higiênico preto. A ideologia do crime. O crime da ideologia. Atropelamento e fuga. Não há mais socorro. Nem salvação. A solidão do Inferno está prestes a acabar. A horda de gafanhotos vorazes atacou a plantação. Ainda há tempo de foder antes de morrer. Então foda. Meu caráter foi minha ruína. E assim tudo termina. Sem mais. Nem menos!

25/10/2017

A Estranha Loja das Palavras

A Estranha Loja das Palavras
Por Barata Cichetto

Um tanto estranha aquela loja do interior
Que tinha um verso pintado no exterior
A loja vendia palavras e não seus sentidos
E eram vendidas como se fossem vestidos.

E estranho também era aquele vendedor
Que dizia não saber o que era vender dor
E pelas roupas usadas pelo tal gerente
Sabia-se não ser aquele lugar de gente.

Estranho também que na loja não tinha portas
Pois os fregueses eram apenas pessoas mortas
E na tal loja ninguém precisava pagar o preço
Já que o dono tinha dos fregueses o endereço.

Estranha mesmo a loja das palavras permitidas
Pois ali não se vendiam as que foram proibidas
E assim eram as coisas naquela estranha cidade
Onde ninguém sabia onde era a loja da liberdade.

18/07/2017

05/11/2017 - Publicado também em: https://www.meart.com.br/poesias/poesia-reflexiva-a-estranha-loja-das-palavras/

03/11/2017

Três de Novembro

Três de Novembro
Barata Cichetto

Três de novembro. O dia dos mortos passou. De todos os santos também. Três de novembro tinha que ser dia de alguma coisa, mas é apenas dia três de novembro. Um dia qualquer. E eu, um poeta qualquer, num dia qualquer escrevo qualquer coisa só para não enlouquecer. É três de novembro e não tem cigarro. Não tem pão. O circo caiu. Falam em Natal. Em festas de fim de ano e presentes e sorrisos falsos. Este ano será um tanto diferente. Não terá sorrisos falsos. Hoje ainda é três de novembro. Tem muito tempo pela frente. Há tempos atrás eu sorriria. Hoje, neste três de novembro, não.  Acabou meu cigarro. Na mesa só sobrou um pão duro. Para dois. Tenho livros de poesia. Mas não tem poesia hoje. Neste três de novembro de dois mil e dezessete não há poesia possível. Daqui a menos de dois meses acaba um ano que foi qualquer como qualquer ano sempre é qualquer. Não contem comigo na sua ceia de Natal. Não contem comigo para soltar fogos na passagem do ano. Fiquem com seus comunismos incomuns, seus socialismos hipócritas e seus votos de felicidade e paz e harmonia da boca pra fora. Eu ficaria dormindo o dia três de novembro inteiro, só pra não pensar que não tenho dinheiro nem cigarros nem poesia. E ficaria dormindo até três de novembro do ano que vem. Não, não contem comigo no Natal. Não fui eu que criei Jesus Cristo. Nem fui eu que o matei. Fiquem com a história. Fiquem com a História. Com a retórica mentirosa das salas de aulas cheirando a maconha. Hoje ainda é três de novembro e falta muito para o Anti-Natal. O dia dos mortos se foi. Ficaram apenas saudades. Dos mortos que caminham sem pensar. Que caminham sem sentir. Não lembrem de mim no Natal. Não contem comigo no Ano Novo. Lembrem de mim no dia dos mortos. Ou de todos os santos.

03/11/2017

31/10/2017

O Culpado é o Poeta

O Culpado é o Poeta
Barata Cichetto


Há uma forte suspeita de que o culpado é o poeta. E se a suspeita é forte, mais forte que ela é a certeza que não é o mordomo, nem a estatueta negra sobre a mesinha de centro de uma mansão. O milionário não foi, muito menos a diarista. O psicanalista está fora de suspeitas também, assim como o policial. E nem pensem em culpar o político ou o general, pois suspeitas nunca caem num feriado. As suspeitas são sempre aos sábados, ou domingos, dependendo do dia do mês. E antes que comecem a julgar, poupem o tempo dos jurados e do magistrado, e apontem para aquele poeta parado na esquina, com ar de terrorista, jeito de anarquista e fama de encrenqueiro. E maconheiro. Só pode ser ele, o poeta, o culpado. Aliás, alguém duvida que seja? É dele a culpa. Sempre dele. Chamem agora o retratista e que se faça o retrato falado do meliante, mediante uma módica quantia. Estampem na capa do jornal. É ele, sim é ele! E preparem o corredor da morte, paguem a fatura de energia elétrica e liguem a chave da cadeira. Cuidem para que ele não morda a língua na hora fatal. Mas permitam que revele seu ultimo desejo, que todo criminoso tem direito a um. E ele lhes confessará, nas suas rimas tolas que é, sim, o culpado. E pedirá papel e caneta. E escreverá um poema, rimando culpas com desculpas; ira com lira, e putas com lutas. Afinal, que o deixem a apodrecer sobre a terra depois de morto. E que os corvos e os ratos roam seus intestinos. Pois nem a terra lhe pode ser leve.

30/10/2017


30/10/2017

Modernoso Mundo Hodierno

Modernoso Mundo Hodierno
Barata Cichetto


Falam que sou estranho, por ser poeta e por ser otário
E eu nem sei o que é estanho, nem nunca fui a Ontário
Mas o tal artista underground de rua que toca roque
Chegou ontem a noite de Roma, Paris e Nova Iorque.

Eu que sou estranho, mas acha bacana ser poeta surreal
Afinal, a falta de grana é o que alimenta a literatura real
Fala que é legal ser fudido, sofrer com falta de dinheiro
Mas ontem comeu duas groupies na porta do banheiro.

O artista usa coturno sem ser militar, e acha bom meliante
E por ser um bom militante, acha que é um eterno mutante
Me chama de reacionário guardando no armário casaco
E eu abro a geladeira e só acho restos dentro de um saco.

Ainda ontem, passou por mim trajando uma enorme capa
Chegado da Europa, da exposição marginal sobre a Lapa
Se diz esquerda, usa coque de lenhador, sapato sem meia
É estrela da feira literária e grita palavrão na hora da ceia.

Fuma maconha, cheira cocaína e reclama do meu cigarro
Mas o meu imposto é o que paga o preço do seu escarro
Chama traficante de chefe e policial de bandido de farda
E nunca pensa que a justiça é coisa que falha e que tarda.

É artista underground que ama o Buarque e o Caetano
Mas baixou um milhão de musicas somente neste ano
É um escritor que nunca lê, mas publica sobre dificuldades
E faz palestras sobre literatura em auditórios de faculdades.

Usa camiseta de Che e ama Fidel, mas nunca foi a Havana
Brada contra a ditadura, mas acha legal sandália Havaiana
Compara o capitalismo com o socialismo por ser ignorante
E acha que a mulher branca nunca pode usar um turbante.

Anda com O Capital e um Ipod na mochila de pano encardido
Come sanduíche natural em publico e um Big Mac escondido
Depois compra spray no shopping e lambuza muros inocentes
Porque a sujeira é algo que interessa a seus lideres indecentes.

Defende o aborto como forma de liberdade e por pura vaidade
E ofende até a um morto que não concorde com a sua maldade
Deixa morrer o feto, defende sem teto, mas é incapaz de afeto
Mesmo que seja a um filho, um pai ou ao enteado de seu neto.

E eu que sou egoísta, deixei de mim para tratar do casamento
Sem saber que o futuro me guardaria apenas o esquecimento
Restando apenas lamentar o que não foi feito em outras eras
Quando crianças ainda não tinham se transformado em feras.

Enquanto ele, o artista independente, carrega estrelas no peito
E escarra em meu rosto por discordar das sandices do prefeito
Berra pelos cantos sobre aquilo que considera como igualdade
Acreditando em cotas e tudo que é segregação e desigualdade.

Berra seu direito na escada rolante, na fila e no banco do trem
Mas o direito é de quem conquista, não de quem acha que tem
E eu que sou estranho perante prisioneiros de ideologias tortas
Caminho sem perceber sobre um mar turvo de criaturas mortas.

29/07/2017



Também publicado em: https://www.meart.com.br/poesias/poesia-reflexiva-modernoso-mundo-hodierno/#comment-577
Em 29/10/2017

29/10/2017

Sim, Piva, Eu Direi As Palavras Mais Terríveis Esta Noite

Sim, Piva, Eu Direi As Palavras Mais Terríveis Esta Noite
Barata Cichetto

Ao contrário de Piva, eu quero esta noite dizer as palavras mais terríveis que puder. E as que não puder também. Lançar a maldição mais hedionda, a ofensa mais profunda, a blasfêmia mais profana. Quero dizer palavras terríveis, temíveis, horríveis. A ponto de te fazer vomitar, a ponto de te fazer cagar nas calças, molhar as calcinhas, por ódio, tesão, horror, vontade. Quero dizer palavras tão terríveis, que ninguém ousou dizer. Que nem Arqúiloco, poeta-soldado grego, que causou o suicídio do sogro ao ler seus poemas, ousou pensar. Sim, quero dizê-las, em alto e bom som, para que todos os cachorros da rua escutem, para que meu pai, do outro da sala se mate, para que minha mãe na cozinha deixe a comida queimar, para que meus filhos comunistas lamentem, e para que minha mulher interrompa seu sono à base de remédios. Quero dizer as palavras mais terríveis, que nenhum sacerdote, em sua sacristia profana, jamais ousou orar, e que nenhum deus, em seus momentos de maior ira, cogitou, e que nenhum filósofo tergiversou. Quero dizer as palavras mais terríveis, que sequer uma criança, na sua mais tenra e infinita maldade brincou. Quero dizer as palavras mais orgânicas, mais orgásticas que nem Safo, ou nenhuma deusa lésbica grega ou romana disse, nem a seus mais secretos amantes, as palavras mais horrorosas, que sequer aqueles que tanto me odeiam são capazes de pensar. Dizer em um volume mais alto que toca uma banda de metal, as palavras mais danosas, que possam a alguém machucar. Quero dizer, quero dizer que as palavras que quero dizer, sejam as mais hediondas, que nem Augusto conseguiu versejar, que nem Nero conseguiu incendiar, que nem Calígula conseguiu enomear. Quero falar as palavras que sejam mais terríveis, que nenhuma jura amorosa foi capaz de ser, que nenhuma mulher foi capaz de dizer, e nenhum homem foi capaz de escutar. As palavras mais medonhas, que nem mesmo aqueles que sonham com o futuro poderão aguentar. Falar as palavras mais sinceras, que nenhum traidor foi capaz de contar, que nenhum traído foi capaz de ouvir. Quero falar, com minha língua ferina, todas as palavras terríveis que eu puder pensar. E não imaginem que poderei por acaso pedir perdão pelas palavras terríveis que quero falar esta noite, que perdão é palavrão, palavra de baixo calão, que não sei soletrar. Quero dizer todas as palavras terríveis que ainda nem constam de dicionários, que sequer foram inventadas. Todas. Quero inventar palavras terríveis esta noite. Inventar palavras na noite terrível. Quero dizer palavras terríveis incríveis. Daquelas que nem sua imaginação possa reconhecer. Quero dizer todas as palavras que eu possa conhecer. Quero dizer palavras terríveis, capazes de te cegar. De te enxergar. Tão terríveis que possam te ouvir. Te deixar muda. Te mudar. E quero, porque quero e pronto, falar as palavras horríveis para escandalizar a diva. Quero dizer as palavras mais terríveis que nem Piva foi capaz de dizer. E que nenhum outro poeta foi capaz de versar. E se essas minhas palavras não lhe forem tão terríveis, a ponto de te chocar, a ponto de lhe causar o desejo de suicídio, escute-as como quem escuta palavras de amor. Ou pedidos de socorro!

26/10/2017

26/10/2017

Imprinting - Making Of

Imprinting é um projeto idealizado e batizado por Joanna Franko. Trata-se de um volume de 80 páginas, com capa dura dupla, acabamento laminado, contando a trajetória do poeta, artista visual, artesão de livros e filosofo Barata Cichetto. Em formato grande, 20 X 27 cm, com centenas de fotos coloridas impressas em papel couchê 150 gramas, depoimentos, registros, entrevistas e ainda textos inéditos, além de curiosidades como fotos de infância, ingressos de shows, etc. O volume inclui um DVD com poemas musicados e videos de entrevistas com o artista, que também foi o autor de toda a criação gráfica. O material é comemorativo dos 45 anos de atividade literária.





























































































Outro Texto Sem Final

Outro Texto Sem Final
Barata Cichetto

Deixe-me agora escrever outro texto. Totalmente fora do contexto. Sem nenhum pretexto. Em curso. Que ganhe um concurso. Que me dê recurso. Fazer discurso. Em feira. Livre. Literária. Deixe-me escrever um poema. Sem vírgulas. Nem parênteses. Aparentemente poético. Antiético. Estético. Sem parágrafos. Sem linhas. Sem espaços. Sem tabulação. Sem adulação. Nem dois dedos da margem. Um texto à minha imagem. E semelhança. Mais imagem que semelhança. Um texto sem esperança. De ser lido. De ser tido. Como literatura. Sem ter sido. Como tortura. Uma tortura. Verbal. Nominal. Anal. Vaginal. Cerebral. Ataque de pânico. Sopro no coração. Mentira. Hipocrisia. Causa mortis. Escrevo por que é solido. Se fosse liquido eu beberia. Ficaria bêbado de texto. Como ontem fiquei de poesia. Se eu fosse mesmo um escritor. Ou quem sabe um torturador. Contaria tua história. Da minha maneira. Se fosse um terrorista. Explodiria teus miolos. E esparramaria pela Quinta Avenida. Em Nova Iorque. Dançando um Rock. De Lou Reed. Se eu fosse moço. Te jogaria no poço. Te esquartejaria. E colocaria numa mala. Então fala! Diga o que pensa. Ou me deixa inquieto. Quieto. Escrevendo um texto. Que jamais ganhará prêmios. Que jamais será lido. Por ninguém. Ou apenas por alguém. Um amigo. Quem sabe uma legião de dois. Não mais. Anormais. Se eu fosse anormal. Seria tudo normal. A qualquer um. Seria um animal. Urrando na jaula. Mijando na aula. Na sala. Na cozinha. E no quintal. Que tal? Se eu fosse o que quer. Eu não seria alguém. Seria ninguém. Quem? Quem disse que sou escritor? Quem disse que sou? Não sou nada. Estou tudo. Tudo é o que estou. Mas nunca estive na China. Nem na Grécia. Nem na esquina eu fui. A esquina é que vem até mim. Trazendo aquele boteco fedorento. Com bêbados odiosos. Que não sabem que sou escritor. Que não sabem. Todos estão perdidos. Com suas ideias políticas. Querem eleger outro presidente. Que é o mesmo. E se eu fosse escritor. Diria a eles que não. Que não é melhor. Que eleição. Que não é mais forte. Que sorte. Que sim é hipocrisia. Feito poesia. Então diria. Que poesia é o sim do não. E o não do sim. Poesia é assim. Eu diria de mim. Que não sou não. Nem sou sim. Sou o talvez e o senão. Se não for. Era para ser. Ser ou não ter. Eis a questão. Ter é não ser. Ser é uma palavra. Apenas uma. Entre tantas. Que não são. Há coisas que não são palavras. Nem todas as coisas são palavras. Algumas são apenas coisas. E eu que queria saber de todas as coisas. Conheci apenas poucas palavras. Muitas palavras. Poucas coisas. Coisa nenhuma. Coisa alguma. Palavra é apenas uma palavra. Simples. Feito a palavra eu. Que não significa eu. Apenas significa a palavra eu. Sem significado. E eu. Que não sou uma palavra. Escrevo um texto. Cheio de palavras que não são coisas. Enquanto muitas coisas. Que não são palavras. Acontecem. Crescem. Adoecem. Mas são as palavras. Que morrem. No fim. Mas antes. Escrevo outro texto. Para sair em revista. Com uma entrevista. Com um artista. Da televisão. E seu ponto de vista. Sem coesão. E meu texto. Sem nenhum pretexto. Vai para a lixeira. Do computador. Não sinto culpa. Nem dor. Não peço desculpa. Por matar palavras. Elas já foram abortadas. Em nome da modernidade. Da liberdade. E da vaidade. E só aviso. Quando parar de escrever. Para o leitor. Meu benfeitor. Vomitar. As palavras que lhe fiz engolir. A seco. Na marra. Por farra. E para me divertir. Da cara. De quem acha que arte. É parede de banheiro. Estupro de crianças. E sangue. E o crítico literário. Que é escritor. Dono de editora. Disse que meu escrito. Foi proscrito. Desperdício de papel. De bites. E de bytes. Malditos teclados de computador. Que zombam dos meus dedos longos. Malditos teclados de celulares. Que não gemem. Nem rangem. Estão mortos. Não escrevo sobre mortos. E quem dera um ataque de coração. Antes de terminar de escrever. Eu nem teria tempo de descrever. Minha morte. Nem de dizer.  Ad...

24/10/2017