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11/06/2013

Uma Ilha e Um Disco: Um Desafio

Uma Ilha e Um Disco: Um Desafio
(Parte 1)
Luiz Carlos Barata Cichetto


Introdução

Há cerca de três anos uma amiga me colocou num problema. Um delicioso problema, quero acrescentar. Aliás, usar o termo "problema" para isso é um tanto incorreto, no mínimo exagerado, de minha parte. Desafio é o mais correto.

- "Cê que já escutou tanta coisa em tanto tempo de vivência dentro da música, particularmente no Rock, me diga: se tivesse que escolher um, e apenas um único disco para uma ilha deserta, qual levaria?"

A pergunta em principio poderia ser de simples resposta, mas esta simples resposta seria uma resposta simplória para agradar, demonstrar meus lautos conhecimentos sobre Rock e etc. Mas, para uma resposta honesta e sincera, primeiramente comigo mesmo e também com minha interlocutora, pedi a ela um tempo para responder.

Há dois anos, a cobrança foi feita e eu ainda não tinha a resposta, embora frequentemente pensasse nela. Hora ou outra confeccionava listas, uma com vinte, outra com dez, e dali tentava tirar um, escolhendo sempre o melhor que no momento me parecia. Mas, antes que eu encontrasse com minha amiga e desse a ela a resposta, começava a lastimar a não escolha de outro, e de outro, e de outro... E assim o tempo passou. Três anos. Muito tempo para uma resposta tão simples. Ou não?!

"Se ao menos fossem dez discos, como normalmente se pede às pessoas..." Cogitei com ela. "Não, é apenas um!" - Enfática. "Tem que ser aquele disco que cê pense: 'Sem tal disco eu não viveria...' Coisas assim".

Há poucos dias, cansado de minhas próprias evasivas, decidi encarar o desafio de frente. Queria eu mesmo saber minha resposta. Era uma questão de honra até, não apenas para responder a uma pessoa que te considera, mas uma questão pessoal mesmo. Era preciso ter a resposta.


O Processo Inicial

Decidi encarar realmente o desafio. A primeira coisa que fiz foi deixar de pensar nele como "problema", como vinha fazendo. E embora todas as questões e dificuldades ainda fossem as mesmas, penar naquilo não como um problema, mas como um desafio, já me deixava mais leve e com a visão aberta a tudo o que poderia ser feito, não para "resolver um problema", mas sim, "vencer um desafio".

Próximo passo: até aquele momento eu tinha criado listas enormes com inúmeros nomes e procurava destacar, com critérios pouco claros, a minha escolha. Critérios subjetivos, momentâneos, que não levavam em conta fatores altamente relevantes. Critérios que poderiam mudar de acordo com o meu humor, por exemplo. Portanto a forma já no inicio estava errada, e jamais me levaria a um consenso.

Para tal escolha eu tinha, sim, que estabelecer inicialmente uma lista, mas não escolher o melhor e sim eliminando aqueles que não cumprissem todos os "requisitos" que o indicariam a ser meu companheiro e absoluto durante sei lá quanto tempo. Era mistér, portanto, que além de uma lista com nomes, eu tivesse uma outra, uma espécie de "check list" com os tais requisitos. E ambas não poderiam ser nem tão longas nem tão curtas e deveriam conter critérios totalmente objetivos. Não necessariamente práticos, mas objetivos.


A Primeira Lista de Nomes

Decidi estabelecer um numero que serviria com parâmetro final. É necessário estabelecer uma meta a qualquer projeto, à qualquer desafio. Seja a data final de sua realização, a concretização prática do plano; ou um numero ou um valor financeiro a ser atingido. E para esse projeto estabeleci um numero inicial de vinte nomes. Por que 20? Não sei e não importa, pois o que importa não é o numero, o valor, a data, mas sim os estabelecermos e o encararmos como meta, seguindo a risca. E os nomes eram, sem nenhuma ordem, propositalmente:

1 - Grand Funk Railroad - E Pluribus Funk
2 - Grand Funk Railroad - Survival
3 - Slade - Alive
4 - Black Sabbath - Black Sabbath
5 - Lou Reed - 1974 - Rock'n'Roll Animal
6 - Black Sabbath - Vol. 4
7 - Nazareth - Loud'n'Proud
8 - Led Zeppelin - (4)
9 - Scorpions - Fly To The Rainbow
10 - Pink Floyd - The Dark Side Of The Moon
11 - Pink Floyd - The Piper At The Gates Of Dawn
12 - Janis Joplin – Joplin In Concert
13 - Jethro Tull - Benefit
14 - Uriah Heep - The Magician's Birthday
15 - Bob Dylan & The Band - Before The Flood
16 - Deep Purple - Fireball
17 - Dio - Holy Diver
18 - David Bowie - Ziggy Stardust
19 - Tom Waitts - Heartattack & Vine
20 - Patti Smith - Radio Ethiopia


Os critérios para essa primeira lista foram simplesmente lembrar os primeiros que viessem a minha mente. E se são os primeiros a vir a minha mente depois de milhares e milhares escutados durante os últimos 40 anos é porque são importantes. Simples assim. Mas objetivo.


A Primeira Lista de Critérios

Conforme expliquei acima, os nomes deveriam ser selecionados não a partir da pergunta: "Qual é o melhor?", mas obedecer a uma checagem que incluem fatores lógicos e objetivos, mesmo que esses fatores pareçam - e sejam - ilógicos e subjetivos. O importante é determinar os fatores determinantes e estabelecer a eles o valor exato na análise. Claro que em uma seleção destas, alguns fatores são extremamente pessoais e intransferíveis, mas outros nem tantos. O importante é que existam e nos façam decidir o que queremos, e melhor ainda, o que não queremos. Normalmente o fator "exclusão" - ou seja "qual dessas coisas eu não quero" - é muito mais útil e justo.

Estabeleci então uma lista de checagem com 10 itens, que incluem não apenas o disco em si, mas tudo o que existe por trás dele. Desde o histórico e afinidade com o artista ou banda, até fatores extremamente pessoais, como por exemplo "Esse disco me lembra uma coisa ou fato ou pessoa ruim". Tal fator não é tão subjetivo, afinal, lembre-se, querido leitor, que estamos falando de um único disco que eu poderia ouvir em uma ilha deserta. Portanto, minha lista de checagem ficou assim:

1 - A banda ou artista tem uma carreira coerente musicalmente, sob o critérios de criatividade, teve sólida formação, considerando qualidade técnicas?
2 - Tem essa banda ou artista, interesses acima de tudo artísticos e não puramente comerciais?
3 - Tal artista ou banda pode ser considerado um artista do mundo e tem postura ética com relação a racismo ou violência?
4 - O disco possui, além das qualidades musicais, arte de capa e impressão ou outras que lhe agregam valor?
5 - Esse disco poderia ser escutado sob qualquer condição física ou psicológica?
6 - Já comprei mais de uma cópia desse disco, seja em qualquer mídia existiu e ainda hoje escuto?
7 - O disco poderia ser escutado, sem prejudicar a essência, tanto num equipamento simples, como num altamente sofisticado?
8 - Poderá esse disco ser sentido e compreendido em paralelo à outras atividades intelectuais, como por exemplo lendo um livro ou admirando uma pintura ou paisagem, sem prejuízo de nenhuma delas?
9 - Poderia esse disco ser escutado em qualquer condição climática ou geográfica, ou seja tanto com temperatura baixa ou sol intenso?
10 - É bom para ser escutado tanto se masturbando quanto fazendo sexo, seja com uma girafa ou uma árvore, passando pela Sharon Stone?


Uma parte considerável da lista, como podem notar, eu coloquei fatores que dizem respeito especificamente à banda ou artista, pois acredito na coerência entre o trabalho de um artista e seu histórico e comportamento perante o mundo. A análise foi feita por exclusão, ou seja, aqueles discos cujas respostas aos meus critérios fossem "não" estariam eliminados.

(Continua na Próxima Semana)