O CONTEÚDO DESTE BLOG É ESPELHADO DO BLOG BARATA CICHETTO. O CONTEÚDO FOI RESTAURADO EM 01/09/2019, SENDO PERDIDAS TODAS AS VISUALIZAÇÕES DESDE 2011.
Plágio é Crime: Todos os Textos Publicados, Exceto Quando Indicados, São de Autoria de Luiz Carlos Cichetto, e Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. (Escritório de Direitos Autorais) - Reprodução Proibida!


Mostrando postagens com marcador Redes Sociais. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Redes Sociais. Mostrar todas as postagens

21/02/2012

Facebook: Liberdade de Expressão e o Manual de Conduta e Postagem do Barata


Facebook: Liberdade de Expressão e o Manual de Conduta e Postagem do Barata 
Barata Cichetto

“Liberdade não apenas significa que o indivíduo tem a oportunidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de escolher; também significa que deve arcar com as conseqüências de suas ações, pelas quais será louvado ou criticado. Liberdade e responsabilidade são inseparáveis”. - F. A. Hayek

Quero construir uma metáfora baseada em fatos reais: moro em uma casa alugada onde, enquanto pagar meu aluguel o proprietário não tem o direito de entrar sem que eu permita, a não ser pela prerrogativa prevista em lei de "vistoria do imóvel". Embora não detendo a propriedade do imóvel, desde que não infrinja o previsto na Lei ou no próprio contrato, tenho direito ao uso de todas as partes da casa, do muro ao banheiro, da forma que eu quiser. Diante disso, o que guardo, falo, escrevo, penso e faço nesse imóvel é de minha propriedade e responsabilidade. Tenho, portanto o direito a cagar no meu banheiro, comer na minha cozinha, dormir no meu quarto. Ou de cagar no quarto, comer no banheiro, etc., se assim eu desejar. E, principalmente, de deixar entrar nesse imóvel quem eu quiser. E exerço, e faço questão que respeitem, meu direito sobre minha moradia, sem por isso possa ser acusado de tirania e opressão.

E é exatamente assim que funcionam as chamadas redes sociais. Elas tem donos que nos alugam um espaço, mesmo que teoricamente gratuito, mas cujas regras de "locação" são as mesmas, basicamente de qualquer contrato de locação. O fato de não existir um valor monetário diretamente não exime nenhum dos lados de suas responsabilidades com relação a esse contrato. Sempre assinamos termos de concordância de serviço, e isso é um contrato de locação. Se infringirmos somos penalizados. Mas assim como no imóvel que alugamos para moradia, tudo ali dentro nos pertence e é de nossa propriedade e responsabilidade e temos o direito de usá-lo de forma livre, embora dentro das regras legais e contratuais.

Dias atrás, por força de uma postagem, acabei entrando em conflito com uma "amiga" de Facebook, que culminou com o fim dessa "amizade". Não irei declinar detalhes que possam identificar a pessoa, mas apenas citar fatos. E, mesmo assim, somente aqueles que têm relação direta com o assunto.

Poucos dias antes, como forma de criticar dois “fenômenos” midiaticos recentes, a história de Luisa no Canadá e a "importância" de Caetano Veloso atravessar uma rua, publicada no Portal Terra, fiz uma montagem propositalmente grotesca, escrevendo no lugar de "Caetano se prepara para atravessar a rua no Leblon nesta Quinta-Feira" para "Barata se prepara para cagar em Guaianases nesta quinta-feira" e coloquei algumas fotos minhas no banheiro, que tinha feito há mais de um ano como uma “homenagem” a Frank Zappa que tem uma foto em idêntica situação. A coisa começou a ser replicada pelas páginas do Facebook com a mesma tônica da história da Luisa: "Foi todo mundo lá, menos o Barata que foi cagá!" Era uma critica bem humorada, e a tal "foto" era sempre acompanhada do endereço da página do Portal onde existia a tal matéria.

Mas aí é que entra a questão da desinformação, aliada à pressa em aparecer criticando, da maioria das pessoas dentro do mundo moderno das redes sociais: um dia antes tinha morrido um cantor popular brasileiro e naquele dia uma cantora americana. E como sempre acontece nessas redes, as pessoas começam a entulhar de lamentos, fotos de antes/depois, chororôs e outras coisas irritantes. Não gosto disso, acho hipocrisia, mas nunca ataquei diretamente ninguém por isso. O que faço é escrever no meu mural meu descontentamento com isso. E foi o que fiz. Pegando o compartilhamento sobre a montagem da minha foto escrevi: "Ah, A Whitney Huston morreu? E dai? E eu com isso? O importante mesmo é que Barata Foi Cagá!" Foi um recado direto sobre minha falta de interesse pelo assunto e ainda pegando o gancho da brincadeira.

A partir daí, minha ex-"amiga" entrou na postagem e começou a tecer criticas, sem entender o tom da conversa, afirmado que eu estaria desrespeitando a morta e a liberdade de expressão das pessoas, que qualquer um tinha direito de ser hipócrita, que dessa forma eu intimidava as pessoas a não postarem suas opiniões, que eu era um opressor e tirano, e que estaria criando um "Manual de Postagem", e que eu era um “isso” e um “aquilo”... E essa discussão acabou assim: minha "amiga" me excluiu da sua lista de “amigos”, sem antes deixar uma mensagem cheia de ofensas em meu mural, construindo uma “biografia” minha de forma pretensiosa, falaciosa e violenta, sem o menor conhecimento de meu histórico pessoal. Fiz questão de manter a mensagem, mas horas depois ela mesma a apagou.

No inicio deste artigo, coloquei a metáfora da casa alugada para ilustrar o funcionamento das redes sociais, pois esta foi a questão crucial: minha "amiga" (ex-"amiga") batia na tecla de que o mural do Facebook é coletivo e não meu e que portanto eu tinha que aceitar tudo que era escrito e ficar quieto, calado sem reclamar, e que também não tinha o direito de excluir pessoas da minha "roda de amigos" com as quais eu não concordasse. Caso contrário eu seria um tirano, opressor e blá, blá, blá... 

Ainda usando da ilustração do início, imaginem o seguinte: chega uma pessoa e picha o muro da minha casa, (não importando se esse "minha" se refere a propriedade do imóvel ou direito de uso por locação) escrevendo uma merda qualquer. Segundo o conceito da minha “amiga”, eu não posso apagar aquilo e mandar o cara a merda, nem dizer pra ele: "estou com o saco cheio de você escrever merda no meu muro!", porque tenho que respeitar a liberdade de expressão dele... E ainda tenho que continuar a chamá-lo de amigo! Menos, né?!  E isso não tem nada a ver com liberdade de expressão. Quem acha que tem, é mal intencionado ou desinformado. Ou as duas coisas.

Então, baseado na sugestão da minha ex-"amiga", estou criando um "Manual de Conduta e Postagem do Barata". Quem não gostar tem todo direito a sua tão famigerada liberdade de expressão e escrever suas criticas, ou seja: pode chegar e pichar meu muro. Mas não esqueça que eu tenho o direito de apagar seu comentário do meu muro e nem por isso estarei sendo censor, ditador ou tirano. Pode também mandar um e-mail me xingando, que também tenho o direito de responder ou simplesmente ignorar. Pode ainda deletar-me da sua lista de "amigos", qualquer coisa assim. Mas não esqueça que eu também tenho o direito de fazer a mesma coisa contigo. 

E é simples, curto e grosso meu Manual:

1 - O meu mural do Facebook é meu (está escrito lá isso).
2 - Eu tenho o direito de não gostar do que você escreve, e:
2.1 - Responder no seu mural;
2.2 - Escrever no meu mural que eu não gosto do que você escreveu;
2.3 - Te mandar a merda, ou seja, te deletar da minha lista de "amigos", pois não sou obrigado a ter “amizade” com pessoas que não me interessam.
2.4 – Se não quer ser contestado, não publique nada que possa aparecer no mural alheio, ou seja não compartilhe bosta nenhuma... Ou exclua sua conta nas redes sociais.
3 -  Como disse minha “amiga”: você tem o direito de ser hipócrita, submisso e idiota, mas não espere que eu também o seja.
4 - E que fique bem clara, uma coisa que os defensores insanos da liberdade pela liberdade esquecem, que é o fato de que a liberdade sempre tem um preço e deve obrigatoriamente vir acompanhada da responsabilidade.

E finalmente: as pessoas não estão nem ai pra você, entende isso! Eu não estou nem aí pra você e você nem ai pra mim. O Facebook me usa, coleta minhas informações pessoais e as vende a corporações, então eu também uso um pouco deles postando as minhas idéias e meu modo de pensar, mesmo que seja numa foto cagando... Ou mandando o Mark Zuckemberg tomar no cu. Não gostou?

14/02/2012

12/02/2012

O Cérebroscópio

O Cérebroscópio
Luiz Carlos “Barata” Cichetto

Dia desses li um texto de autoria de João de Fernandes Teixeira, publicado na revista "Filosofia" (Editora Escala). No texto, o autor discorre sobre a questão da privacidade dos estados mentais, e cita como referencia o filósofo Daniel Dennett, particularmente o artigo publicado no livro "Brainstorms" de 1981, onde o autor critica severamente àqueles que pregam que a Neurociência poderia decifrar o "código mental" através da criação de uma máquina que ele denomina "Cérebroscópio". "Uma máquina fantasmagórica, pois além de ler os pensamentos dos outros também permitiria que novos pensamentos fossem inseridos na cabeça das pessoas." Segundo Dennett, "Isso seria a consumação do projeto totalitário das sociedades contemporâneas nas quais, se já perdemos o direito de falar, agora perderíamos o último que nos resta: o de pensar." E arremata: "Felizmente até hoje essa máquina não foi construída.". 

A literatura, principalmente aquela dedicada à distopias, sempre mostrou esse desejo de controle das massas através do controle de seus atos e principalmente pensamentos. Assim era na sociedade criada por Huxley em "Admirável Mundo Novo" e naquela dominada pelo "Big Brother", no “1984” de Orwell, onde a criação da "Novilíngua" era baseada na redução do numero de palavras com o intuito de diminuir a capacidade de raciocínio. Enfim, o desejo de criação dessa máquina, o "Cérebroscópio", de alguma forma está presente na imaginação desde o principio da humanidade como a conhecemos. Quem de nós nunca pensou em ter tal máquina que pudesse conhecer e controlar os pensamentos mais íntimos dos outros?

Mas até a chegada da era da Informática, e particularmente da Internet, isto sempre foi encarado como um grande tema para imaginativos escritores de ficção-cientifica. Muitos autores criaram histórias baseadas no controle das mentes das pessoas de diversas formas. Desde o fim da primeira metade do século XX, começaram a imaginar "computadores" e sistemas com tal função, mesmo que os termos usados não fossem esses. Murray Leinster em 1946 escreveu um conto chamado "Uma Lógica Chamada Joe", onde a história girava em torno de um funcionário de manutenção de "lógicas", como o autor se refere aos computadores, que leva para casa Joe, um computador que aos poucos vai armazenando informações sobre as pessoas e causa uma confusão imensa. Em "Farenheit 451", Ray Bradbury, além da questão da proibição absoluta de livros, conta que as pessoas têm telas enormes ocupando espaços nobres das casas, interagindo com amigos e familiares "virtuais".

Saindo do terreno da Filosofia e da Literatura e olhando de lado - ou melhor, em frente, onde se encontram as nossas telas de computador, percebemos que a tal máquina de controle de pensamentos, o "Cérebroscópio", já foi construída. E sem que as pessoas tenham consciência, porque tal controle é baseado na ignorância e na ilusão de liberdade. A máquina de controle de pensamentos foi colocada dentro de nossas casas e nós a tratamos bem, temos apreço por ela, nos sentimos livres perante ela, achando que agora sim, temos liberdade de expressar nossos pensamentos e idéias. E somos muito, muito felizes com nosso "Cérebroscópio". Passamos a lutar por nossa liberdade de expressão com mais afinco do que por nossa própria existência física. E ao mesmo tempo nos sentimos poderosos, no controle de tudo, um poder também ilusório. E a liberdade de expressão, uma bandeira tão suja e perigosa quanto qualquer outra quando em mãos “erradas”, passou a ser empunhada por todos, sem que saibam exatamente do que se trata.

E essa ilusão de liberdade e de poder são o alimento, o combustível dessa máquina que é muito mais forte e poderosa que qualquer instrumento de tortura usado por qualquer ditadura existente no mundo, pois nos retira o maior dos bens existentes e inexpugnáveis, que é nosso pensamento. Nas torturas físicas impostas por carrascos durante ditaduras, caso o torturado suportasse a dor e não falasse, nenhum pensamento dele era retirado, pois não existe forma de se retirar um pensamento ou uma informação de dentro da mente de alguém, a não ser que este mesmo o conte.  Por mais ambíguo que possa parecer, a sociedade humana é alicerçada nesses dois pilares, liberdade e poder, e a ilusão de ambos é o que a mantem de pé.  

Com a chegada das chamadas redes sociais, essas máquinas, os “Cérebroscópios”, finalmente tomaram forma. Elas nos instigam a declinar nossos pensamentos, o que fazemos, do que gostamos e não gostamos. Instigam-nos a "Compartilhar" pensamentos, idéias, gostos, fotos familiares e a falar mais e mais sobre nossa personalidade, família, trabalho. Enfim, nos instigam a expor nossos pensamentos mais profundos nos dando a ilusão de que desta forma estamos interagindo com nossos "amigos", que estamos exercendo nossa liberdade de expressão. A pior forma de escravizar um ser humano é fazendo-o acreditar que não é uma prisão que o cerca, mas sim a mais total e absoluta liberdade. Sem a presença física da grade e do instrumento de tortura, e acreditando estarmos livres, corremos na direção a que querem que corramos.

E é assim, exatamente assim, que funcionam essas redes sociais. Normalmente as caixas de textos onde digitamos nossas mensagens têm o título: "No que você está pensando?", quer mais direto que isso? E mesmo o que não tenham isso escrito é totalmente clara essa intenção. O "Twitter" foi criado exclusivamente para que se exponham principalmente pensamentos, mas limitando-os a 140 caracteres, o que ensejou algo onde se usam palavras curtas e abreviações ininteligíveis, restringindo mais e mais a capacidade de cognição, de raciocínio, resultando assim numa redução paulatina da inteligência humana. Muitas pessoas defendem que o que estaria acontecendo seria uma evolução natural da língua. Seria uma nova língua, ou a "Novilíngua", mesmo? 

Agora, já pararam para pensar como essas empresas, com estruturas milionárias e centenas de funcionários se sustentam? Prestaram atenção que no Twitter não existe propaganda, por exemplo. E que no Facebook, embora ela exista, não seria suficiente nem para pagar o consumo de eletricidade da empresa? De onde vem esse dinheiro, então?

Um "amigo" postou uma música, uma frase, um trecho de filme e clicamos no botão "Curtir" e "Compartilhar". Com estes simples gestos, juntamente com informações pessoais postadas no "Perfil", está sendo construindo um imenso painel sobre cada um de nós. Cada pensamento exposto, cada foto, com quem ficamos, quem amamos, nossos bichos de estimação, nossos gostos, manias, desejos, conceitos e preconceitos, são pedaços de um quebra-cabeças gigantesco cujas peças vão se juntando. E em algum tempo aqueles de posse dessas informações conhecerão nossas existências melhor que nós mesmos, melhor que nossas mães e esposas ou maridos, pois com certeza, muitas informações que ali postamos nem a eles confessamos.

E daí. Podem alguns pensar. "Dane-se! O que de importante tem em minha vida que os interesse?" Todas as vidas de todas as pessoas interessam a eles partindo-se do fato de que estamos em uma sociedade brutalmente capitalista e que todos, absolutamente todos, precisam consumir. Então, todas essas informações a respeito de cada de um de nós são armazenadas em enormes bancos de dados e depois vendidas a grandes corporações que assim sabem exatamente o que gostamos e, portanto podem nos convencer a comprar aquilo que "precisamos". Além disso, essas informações podem ser colocadas à disposição de políticos inescrupulosos com o intuito de manipulação, e imagine a quem mais possa ter interesse em saber o que pensam e do que gostam milhões de pessoas. 

A falsa sensação de liberdade, instigada por pessoas cujo único interesse é o de poder, nos transforma em escravos muito mais dóceis e submissos que qualquer máquina de tortura jamais criada. O "Cérebroscópio" já foi construído e nós o alimentamos com nossos pensamentos, e assim fazendo abrimos todas as portas para que os pensamentos dos poderosos nos sejam impostos. E não pensamos mais, apenas pensamos que pensamos... E isso não é uma “falha na “Matrix”. É real.