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24/10/2012

Ainda Existem Homens Fortes?


Ainda Existem Homens Fortes?
Luiz Carlos Barata Cichetto

Dia desses, comentava com meu pai de 80 anos e getulista assumido, sobre o fato de eu estar relendo "Olga" de Fernando Morais, e sobre o que fora de fato a chamada "Intentona Comunista". No fim do meu resumo, ele saiu com a seguinte observação: "É, naquela época ainda existiam homens de verdade!" E então me pus a pensar sobre o que ele dissera e que parecia em principio ser de uma simplicidade extrema com um toque de machismo, mas cheguei a conclusão que ele tinha absoluta razão. Afinal, um homem como Luiz Carlos Prestes, militar de carreira, atravessar quase o país inteiro comandando um bando de esfarrapados e armados quase que apenas com o ideal de libertar um povo das garras de uma ditadura sangrenta e humilhante, não é o que teríamos hoje. Ser torturado e ver sua esposa ser deportada para dentro da Alemanha Nazista, sabê-la morta em câmaras de gás e mesmo assim, ainda continuar acreditando e lutando pela libertação de um povo que nada fez para ao menos caminhar ao seu lado, não é exatamente o tipo de atitude que veríamos nestes dias. 

Até o final do Século XX, mais precisamente até os anos 1980, ainda existiam tais homens, que, por um ideal se submetiam calados à tortura; que se submetiam a miséria e a fome em nome de um povo; que se submetiam ao exílio e a falta de condições de vida por lutar por um povo que sequer tinha consciência de sua existência e que vibrava a cada gol numa Copa do Mundo. Pessoas como Olga Benario, Carlos Lamarca e Carlos Marighella e outros trocaram suas vidas por um ideal, deram suas vidas pelas vidas alheias, por um sonho de liberdade não pessoal, mas de um povo inteiro.

E eu então pergunto: existem hoje pessoas com tal espírito? Com tal desprendimento, com tamanho "amor" de fato à raça humana de uma forma geral?  E eu mesmo respondo, sem nenhuma chance de estar infelizmente errado: não existem! E essa conclusão é a coisa que mais me causou perturbação. A frase de meu pai faz absoluto sentido, mas por quê? Seriam hoje os homens feitos de uma matéria diferente daqueles que a 30, 50 ou 80 anos existiam? Claro que não! Onde, então foram parar esses "homens de verdade"? 

Provavelmente precisaríamos de uma completa análise histórica a partir dos últimos 80 ou 100 anos, que englobasse todos os fatores inerentes para compreendermos tal "desaparecimento". Ou talvez a coisa seja um tanto mais simples. Nasci ainda no final dos anos 1950 e passei minha infância, adolescência e parte da vida adulta debaixo de uma Ditadura Militar no Brasil. Conheço, portanto, o comportamento e o pensamento de meus contemporâneos. E tive filhos e os vi crescer justamente a partir do final desse processo e, aparte a educação que lhes dei, percebo o quanto essa geração e as posteriores passaram a enxergar o mundo, de uma forma mesquinha, vaidosa e ignorante.

O final dos anos 1980 viu a derrocada do sistema Socialista no mundo, através do fim da União Soviética e da derrubada do muro de Berlin. E, mais do que simbolizar o fim de um sistema de governo, isso deixou órfão todos os idealistas, quebrando suas referências. A espécie humana precisa das dualidades, das referências, dos opostos. Precisa de opções que representem um caminho: Bem ou Mal, direita ou esquerda e assim por diante. E o Socialismo representava a outra ponta da corda, a opção, o caminho para aqueles que acreditavam que se do lado do Capitalismo as coisas eram ruins existia a outra ponta, o Socialismo, como a referência. Existia a busca por um outro ideal, uma tentativa, um sonho, que com o fim do Socialismo morreram, deixando órfãos todos os idealistas. Pois a parte a crença no socialismo em si como sistema correto ou não, justo ou não, era simplesmente o fato de existir a opção que mantinha os ideais vivos. E os ideais é que fazem com que pessoas vivam ou morram por eles. Sejam quais forem.

E aí é que realmente está a cerne da conclusão perturbadora a que meu pai, sem qualquer estudo filosófico ou histórico chegou, mesmo sem ter consciência: falta aos homens de hoje um ideal. Um ideal que não se encerre em si próprio, em suas necessidades vitais de vaidade e dinheiro. Claro que muitos seres humanos vivem bem sem um ideal fora de sua própria existência, claro que muitos vivem apenas pelo “ideal” que seja apenas comprar um carro novo ou ter dinheiro para beber, mas creio que a essência humana seja coletiva por natureza própria ou pela da moral religiosa arraigada há milênios, mas é baseada sempre num por que, num motivo. E porquês e motivos são as bases do ideal. 

O ideal gera comportamentos e atos. Não há como isolar. Isolados são efêmeros e desprovidos de verdade, desprovidos de ação. Comportamentos sem idéias são vazios. Podem ser reativos, mas não causam efeitos e se o fizerem são de curta duração ou de fraca expressão. Agora, comportamentos baseados em idéias e ideais são duradouros e fortes, representando o crescimento da humanidade como espécie.

Enfim, a conclusão que chego a respeito da afirmação de meu pai é que não existem mais "homens" de verdade por não existirem mais ideais. Os ideais fazem os homens fortes, os faz viver e morrer. Sem eles, somos apenas uma massa uniforme de seres amontoados preocupados apenas com comportamentos despidos de tudo, ocos e mecânicos.

11/10/2012

Cabeças de Tomate

Cabeças de Tomate
Luiz Carlos Barata Cichetto


Dia desses, relendo "Olga", de Fernando Morais, deparei com um detalhe, sobre a Policia Politica do Ditador Getulio Vargas, que era chamada pela população de "Cabeças de Tomate", por causa dos quepes vermelhos que usavam. Era uma milícia truculenta, ignorante e inculta, com o objetivo de caçar "terroristas". E esses chamados terroristas nada mais eram que pessoas que percebiam que o Brasil estava sendo dominado por tiranos burros e truculentos e tentaram, em vão, libertar seu povo.. Os "Cabeças de Tomate" das décadas de 1930/40 usavam armas como metralhadoras e truculência física para prender, espancar e torturar "inimigos do regime" ditatorial de Getúlio Vargas, que foi um dos mais vorazes e furiosos de todos os tempos. Matou muita gente, torturou sem piedade, massacrou sem dó. E parece que eles renasceram depois de mais de 70 anos.

Recentemente fui vítima dessa reencarnação maldita dos "Cabeças de Tomate" modernos. Não que fosse eu um guerrilheiro moderno tentando libertar o Brasil das botas de ditadores sanguinários, mas o objetivo da minha "guerrilha" era outra: o de fomentar o debate em cima de um fanatismo burro (todo fanatismo é burro) que faz com que as pessoas criem deuses intocáveis dentro das artes, particularmente. Basicamente os artigos mostravam que determinados artistas tinham seu valor exacerbado e superestimado, sendo que suas obras eram incoerentes com suas vidas, que pregavam exemplos e não os viviam e que, em outras palavras, enganavam os incautos, sendo portanto, carismáticos e perigosos lideres que incitavam pessoas a agirem de acordo com suas vontades. Em outros mostrava através de relatos pesquisados e comprovados de plágios, demonstrando o caráter falho (e portanto humano) desses ídolos. O tempo todo o mote era: pensem, não admitam ser levados pela midia desonesta que lhes impõem ídolos com o objetivo de fechar sua mente com o único propósito do consumo cego. Pensem que ídolos não são deuses e coisas assim. Mas o que aconteceu foi uma defesa cega desses ídolos e desse Estado de Coisas, usando como armas ataques violentos e fanáticos contra a minha pessoa, até com ameaças físicas. Pouquíssimos foram os que debateram e até discordaram com base em argumentos lógicos ou opiniões sensatas.

E traçando agora alguns paralelos com a Policia Política do Sr.Vargas e a Policia Política(mente Correta) dos dias atuais, ambas representadas pelos "Cabeças de Tomate", "fardados ou não, amados ou não" percebemos que ambas tem muitas coisas em comum. É referido na história que os "Cabeças" de Getulio e Filinto Muller eram assim chamados por causa da cor dos quepes. Será? Ou seria porque tinham cérebros tanto quanto tomates, ou couves, ou cebolas? Eram paus mandados que invadiam casas e prendiam aqueles que ousassem desafiar o sistema dominante. Esses "ousados" intelectuais, jornalistas, artistas e até mesmo outros militares que pretendiam abrir os olhos do povo para a sua condição de "ovelhas". No fim, as ovelhas nunca deixaram de balir e os ousados foram exterminados nas masmorras do Ditador.

E o que, portanto, difere as duas eras de Cabeças de Tomate? Apenas o tempo, o uniforme e os meios. Não estamos mais em 1940, eles não mais usam quepes vermelhos, mas cabelos longos ou cabelos curtos penteados com gel. E os meios, não são mais metralhadoras compradas pelo Exército alimentados por mão de obra escrava, mas teclados de computadores que são alimentados pelas mesmas mãos. Não dão tiros, não prendem, não espancam fisicamente, mas destroem aqueles que ousam pensar e principalmente falar, que ousam imaginar estar contribuindo para que as pessoas se libertem dessa vocação de gado encurralado nas garras do poder.

Aqueles morreram sem ver seu sonho realizado e aqueles poucos tolos da atualidade que ainda acreditam nesse sonho de libertar uma raça do jugo de uma ditadura bem maior e bem mais destrutiva que a militar e que não arranca o sangue, mas destrói a mente, também em breve sucumbirão e serão esquecidos pela história do mesmo jeito que os outros.

A história tem sido sistematicamente mudada e esquecida. E aqueles que ainda insistem em mudá-la, aqueles que insistem em construir uma espécie melhor, aqueles que construíram de alguma forma sua história baseada em lutas por alguma causa são desacreditados, taxados de loucos e jogados na escuridão. Desacreditar os mais velhos fazendo-os parecer inúteis e tolos, dignos apenas de lugares privilegiados em atendimento publica e em filas de espera é jogar no lixo a história.

Prega a máxima que a história é contada pelos vencedores. E que sempre foi e será assim. E quem foram os vencedores na história? Os ditadores, os gananciosos e os corruptos. Os Cabeças de Tomate, que nada mais são do que idiotas recrutados no meio do povo para cumprir um papel fundamental no esquema de dominação serão sempre a escória, nem povo nem poder. E se a história nunca será contada pelo ponto de vista dos perdedores eternos, o povo que vê neles aquilo que gostariam de ser, também nunca será contada por eles.

Os "Cabeça de Tomate", Varrem as Ruas do Rio de Janeiro - Foto: http://bloghistoriacritica.blogspot.com.br