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01/09/2019

Carta Aos Pequenos Ditadores Filhos do Nove Dedos

Eu tinha escrito esse poema esta madrugada. Pretendia publicá-lo eventualmente, mas em vista do torpedeamento covarde do Facebook e seus ascelas da IntercePT , apoiados pelo dinheiro sujo do Banco Santander, creio que vem a calhar.



Carta Aos Pequenos Ditadores Filhos do Nove Dedos
Barata Cichetto, Luiz Carlos Cichetto, Luiz Carlos Giraçol Cichetto e todos os nomes pelos quais queiram enterrar.

Falam por aí que eu sou poeta autodidata,
E nas suas falsas modéstias de longa data,
Afirmam que suas faculdades são idôneas,
E, portanto jamais fariam poesias errôneas.

Falam por aí, mas nem por isso estão certos,
Que eu desconheço regras e acentos corretos,
E então pergunto sobre o acento em urubu,
Que na minha poesia o assento é do seu cu.

Falam e até confessam nunca os terem lido,
Poemas que escrevi antes de eu ter nascido.
Cantam faculdades, de letras e de comunismos,
Esquecendo que poemas são puros organismos.

Falam aí sobre escritor com universitária formação,
E eu, doutor, gargalho de sua doutrinária erudição.
Sua ignorância é até maior que sua hipocrisia,
Então pergunto que diploma precisa a poesia.

Falam com as bocas cheias de esterco autoritário,
Condenando com a palavra errada o hereditário,
E eu, que nada tenho de posse além de minha arte,
Passo fome por não receber o que é da minha parte.

Falam por aí sobre justiça com valores invertidos,
E defendem a carniça e seus mentores pervertidos.
Pois que eu digo que não há social sem o trabalho,
E que qualquer preconceito é moral e não ato falho.

Falam por aí com a boca cheia de alheio dinheiro,
Que arte é coletivo, que seu mestre é companheiro,
Enquanto eu dono da minha própria consciência,
Criei a minha própria filosofia, política e ciência.

Falam de mim por aí, até um tanto indecorosos,
Apenas tolos casados com políticos habilidosos.
E eu, quase analfabeto, de pai, de mãe e de puta,
Crio meu próprio alfabeto falando da minha luta.

Falam por aí, que estudaram literatura complexa,
Que aprenderam regras de semântica circunflexa,
Contam que cheiraram Baudelaire e comeram merda,
E eu lhes digo que poesia não se cheira, nem se herda.

Falam por aí, que poeta nem mesmo é escritor,
Respondo apenas: sou da palavra um escultor.
E aos que reclamam por eu ser chamado de Barata,
Digo que maldita é tua língua, aquela que me mata.

Falam por aí sobre o direito que têm à liberdade,
Mas esquecem de que o dever é o pilar da sociedade.
E eu, cujo direito ao respeito foi por eles revogado,
Tenho apenas eu mesmo por mim como advogado.

Falam com suas bocas que fumam a maconha,
Que o comunismo é a realidade do que sonha,
Alimentando o banquete do traficante estrangeiro,
Que derruba matas e chama índio de companheiro.

Falam e cospem em mim por não ter um diploma,
E digo que da sua doença eu não tenho o sintoma.
Sou formado nas esquinas pelas putas e escritores,
E não preciso de suas escolas criadas por ditadores.

Falam de mim, tiram minha nota do literário concurso,
E depois pagam por seu trabalho de conclusão de curso.
Meu diploma é de doutor, sou mestre de mim somente,
Um poeta analfabeto, e o único senhor da minha mente.

Falam de mim e nem sabem ser pai, nem artista,
E chamam de pai o ladrão e de mãe a terrorista.
Pensam que nasceram do ovo e que a mãe é santa,
Enquanto preciso esperar o almoço sem ter a janta.

Falam demais porque sua língua não cabe na cavidade,
E desconhecem as leis do retorno, e até a da gravidade.
Mas eu, que uma sepultura terei por moradia em breve,
Espero apenas que a morte a mim não entre em greve.

28/08/2019

Barata: Biografia Brutal

Barata: Biografia Brutal
(Um Falso Texto Sobre Pessoas Verdadeiras)
Barata Cichetto


Quem sou eu? Sou Barata porque assim me chamaram. Com minúsculas. Depois dei uma de bacana, criei um site e botei um artigo na frente e o substantivo transformei em nome e em adjetivo. Sou  Barata e fui batizado Luiz Carlos, pelo meu pai escroto que odiava o Prestes e quis se vingar em mim.  Sou Barata e mais que isso sou desigual. Feito barata branca, que é assim por ser albina. Sou diferente. Não busco a igualdade na humanidade. Ninguém é igual. Busco a desigualdade como fim social. Sou anormal. Já fui chamado de tudo: de filho da puta por ser um e de filho da puta de bom. "Ai quero mais seu filho da puta. Me fode, seu filho da puta!" Fui chamado Baratinha por amigos chegados e Baratão por amigas fudidas! Nunca fodi com amigas. Não misturo negócios. Casei quatro vezes. Todas as quatro de supetão. Elas queriam e eu não. Mas casei. Trepei. Fiz filhos que hoje chamam Lula de pai. Nunca fodi com viado. Nem dei o rabo, por falta de vontade. Ou seria de oportunidade, ainda não sei direito. De qualquer forma já fui chamado de bicha, de tarado, de viciado. Detesto maconha, mas já fui chamado de maconheiro. Sempre fui fiel a uma única puta. Acredito que nem todas as mulheres são putas, apenas minha mãe e as que se casaram comigo, ou que me deram a buceta. O resto são santas. Já fui cafetão. Já fui cristão. Nunca fui ladrão. Deus é uma piada de mau gosto. Nem gosto de piadas. Sou mal humorado. Fumo três maços de cigarro e com isso morrer de câncer é uma lógica. Mas quem sabe antes. De tiro na testa. Ou de desgosto. Sou anticomunista. Conservador no que me interessa conservar. Sou contra o aborto, mas por nenhuma questão religiosa. O corpo lhe pertence, feminista imbecil, mas a criança dentro da porra do seu útero não é corpo seu. Então, por que deu? Não é meu. Não fui eu. Fiz vasectomia aos trinta. Foda-se a humanidade. Sou misógino, misantropo e até miss Brasil se achar que isso não afeta sua autoestima. Me chamem do que quiserem. Não luto contra a humanidade, mas muito menos por ela. Sou individualista, mas não egoísta: aprenda a diferença crucial. Nunca fui crucificado, só apedrejado. Nasci no dia de Natal. Do anticristo. Mas não sou demônio. Sou um moleque de sessenta. Sou o que escarra na tua cara, o que cospe no próprio rosto e o que esporra na tua cara e depois te mostra a face no espelho toda gozada. Tem nojo? Então engole. Tudo. E ainda quer mais? Mais de mim? Vai comprar na padaria. Compra uma dúzia de sonhos, depois me lambe feito aquele creme. Como disse, sou Barata, mas não qualquer Barata, aquela sobe nas tuas costas e que voa no seu quarto numa noite escura. Te assusto? Não tenha medo. Mais que rima poética medo é um segredo que não se conta. O medo que se aponta. Esqueci-me de dizer que sou um bosta. E de quem gosta um manjar. Me chama pra jantar? Prometo me comportar. Sei usar os talheres. E prometo não peidar durante a janta. Só arrotar. Mas sei segurar a faca com a mão direita e o garfo com a esquerda. E diferenciar copo de vinho do de requeijão. Sou sofisticado quando quero. Não prometo mais nada. Nem que não vou querer te foder sobre a toalha de cetim quando acabarmos de jantar. Sou assim: uma agulha que pode te furar ou te costurar a pele. Bordar até. E prometo não te chamar de puta, não te chamar de santa. E nem de mãe. Prometo te chamar. Para ir beber, para foder, para conversar sobre teus gatos e nossos gastos. Falar sobre tua menstruação e minha constipação. Quero poder segurar tua mão para descer do ônibus e abrir a porta do carro, sem com isso querer te comer. Quero te comer sem precisar fazer nada disso. E fazer tudo isso apenas por querer. Gosto de te agradar. Sou saudosista. Queria estar à meia noite em Paris ou em Lisboa. Fumando ópio com Baudelaire ou na Tabacaria com Pessoa. Sou ator. Cantor. Sou idoso. Alto, magro e gostoso. Cabeludo e barbudo. Tesudo. Tenho pau grande. Gosto de oral. Lá e cá. Laika? Sou laico. Bardo. Tenho Facebook, Whatsapp, Instagram. Só não tenho dinheiro. Se cobra pra trepar eu pago com poesia. Ou com orgasmos líquidos. O que é a mesma coisa. Escrevo poesia com a língua na tua depilada. Ou com meu canivete nas tuas costas. Topas? Te espero na esquina. Só até amanhã. De manhã. De short desfiado com a polpa da bunda de fora. Sei esperar. Mas só um minuto. Quer um gozo líquido? Pergunte-me como. Enfim, sou Barata, já fiz de tudo. Até amor. Já fui tudo, menos santo. Já fui. Agora sou. E se quiser saber mais de mim veja as rugas no meu rosto, que são minhas cicatrizes. Atrizes do desgosto. Quer saber o que eu sou? Não seja eu e eu serei seu. 

18/08/2019

18/08/2018

O Gato Branco

O Gato Branco
Barata Cichetto
(Escrito para a coletânea da Editora Multifoco "O Mistério das Sombras")
“Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano – uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem.” Edgar Allan Poe
Imagem de DepositPhotos

Finalmente, trinta anos após matar minha esposa a golpes de machado, sai pela porta principal do complexo prisional. Mais de dez mil dias, em que cada um deles representou uma eternidade de  sofrimento. E muito mais perversa do que o tormento da lembrança do assassínio, era a maldição de ter que diuturnamente conviver com meu algoz, que por sua presença me fizera cometer um crime.

Acredito que conheçam minha história e os horrores que me acometeram após enforcar um maldito gato preto. Na mesma noite tive minha casa completamente destruída por um incêndio, o que obrigou a mim e minha esposa a mudarmo-nos para um porão imundo, onde outro perverso felino com uma maldita marca de enforcamento estampada na pelagem me atormentaria até quase a loucura. Por conta desse tormento, não me restou outra coisa a não ser o de exterminar o desgraçado. Mas, tomada por algum sentimento que desconheço, minha esposa se interpôs entre meu machado e a cabeça do infeliz, o que provocou sua morte instantânea. E, naquele momento, a única coisa que poderia fazer era apagar os rastros do meu ato, emparedando-a na adega. E não fosse o maldito gato, até hoje seus ossos estariam ali, atrás daquela parede. E eu não estaria também com meus ossos emparedados atrás dessas grades. Maldito gato!

Longos dez mil dias e noites em que nem por um minuto deixei de ser atormentado pela perversidade daquele episódio. Não que a culpa sobre o assassínio pesasse em minha consciência, pois que não fazia a mim mesmo nenhum julgamento. E não era também a saudade de minha esposa a atormentar-me, mas a presença constante daquele ser hediondo que, junto à grade de minha cela, me fitava com seus olhos demoníacos.

Não pensem que enlouqueci após tantos anos de prisão, não sonhei tão pouco, mas desde que fui apanhado pela policia e encarcerado, passei a receber a visita diária daquele infeliz bichano. Todos os dias ele ficava ali, na pingadeira da janela fechada por grades, com sua cabeça voltada para dentro de minha cela, imóvel, com seus olhos satânicos a me fitar desafiadoramente. Nem um som proferia, nenhum movimento fazia. Apenas ficava ali sentado, me olhando, rachando ao meio meu crânio de uma forma mais dolorosa do que eu fizera com o de minha mulher.

Em todas as horas do dia ele ficava ali, mas quando a noite chegava sua presença mais me apavorava, pois ao receber a luz da Lua, sua imagem era refletida, enorme, na parede sobre a minha cama. Uma sombra perturbadora, por conta da qual, por anos não soube o que era dormir. Permanecia a noite inteira deitado sobre o colchão, de olhos abertos, fitando aquela sombra, apavorado. Do lado de fora da grade da cela era apenas um gato e sua lembrança perversa, mas aquela sombra não, ela era real, enorme e perigosa. 

Tentei todas as formas que tinha para enxotá-lo, mas nenhuma surtia efeito. Ele continuava ali, estático, me fitando, me violentando, me condenando. Tentei pensar que era apenas o fruto de minha imaginação, que aquilo seria apenas uma alucinação causada pela culpa, e assim fazer com que minha mente simplesmente não despejasse a frente de meus olhos aquela visão. Mas de fato nada adiantava e, até corro o risco de dizer a cada tentativa de me livrar dele, piorava as coisas, pois a imagem refletida na parede se tornava maior, mais intensa e mais negra. Mais aterradora.

Assim foram todos os meus dias dentro do presídio. E esperava que ao deixá-lo, meu pesadelo continuasse confinado naquela cela, que ficasse para trás a sombra maldita daquele gato.  Entretanto não foi de fato o que ocorreu, pois meu pesadelo não acabaria, apenas mudaria de lugar. E de cor.

Ainda no dia em que deixei a prisão, decidi visitar o tumulo onde jaziam os restos de minha esposa. Ultrapassei o portão principal do cemitério e caminhava por uma estreita ruela de pedras soltas em direção aos túmulos, quando uma figura familiar passou correndo à minha frente, desaparecendo por entre os túmulos. Era um gato. E não era negro este. Enorme e peludo feito o outro, mas quase que totalmente branco. Pude perceber algo escuro ao redor de seu pescoço, mas como a aparição me surpreendera, não pude precisar o que era.

Refeito do susto, continuei a caminhar até chegar ao sepulcro, e tão logo o avistei, a cerca de cinquenta metros, minhas artérias congelaram. Aquele ser, que passara correndo à minha frente minutos antes, estava sentado imponentemente sobre a lápide, me fitando com ar soberbo e desafiador. Não preciso dizer que estremeci.

Decidi não sentir medo, ergui a cabeça, mirei o olhar do bichano e continuei meu caminho. O coração, entretanto, não concordava com minha decisão de serenidade e batia muito rápido. Mas tinha que ir em frente, ganhar aquela disputa. E ademais, eu tinha ficado paranóico com gatos, e aquilo decerto era apenas coincidência. Gatos adoram cemitérios, e afinal ele não era preto, mas branco. E isso era de importância fundamental.

Quando eu vencera cerca de dois terços do caminho, estando a cerca de dez metros, o gato ergueu-se, eriçou o pelo e soltou um miado alto e forte, desaparecendo. Pensei que de fato não era nada, que minha imaginação estava pregando-me peças. O bichano ficou com medo da minha presença e sumiu, foi o que pensei.

Confortado com minha conclusão, respirei aliviado e dei mais alguns passos até chegar junto a lápide onde estavam gravadas as datas de nascimento e morte da falecida. Entretanto, naquele momento senti um gelo a correr pela minha espinha e todos os pelos do meu corpo se arrepiaram, pois a sepultura estava aberta e em lugar do esqueleto seco de minha esposa, havia um outro, de um animal. O esqueleto de um gato.

Refeito do susto inicial, procurei a administração do cemitério e pedi explicações ao funcionário, que em principio duvidou da minha história e apenas após grande insistência me acompanhou e pôde perceber que realmente o tumulo tinha sido violado e os ossos roubados e trocados por ossos de gato. Ação de vândalos, com certeza, arguia o senhor de bigodes. Decerto alguma turba querendo fazer uma brincadeira de mau gosto, ou mesmo alguém revoltado com o hediondo crime que eu cometera contra uma mulher indefesa, fizera aquilo para dar-me um susto.

Prometendo investigar o acontecido, o funcionário providenciou areia, cimento e cal e pôs-se a fechar a sepultura. Ao lado dele permaneci em silencio, com a mente rondando meu passado e trazendo-me à memória a cena em que eu, usando dos mesmos materiais, tentara esconder meu crime.

Os dias seguintes foram de total terror. Com a idade tendo corroído minha vitalidade, sem trabalho e consequentemente sem dinheiro, passei o tempo esmolando para comer e dormindo sob marquises. Mas algo era ainda pior que a fome, a chuva e o frio, pois a todos os lugares aonde ia, aquela silhueta parecia me seguir. Furtiva, fazia sempre questão de estar ao alcance dos meus olhos.

Por um acaso do destino ou plano demoníaco, o único lugar que consegui como moradia foi o antigo porão, que fora o palco daquele teatro macabro que culminara com minha situação de agora. Tudo estava exatamente igual ao dia em que eu saíra dali algemado pelos policiais, acusado de assassinato. Quilos de poeira jaziam sobre os moveis roídos por cupins, mas eu precisava apenas de um lugar onde pudesse descansar e me esconder daquele pesadelo.

Tratei de trancar a porta da melhor forma que pude e deitei-me na cama, mas segundos depois, quando mal fechara os olhos, escutei um som, um ronronar. Ergui-me rapidamente e passei a procurar por todos os cantos sem nada encontrar. Bastava, entretanto que me deitasse e cerrasse os olhos, para que aquele som maldito explodisse em meus ouvidos. E assim foi durante os dias que se seguiram. Eu não podia mais dormir, não tinha ânimo e nem desejo de sair daquele lugar. E aquele som me mantinha acordado, dia e noite.

Uma semana depois não podia mais suportar aquela situação e, da mesma forma que antes, engendrei planos para capturá-lo, acabando de vez com aquilo. Mas nenhum era suficientemente bom. E enquanto matutava os dias foram passando, sem que eu conseguisse pensar em algo realmente eficaz.

Uma noite, tomado por extremo desespero, passei a caçar o gato por todos os recantos, seguindo o som do ronronado. Vislumbrei-o na escuridão, sentado sobre algo que não podia distinguir claramente. Acendi um fósforo e cai sentado ao perceber aquele maldito, confortavelmente assentado sobre a ossada de minha esposa, atrás da parede semidestruída.

Não preciso dizer que fiquei cego. Apanhei uma machadinha e passei a desferir golpes desesperados em sua direção, sem, conseguir acertar um que fosse. Depois de um longo tempo, sentei-me exausto e coloquei as mãos no rosto. Não podia mais suportar, tinha que acabar com aquilo. E apenas uma maneira existia.

Quando amanheceu o dia, apanhei ferramentas, cal, areia, cimento e os tijolos que estavam esparramados pelo chão e passei a construir outra parede, no mesmo lugar. Ao alcançar uma altura que ainda me permitia galgar, lancei para trás dela o restante do material e me esgueirei pela abertura. Passei as próximas horas a fechar com tijolos o restante da parede, pois a única forma de fugir daquele suplicio, era dar a mim mesmo destino que impusera a minha esposa e desaparecer para sempre daqueles olhos malditos. 

Tinha quase acabado, faltando apenas um tijolo para completar minha obra. Apenas um retângulo de cerca de vinte por dez centímetros era o que me separava de minha libertação. Abaixei-me e peguei o ultimo tijolo, mas ao erguer-me, com a intenção de vislumbrar a ultima réstia de mundo exterior, o que vi, espreitando por aquele buraco, foi o par de olhos, redondos e insanos, daquele gato branco.

11/01/2013

Ouça a Narração, Sonoplastia e Produção do Radialista Del Wendell:


27/03/2017

Barata, Que Bicho é Esse?

Barata, Que Bicho é Esse?
Foto: Marli Abduch

Barata Cichetto é o nome artístico do paulistano Luiz Carlos Giraçol Cichetto, poeta, escritor, artista plástico, produtor e apresentador de webradio e editor artesanal.  O apelido kafkiano de "Barata", surgiu em função de um site cultural de grande prestigio criado em1997, e nos primeiros anos do século XX, se tornou uma referência dentro do mundo do Rock e da Poesia.

Filho de família pobre, de italianos, desde garoto, em função de sua extrema timidez, buscou nos livros a companhia às brincadeiras e jogos a que os garotos da época preferiam. Segundo palavras do próprio, a respeito de seu ano de nascimento: "nasci no mesmo Ano da Graça de Cazuza, Madonna, Bruce Dickinson, Tim Burton e Michael Jackson." E nos primeiros anos da década de 1970, era comum encontrá-lo nas salas das bibliotecas públicas, onde começou a ler os clássicos, como Machado de Assis e Aldous Huxley. Ou em casas de amigo escutando discos de Rock, já que dinheiro para comprar livros ou discos não existia.

Começou a trabalhar com 14 anos, como office-boy onde conheceu as ruas escuras do centro de São Paulo e toda a fauna louca que por elas perambulavam nas madrugadas, particularmente as prostitutas de rua, que foram suas primeiras musas inspiradoras. Foi nessa época que conheceu a musica e a poesia do americano Lou Reed, figura fundamental no desenvolvimento de sua poesia, com suas histórias a respeito dos mesmos personagens que habitavam o mundo do adolescente Luiz Carlos. A partir daí, para a poesia de Augusto dos Anjos, Rimbaud, Baudelaire e outros "poetas malditos" foi um salto pequeno.

Nos anos seguintes, teve inúmeras profissões, como bancário e escriturário e todo o tempo e dinheiro livres eram gasto com livros, revistas e nos prostíbulos mais decadentes da região conhecida como Boca do Lixo, onde se concentravam também os estúdios de produtoras de filmes eróticos.

Em 1981, com ajuda de um casal de amigos, lançou seu primeiro livro, mimeografado, com o título de "Arquiloco", em homenagem ao poeta e soldado grego Arquíloco de Paros. O pequeno volume, assinado como "Carlos Cichetto", mereceu a atenção do critico literário do jornal Diário Popular Henrique Novak, um dos mais conceituados na época.

No ano seguinte conheceu sua primeira esposa como que se casou e teve dois filhos. Nesse período, para dedicar-se integralmente à criação dos filhos, deixou de lado a escrita, que só foi retomada por volta de 1996. A partir daí, como que procurando resgatar o "tempo perdido", sua produção passou a cada dia ser mais intensa e num ritmo cada vez mais frenético. E como qualquer expressão da natureza, tudo que é represado, um dia estoura e causa enchentes e tudo que existe em seu caminho é derrubado, carregado.

Durante o tempo em que esteve casado, trabalhou em inúmeras atividades profissionais, indo de desenhista mecânico a projetista de brinquedos e embalagens, até virar dono de uma escola de informática, nos últimos anos do século passado. Em 1999, mudou-se a trabalho para Belém, PA, onde permaneceu durante um ano. Essa passagem segundo ele teve efeitos determinantes de enorme peso, pois foi ali que tomou contato com uma cultura muito forte, cheia de contrastes, daquela cidade ao norte do país. Ali nasceu o apelido "Barata". E ali renascia o provocativo, irrequieto e determinado artista Barata Cichetto.

Em 2000 retornou a São Paulo, onde o já muito conhecido web site A Barata, foi motivo de reportagem e entrevista para o programa Vitrine da TV Cultura. A partir daí Barata começou a produzir eventos que envolviam as suas duas maiores paixões: Rock e Poesia. Foram dezenas, em casas muito conhecidas do publico roqueiro de São Paulo, como Led Slay, Fofinho e outras. A produção intelectual cresceu absurdamente, incluindo com a criação de revistas impressas e Xerox.

Em 2001 começou a trabalhar como "Manager" da histórica banda Patrulha do Espaço, onde foi responsável entre outras coisas pela produção artística de um CD da banda, o EP".ComPacto".  Ali, Barata conheceu todos os meandros e muitas histórias dos bastidores de uma banda de Rock, que culminou com seu livro mais vendido até agora: "Patrulha do Espaço no Planeta Rock", lançado em 2012.

Em 2004, depois de 22 anos, chega ao fim de seu primeiro casamento e nos anos seguintes, até 2010, passa por outros dois relacionamentos conturbados, mas que lhe rendeu material para centenas de seus poemas, que passaram por todos os sentimentos inerentes às relações de casais: da doçura à loucura; do prazer à dor. No final de 2009, conheceu sua atual companheira, Izabel, com quem se casou oficialmente em 2016, incorporando mais um sobrenome.

Em 2010, Barata escreveu o libreto e criou toda a concepção de uma Opera Rock: "Vitória, ou a Filha de Adão e Eva". Esse fato foi crucial em toda produção futura do artista, pois em função dela conheceu um dos maiores músicos do Brasil, de formação erudita e um dos maiores estandarte do Rock Progressivo no Brasil, Amyr Cantusio Jr., com quem faria outros dois trabalhos: o disco conceitual "Seren Goch: 2332" em 2013, e "Madame X - À Sombra de Uma Morta Viva", em 2015. 

A edição do libreto dessa Opera Rock, ensejou ao irrequieto artista, que buscava uma forma de publicar seus escritos, sem nenhuma porta de editora aberta, a criação de um de seus maiores desafios: a "Editor'A Barata Artesanal", criada no referido ano. A partir daí, a "editora", que embora use tal nome, se trata de fato de um trabalho de edição artesanal de livros, trabalhando com qualquer tiragem, passou a aceitar encomendas de outros escritores, tendo lançado até agora, em 2017, mais de oitenta títulos, incluindo 25 do próprio autor--editor, que se considera, de fato, um "artesão de livros".  Dentre esses títulos, o destaque fica para livros sobre filosofia e ocultismo do parceiro Amyr e livros sobre o mundo da Beatlemania, escritos em italiano pelo musico milanês Alex Schiavi, de Milão. Todo o trabalho, da editoração a montagem final do livro - costura e colagem manuais, é feito inteiramente pelas mãos hábeis do editor-poeta, ou poeta-editor, concedendo a cada exemplar do livro, um quê de personalização impossível de ser conseguido em qualquer esquema tradicional de editoras.

A produção literária de Barata Cichetto inclui 13 livros de poesia e 12 de contos, crônicas, ensaios e até uma auto-ficção chamada "Barata: 40 Anos de Sexo, Poesia e Rock'n'Roll". Todos esses livros, com exceção de um "Cohena Vive", que foi lançado pela Editora Multifoco, do Rio de Janeiro, foram lançados pela sua Editora. Seu penúltimo livro de poesia, "Troco Poesia Por Dinamite", tem o prefácio do cofundador d banda Titãs, Ciro Pessoa.

Em 2008, outra habilidade do polivalente artista desponta, com um convite para produzir e apresentar programas em uma webradio. O rádio sempre fez parte de seu cotidiano, e era um antigo sonho, propiciado com a era da Internet, que simplificara e abria oportunidades a pessoas de fora dos meios tradicionais do esquema das grandes rádios. Desde então, Barata passou por várias webradios, sendo que entre 2011 e 2012, criou um projeto próprio com o intuito de fazer algo diferente do esquema, que seguia os antigos padrões das rádios "tradicionais". Nascia assim a "KFK Webrádio, com o "slogan" "a rádio que toca idéias". Por falta de apoio financeiro, a webradio foi extinta, mas retorna agora no inicio de 2017, com seu projeto inicial preservado, mas contando com novas tecnologias e ideias reformatadas e outras criadas.

No final do ano de 2016, incentivado pela artista plástica gaúcha Nua Estrela, Barata começa a produzir pinturas, algo que sempre achou impossível de realizar. Em três meses, Barata pinta mais de 80 quadros, tendo como temas principais, mais uma vez o seu trinômio vital: Sexo, Poesia e Rock'n'Roll. Suas pinturas chamam a atenção não apenas pelos materiais usados, como tinta látex de parede sobre papelão, mas pelos temas polêmicos.

Aos cinquenta e oito anos de idade, Barata Cichetto mantém um olhar crítico apurado sobre a sociedade moderna, buscando transmitir em suas diversas formas de arte, toda sua perplexidade diante de um mundo que chega cada dia mais perto do abismo fatal, segundo ele. É um livre pensador, que tendo passado por inúmeras correntes políticas, atualmente se define como um "conservador liberal".  Acredita que a chamada "arte social" é uma falácia, pois é a arte, segundo ele, "algo feito do individuo para o individuo", e que "essa coisa de arte coletiva é uma absoluta mentira, uma farsa pregada pela onda politicamente correta que é alimentada pelo pensamento esquerdóide para enfraquecer o verdadeiro poder da arte, que é o único de fato revolucionário."

Sobre o poeta Barata Cichetto, Amyr Cantúsio Jr. - Músico, Teósofo, Compositor, Filósofo, de Campinas, SP diz: "Posso enfatizar que Cichetto é o Dante, Milton, Boca do Inferno e Blake resumido da literatura nacional!". Já o Professor-Doutor em Arte de Goiás e artista multimídia Edgar Franco afirma: "Barata Cichetto é um poeta visceral, com uma peculiar e louvável visão da vida e dos caminhos e descaminhos de nossa espécie, belamente radical diante do bundamolismo vigente e da ditadura do politicamente correto que inunda as mídias e a cultura...".  Smail Della, artista plástico: "Homens a frente do tempo, sempre vão existir. Raros, mas sempre existirão e eu tive sorte de nessa vida poder conhecer essa praticante da Arte... Incansável, persistente, guerreiro na estrada.". Mas é o trecho inicial do prefácio escrito pelo ex-titã Ciro Pessoa, o que demonstra quem é realmente o poeta Barata: "A sensação que tive ao terminar de ler 'Troco Poesia por Dinamite' foi a mesma que alguém deve ter após sobreviver a um intenso bombardeio. Ou a atravessar um extenso campo minado e conseguir chegar do outro lado razoavelmente intacto. Porque a poesia bélica de Barata Cichetto é semelhante a um míssil cortando a noite anestesiada e explodindo no centro do comodismo mental e comportamental que tão bem caracteriza este irritante e retrógado começo de século XXI."

Por fim, Barata é um assíduo usuário de mídias sociais, procurando retirar delas algum resquício de debate inteligente, e um veiculo eficaz para a transmissão de suas idéias e projetos artísticos. E dentre seus projetos para o ano de 2017, estão o lançamento de dois romances, um livro de aforismos e mais, quem sabe, algumas dezenas de pinturas. "O dia em que parar de criar, estarei morto, mesmo que vivo." Arremata.

17/02/2017

23/01/2016

Outro Desabafo Inútil

Outro Desabafo Inútil
Luiz Carlos Cichetto
Dias atrás postei no Facebook um texto-desabafo sobre o destino de artistas que, como eu, são ignorados pela imensa maioria das pessoas, mas que teimam em continuar com sua arte. Entre "curtidas" diretas à postagem e compartilhamentos, chegamos a mais de 100.. Puxa, dirão alguns, é bastante... Bem eu tenho 2.200 "amigos" no Facebook. Então, matematicamente esse numero é ridículo. Acontece que estou acostumado a números ridículos. Mas acima de ridículos percentuais, acima de ridículos interesses, existe algo que muito me deixa perplexo, é saber do conformismo da maioria. Mesmo entre aqueles que concordaram comigo, a maioria ainda acredita que "é assim mesmo, o que podemos fazer?" O que pode fazer? Tem muito o que podes fazer. E garanto que a própria pergunta já é em si confissão de conformismo. Desânimo, claro, existe. Mas entre as pessoas que se conformam, e que com seu conformismo nos mantém com a cabeça enfiada na merda? Essas pessoas que se conformam nos mantém na miséria, sem sequer o conforto de uma palavra, de um elogio... Para não falar que a imensa maioria desses conformados, não compram nossos livros, CDs ou quadros. Não querem, muito mais do que não podem. A maioria, e tenho exemplos bem próximos que me provam isso, usam o "não posso" como desculpa para "não quero".

Falando por mim, estou acostumado a ser ignorado. E o fato de afirmar que estou acostumado a isso não quer dizer que me conformo. Até pessoas mais próximas silenciam à simples menção do meu trabalho literário... Não gostam? Ah, sim, há muitos palavrões no que escrevo... É isso? Claro que não. Quanto muito uma desculpa.. Mas, fico me perguntando: desculpa para o quê? O que faço é ruim? Minha poesia é ruim? Não, ela não é. Tenho consciência disso, tenho senso crítico apurado. Então, qual o motivo real? Nunca perguntei diretamente talvez por medo da resposta (?)

Ah, sim, as mesmas pessoas que criticam meus palavrões - o que é de uma hipocrisia filhadaputa - assistem programas violentos na televisão, por exemplo. E até expõem seus filhos a isso com uma normalidade absurda. Isso é: sangue e porrada na tela da TV pode. Gente se arrebentando na pancada pode. Palavrão não pode... E se acham donos da cultura. A maioria são fantoches criados nos laboratórios das faculdades.
E antes de terminar um adendo: não cursei nenhuma universidade, sequer o ensino médio, mas me orgulho sim dos livros que li, das putas, das bichas e das ex mulheres com quem aprendi o que sei. E de transportar esse mundo através da minha história para os meus poemas. Do que vocês tem medo, afinal? De mim? Ah, não tenham medo de mim e não me ignorem para tentar afastar de si o espelho. Não tenham medo do espelho.

22/01/2016

O Cordel Em Ritmo de Rock de Jorge Bandeira


A primeira vez que tomei contato com um texto do escritor, professor e diretor de teatro Jorge Bandeira, foi procurando textos na Internet sobre o líder-fundador do Pink Floyd Syd Barrett.

Um primoroso texto, escrito em parágrafo único, com uma "viagem" psicodélica que versava sobre Karine, a namorada naturista do musico inglês, que cuja foto nua ao fundo era a capa do seu primeiro disco solo.

O primoroso texto, publicado num site sobre naturismo e dedicado "a um floydiano chamado Genecy", me chamou tanto a atenção que deixei marcado nos favoritos do meu navegador e vez ou outra voltava e o relia, percebendo a nuance das cores apresentada, e os detalhes desnudados, literalmente. Isso foi por volta de 2010.

Alguns meses depois, quando eu escrevia alguns textos polêmicos no site de Rock Whiplash, travei amizade com Genecy Souza, que logo percebi ser um sujeito de refinado gosto por musica e dono de um bom senso a toda prova. O nome, um pouco estranho me bateu quase que de imediato, como a quem o texto do Bandeira era dedicado.  Era o próprio.

Por intermédio dele, fui apresentado (da forma como alguém é apresentado a outro alguém em uma rede social) ao Jorge.  Nascia ali uma amizade, uma parceira enorme que incluiu a edição de dois livros por parte da Editor'A Barata Artesanal, e a participação como  colaborador em todos os seis números de uma revista independente que eu criei no final de 2013e que durou 2 anos.

A marca de Jorge, além de outros textos, era justamente esses textos, em literatura de cordel, contando a história de ídolos do Rock e da musica em geral. Os seis primeiros cordéis foram publicados na revista, os demais criados especialmente para este livro.

Literatura de cordel é tida como algo menor, ao menos por aqueles acostumados à "grande" literatura urbana, como algo ligado à algo puramente "brasileiro", sem estrangeirismos. Então, ao misturar o mundo do Rock com o mundo da literatura de Cordel, Jorge Bandeira cria uma salada cultural  sem similares, com o sabor acre da literatura predominante no nordeste e norte brasileiros, com o sabor, digamos amargo do Rock. O resultado? Apreciem.

Luiz Carlos Barata Cichetto, Escritor e Artesão de Livros, 2016.

12/10/2015

Manifesto Anartista

Manifesto Anartista
Luiz Carlos Barata Cichetto
Foto: Marli Abduch

Não, não sou famoso. Não tenho peças encenadas no Inferno. Nem no Paraíso. E não tenho carro, nem dinheiro. Não frequento cemitérios. Não passo a madrugada bebendo em botecos do centro da cidade. Não frequento a periferia descolada. Não tenho retina deslocada. Não durmo bêbado todo dia, nem jogo bilhar no bar com um garçom engraçado e duas putas desgraçadas. Não dirijo. Nem carro nem cinema. Não tenho direção Sou apenas um escritor, medíocre e amargurado pela falta de oportunidades. Meu underground é minha oficina, onde apenas minhas gatas me fazem companhia. Fumo nicotina e não suporto cheiro de maconha. Pago impostos, mas não peço nota fiscal. Ando de ônibus e a pé. Adoro sandálias de couro e uso calças rasgadas por falta de outras. Não frequento festas, não olho por frestas. Nunca tomei tiros. Nem dei. De nenhuma espécie. Não sou convidado de gala em lugar nenhum. Apenas escrevo, escrevo, escrevo. Feito cagar e mijar. Sem frescura. Adoro transar. Por prazer. Não por vício ou vaidade. Por necessidade. E vontade. Adoro chupar uma buceta, comer um cu. Chupar e ser chupado. Mas não conto a ninguém. Conto apenas agora. Em segredo. Acordo com medo. Durmo cedo. Sou artista. Anartista. Sou honesto. Mas detesto. Não presto. Busco a razão da minha emoção. Odeio esportes. Nunca ganhei nada. Tenho um metro e oitenta e sete. Sessenta e nove quilos. E quase cem quilos de poemas encadernados com espiral de plástico. Não sou convidado a vernissages.  Ou sou. Não vou. Ninguém sente falta. Também não sinto. Nada. Foda-se o underground glamourizado da Rua Augusta, Frei Caneca e Praça Roosevelt. Foda-se o underground da pastelaria. Do pastel de bacalhau do Mercado Municipal. A vodka batizada do Bar do Bin Laden. Foda-se. Não vou ao teatro. Não tenho tempo. Nem dinheiro. Nem desejo. Meu teatro assisto da minha janela. Putinhas de minissaia. Senhoras mal comidas falando mal dos maridos a amigas que são comidas por eles. Gostosinhas de shortinho enfiado no rabo. Bichas velhas de unhas do pé pintadas de vermelho. E vestido de alcinha. Esse é meu teatro. Escrevo a madrugada inteira. Durmo de manhã. É cedo ainda. Morrer é frio. Esse é meu Manifesto Anartista. E em nome de todos aqueles que falam por mim é que falo.

10/10/2015

Publicado Originalmente no Facebook, em 10/10/2015
https://www.facebook.com/notes/luiz-carlos-barata-cichetto/manifesto-anartista/1268991423117825

05/10/2015

2107 - Uma Reflexão Sobre Representação da Realidade

2107 - Uma Reflexão Sobre Representação da Realidade
Luiz Carlos Barata Cichetto
Reprodução Proibida. Direitos Autorais Registrados.
Foto Original: http://wallpaperdome.com/data/media/1/smoking_kills_wallpaper.jpg

Acordar em plena segunda-feira, com Internet cortada, sem um cigarro para fumar, nem um pedaço de nada para comer. A semana anterior foi de muito trabalho. Uma média de dezesseis horas por dia cortando papel, dobrando, costurando, colando... Arrastando um carrinho pesado que quebra a roda no meio do caminho até a gráfica. Terminar uma obra, mais uma Ópera Rock. Sobre uma morta-viva. Escrever uns dez poemas, montar programa de rádio... Tudo isso com o ciático fudido e dores de cabeça diárias por enxaqueca nervosa. Quatro encomendas de livro prontas, ou quase prontas. A Ópera escrita por mim, composta por Amyr, em parte cantada pela Liz. E nada, nenhum dinheiro. Ah, sim, tomei no cu com um filho da puta que me sacaneou. Mais um! Li um livro do Bukowski também. Nada ver comigo o Buk. O sujeito conseguiu ser valorizado em vida, ganhou uma grana. Ah, e ainda lembrei: comecei a imprimir outro livro, o meu tal Manual. Está na bancada. Um dia sai. A gente escolhe os caminhos, é sempre assim. Eu escolhi. Todos escolhem. Ninguém é escolhido, por nada nem por ninguém. Queria fazer como alguns que conheço e ficar falando do meu ultimo porre, de ontem a noite, da minha ultima estreia. Da minha ultima festa. De que comprei ingresso para assistir um astro do Rock. Mas a minha realidade é outra. Não sou astro pop do underground, nem do overground, nem de ground nenhum. A noite tive dor de dentes... Nos que ainda restam.. Ah, então, preciso parar de me lamentar. Afinal, Rede Social nem é tão rede e nem tão social assim. Dois mil cento e sete amigos. Puxa, que legal! Escrevo isso enquanto penso sobre o que pensam esses dois mil cento e sete. O que pensam ao menos uns sete desses. "O inferno são os outros"? As gatas berrando. Querem ração. Não tem. E eu? Quero fumar! E escrevo para me lembrar que ainda tenho muito o que pagar. À prestação. À prazo. À vista. Cheio de imitadores de Bukowski achando que são os batutas. Mas são mesmo é filhos da puta. Ah, tá, Buk era um filho da puta. Eu sou também. Quem não é?  A literatura  é representação da realidade. Assim disseram. Para mim não é. É a própria. Faço isso agora. Não escrevendo sobre minha realidade, que isso seria uma mera representação, de fato, meu amigo Eduardo já disse. Mas criando minha realidade a partir da minha literatura. Há teorias comprovadas sobre isso? Que péssimo! Teorias comprovadas deixam de ser teorias. Teorias irrefutáveis? Idem. De fato não existe comprovação de nada, tudo é teoria que não se comprova. A própria vida é uma teoria. Aquilo que chamam de viver é apenas ilusão que tenta comprovar uma teoria que não pode ser comprovada. Meras ilusões. No início disso, eu representei uma série de realidades? São representações? Quantos amigos ainda poderia contar se acabassem as Redes? Tudo é falso? Tudo é ilusão? Tudo é mera coincidência, rara convergência, divergência, parda eminência? Experiência? Que comece a audiência no tribunal. Ou no fundo do quintal. (Quero fumar, porra! Mas é proibido em qualquer lugar. Ah, é proibido: não tenho dinheiro) O estomago roncando. As gatas ronronando. E eu feito um idiota, escrevo um monte de merda e coloco na Internet.. Ah, coloco quando pagar a conta. Pago a conta da Internet ou compro cigarro, comida para as gatas ou meia dúzia de pães? A cruel duvida dos seres humanos do século XXI. Consegui um cigarro emprestado: vou fumar depois devolvo. O filtro. Fumar é bom, tira a sensação de fome. Ainda tem um resto de café na garrafa térmica. De ontem. Mas é café, porra! Ah, mas eu não devia me expor assim, ficar peladão na Internet... Tá todo mundo olhando, né? E tem gente me achando um idiota por estar falando tudo isso. Falando não, escrevendo. Ah, mais isso quem chegou até esse ponto, que reconheço que um texto desse, poucos, pouquíssimos mesmo dos dois mil cento e sete irão ler. Aumenta a inflação, contas de energia e de água. Ah, sim, minha mãe ainda acha que preciso cortar a barba e o cabelo e arrumar um emprego fixo, numa empresa de telemarketing ganhando um salário mínimo de duzentos dólares atendendo uma série de cretinos consumidores vorazes de celular. "Bom dia, senhora. Meu nome é Barata, no que posso ajudar?" Nada contra trabalho algum. Minha mulher adora trabalhar em "atendimento ao cliente". E fica feliz com seus duzentos dólares. Mas esqueci que tenho deficiência de audição de tanto escutar Rock e de de tanto tapa na orelha que tomei. "Tem cigarro aí?" "Tenho, mas vá fumar de outro lado, por que dois caras fumando juntos pode ser muito arriscado" . Não, eu não quero parar de fumar. Gosto de fumar. Tenho direito de gostar. Ainda bem que o estômago parou de roncar. Só não passa a maldita (?) vontade de fumar. Ah, minha querida poeta, sinto saudades das rimas que deixamos de fazer. Por lazer. Ou pura safadeza mesmo. O desejo nem sempre é tesão. Sexo nem sempre é bom. Claro! Gozar nem sempre é gostar. Foda-se, que tenho quase sessenta e daqui a pouco estarei igual meu pai, de andador, insuportável e quase morto, mas mantendo a arrogância. Quero morrer antes disso. Hoje tenho dois mil cento e sete amigos, mas tive menos e tive mais. Muitos morreram. Paulo, Percy, Helcio, Humberto. Muitos morreram com menos idade.  Dias atrás, um de meus filhos me disse que minha geração era de mimados. Ora bolas, nunca escutei tamanha asneira. Minha geração, nascida cerca de - apenas - dez, quinze anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial,  juntamente com o Rock criado justamente por pessoas que nasceram durante ela, viu todos os seus sonhos demolidos no nascer. Uma geração de natimortos, que foi criança, adolescente e adulto, vivendo em uma nação comandada por um Regime Militar. Uma geração que teve que cedo trabalhar, que sofria violência institucionalizada nas escolas e mesmo dentro de casa. Uma geração que não tinha acesso a informação se não comprasse um jornal, que não tinha acesso à cultural se não andasse quilômetros a pé até uma biblioteca. Uma geração que nada podia, que nada tinha, mas que tudo sonhava. Uma geração que tinha sonhos e ideologias, que acreditava, sim, no socialismo como saida humana, ou humanizada, de governo. Que acreditou nisso, sim, e que depois viu sua crença, seus sonhos, se desfazerem na ganância pelo poder. É essa a geração mimada? Sim, sou a geração dos culpados, sim. Dos culpados por justamente dar a esses que mais defendem essa ditadura do pensamento, do politicamente correto, a base tão sonhada pelos construtores do pensamento "esquerdista". Sim, somos culpados disso. Na ânsia justamente de dar uma educação liberal a nossos filhos, o que fizemos foi justamente dar a faca e o queijo a esses ideólogos para levá-los às suas hordas. As escolas fizeram isso. E nós permitimos. Fomos cúmplices e agora somos culpados. Não fujamos disso, dessa responsabilidade. Sempre escutei de parentes mais velhos que eu era liberal demais na educação de meus filhos. Pouco tempo depois, passei a escutar deles que era um ditador... Ora, ora, ora. Somos, portanto heautontimorumenos, ou seja, verdugos de nós mesmos. Geração mimada? De que geração falamos? Não seria esta, nascida nos anos oitenta, que já cresceu com videogames modernos, computadores, Internet e todas as liberdades de expressão? Qual é a geração mimada senão essa e as posteriores, que aprendeu nas escolas e nas oficinas do poder a saber e exigir seus direitos, nem sempre apenas seus, mas esquecer de exercer o contraponto justo e necessário do dever? Que geração é a mimada a ponto de não ter respeito - propositalmente confundido com autoridade - por nada nem por ninguém, a não ser pelos próprios desejos? Que geração foi mimada a ponto de não assumir seus próprios erros e difundir na marra ideias coletivos em detrimento do individuo? A minha geração foi maldita, sim. E é! Uma geração que fica no limbo entre os que nasceram durante a Guerra e criaram as maravilhosas obras culturais, especialmente na musica Rock, que todos admiram, e a essa, que nós próprios construímos, e que nos socam a boca e nos acusam de mimados. A geração Internet, "geração Coca-Cola" de fato triunfou. A imbecilidade está organizada, é uma facção criminosa organizada. A Internet é a socialização da mediocridade, da voz aos que nada tem de importante a falar. A ditadura da mediocridade. A ditadura da estupidez. A mentira repetida e aceita, o pensamento pueril tido como genial, a troça, a violência contra aqueles que não pensam igual. O preconceito contra o preconceito. Tudo é aceito. Refeito, desfeito e ninguém sabe nada além do que querem que saiba. Meras coincidências, bobos da corte pensando que podem comer a rainha num baile funk. E podem. Escrevo sem parágrafos para que o leitor não tenha tempo de respirar. Nem pensar. No meio de tudo, entre as palavras existem espaços suficientes para isso. Escrevo isso na Internet e publico assim que pagar a conta. Mas antes preciso comprar cigarros. Fumar. Nicotina e café. Sim, são minhas drogas. Preciso disso para me considerar humano. Demasiadamente humano. Mas perigosamente desumano. Quero fumar. Só isso! Andamos em círculos, existimos em ciclos. Não há outras figuras geométricas. Não existem quadrados, nem retângulos, ou triângulos. Tudo são círculos. Quadrados, triângulos e retângulos são circulos de cantos retos. Mas, a improbabilidade da existência de círculos perfeitos, torna a existência humana uma elipse. Ah, e não vou avisar que esse texto é longo. (Fazem isso com textos de quatrocentos caracteres). Ele tem apenas duas páginas. Garanto que dá para ler no tempo de fumar um cigarro.

05/10/2015

22/09/2015

Manual do Adultério Moderno

Manual do Adultério Moderno
Barata Cichetto
160 Páginas
Formato Bolso (11 X 18 cm)
Editor'A Barata Artesanal
R$ 45,00 (Correio Incluso) (Preço de Pré Lançamento)
Pedidos: barata.cichetto@gmail.com
(11) 9 6358-9727
- EDIÇÂO ESGOTADA -


O Manual do Adultério Moderno não é um manual de práticas, mas um monólogo-poema épico-erótico-herético foi escrito em um só fôlego,num parágrafo único, sem vírgulas e sem exclamações, no final do Inverno de 2015, é um tratado esquizofrênico sobre o conceito de adultério. Conceito? Ah não. Confeito! Com efeito! Por direito.

O autor sugere que a leitura seja feita em meio a uma orgia sexual. De preferência num puteiro.

Luiz Carlos Barata Cichetto
Poeta, Philósofo e Putanheiro

21/06/2015

Ainda a Vontade de Morrer

Ainda a Vontade de Morrer
Luiz Carlos Barata Cichetto

Ontem tive vontade de morrer, outra vez. Vontade de morrer outra vez, este mês. É o que me move na vida, essa vontade de morrer, de correr aos braços da morte sempre que me sinto em perigo. Insano isso? Fuga impossível, acredito. Lendo "Tabacaria" de Pessoa e pensando o quanto é uma merda tudo isso. Lembro de tudo o que escrevi, quilos e quilos de papel, mais uma milhar de poemas, a grande parte enormes tratados sobre a mente humana, sobre mim mesmo. Mas o que importa toda essa papelada, quando dentro em pouco estarei mesmo morto. Talvez minha poesia sobreviva um pouco. Um geração quem sabe. Lembrarão dela, mas não de mim, até não lembrarem mais de nenhum dos dois. O papel, aqueles quilos, irão amarelar, apodrecer. Os bites e bytes dos computadores onde foram escritos serão corrompidos. Ah, os vírus de computador, os vírus humanos, os germes. E não sobrará mais computadores e nem minhas lembranças neles registrados. Pensamentos agora não duram mais que um dia.. Menos.. Quinze minutos de fama, como disse Warhol, é o que dura qualquer filosofia mais alta ou rasteira. Ah, que lástima! Ontem tive vontade de morrer... Outra vez... Mas acho que vou aproveitar o sol de hoje e viver um pouco.

Publicado Originalmente em: https://www.facebook.com/notes/luiz-carlos-barata-cichetto/ainda-a-vontade-de-morrer/1193808993969402

Respeito é Um Bem Individual, Único e Essencial!

Respeito é Um Bem Individual, Único e Essencial!
Luiz Carlos Barata Cichetto

É preciso que acatemos calmamente e de cabeça baixa todas as maldades perpetradas de pais contra filhos e de filhos contra pais? Aceitar calmamente toda a estupidez, burrice e censura sob a égide do politicamente correto? Toda a malversação dos direitos individuais sob a desculpa do bem coletivo? Aceitar a mudança de valores morais é necessária, desde essas mudanças não sejam impostas na marra sobre quem não as aceita. Sua efetivação se dá com o tempo e baseada nos valores individuais. Fora isso é ditadura. Não estou nem aí para o conceito de família tradicional, embora até goste de sua estrutura... Em teoria... Foda-se se uma família é formada por um macho e uma fêmea, dois machos, duas fêmeas, quatro fêmeas e oito machos, um ancião e uma ninfeta. E isso entre cores, espécies e crenças de qualquer gênero. Agora, o que é necessário, e disso não se pode abrir mão é do RESPEITO. E não apenas de fora para dentro, como é brandido e estandartizado pelos moderninhos, mas, e principalmente, de dentro para fora e dentro deles próprios. Há quem diga que RESPEITO se conquista, mas de fato RESPEITO é a única regra que vale. Não se trata de conquista ou de valor, social ou moral. E, ao contrário dos valores coletivistas, estúpidos e mentirosos, o RESPEITO começa e reside sempre no individual. RESPEITO é individual. Portanto, o que temos, e que se não tiver um freio, uma parada para reflexão sobre esse valor ÚNICO e INDISPENSÁVEL, estaremos condenando a espécie humana ao fim. As cenas que presencio em todas as partes da cidade, e que muitos podem ser classificadas de formas diferentes, dependendo da visão política ou religiosa de cada um. Mas eu, que me sinto livre o bastante (apesar de nunca se ser livre o bastante), dessas visões maniqueístas, pobres e estúpidas, classifico apenas de uma forma: destruição do único valor essencial: o RESPEITO. Claro que isso tem um objetivo, claro que isso faz parte de um jogo de poder monstruoso e serve aos propósitos de dominação, cujos lideres pretendem que nada abaixo deles seja respeitado, que a única coisa que mereça respeito são eles. Disfarçam isso de "luta" social, igualdade racial, direitos humanos e toda uma série de "keywords" que agem de dentro para fora e transforma a todos em marionetes, em títeres manipulados por cordas invisíveis. A ilusão da liberdade é a pior forma de escravidão. Nada precisa ser respeitado a não ser o que querem que seja e que sirva a seus propósitos. "People have a power"? No! O povo não tem o poder. Ao menos até que tenha consciência. E consciência se adquire através de vários meios. Um deles é a cultura e informação, manipuladas quase que na totalidade pelos detentores do poder, que se encontrem em estágios superiores à ideologias ou dogmas, a não um ser um único: PODER. Não é pelo dinheiro, que o dinheiro é apenas o meio necessário. É o PODER. E esse PODER é exatamente o contraponto ao RESPEITO. O coletivo é amigo do PODER e inimigo do RESPEITO. RESPEITO É UM BEM INDIVIDUAL!

20/06/2015
Publicado Originalmente em: https://www.facebook.com/notes/luiz-carlos-barata-cichetto/respeito-é-um-bem-individual-único-e-essencial/1195045963845705

17/11/2013

Syd Barrett Não Mora Mais Aqui!


Syd Barrett Não Mora Mais Aqui!
Luiz Carlos Barata Cichetto
Ano: 2013
Edição: 1ª
Formato: 14 X 21
Gênero: Cronicas
Páginas: 288
Preço: R$ 40,00 + Frete 
Editora: Editor'A Barata Artesanal
49 crônicas e artigos sobre Rock.

Trecho
Syd Barrett criou a essência do Pink Floyd, mas depois não coube mais dentro de sua própria criação. Aquilo era pequeno demais para caber sua genialidade. Syd Barrett era maior que o Pink Floyd. Sempre foi e sempre será. Segundo conta a história, ou melhor, contam os remanescentes da banda, Syd foi colocado de escanteio por causa de sua "deterioração mental". Afinal, aprisionar aquela gostosa da Karine (a peladona que aparece na capa de “Madcap Laughs” era a namorada dele na época) num apartamento e lhe passar bolachas por baixo da porta era coisa de doido mesmo. Aparecer no palco com a cabeça cheia com uma pasta de comprimidos é coisa de maluco mesmo. Ficar tocando uma nota apenas na guitarra, então, isso é coisa de doente mental.

Mas Roger Keith Barrett não era maluco, maluco eram eles. E sabiam disso. Tanto sabiam que continuaram a usar as idéias digamos pouco ortodoxas de Syd em um monte de discos que seguiram a saída dele. "The Dark Side Of The Moon", segundo Waters e Gilmour era uma homenagem a ele, pois "apenas os lunáticos podem enxergar o lado escuro da lua". Lunático? Syd era lunático? Claro que não. Chamar Syd Barrett de lunático é o mesmo que chamar Freud, Schopenhauer, Da Vinci, Einstein também de lunáticos.

Um sujeito que pegou o Rock e disse: "Ok, vamos à lavanderia!". Que pegou as experiências sonoras de John Cage (outro lunático?), colocou uma pitada de musica erudita, um quilo de Rock'n'Roll, bateu num liquidificador mental e transformou essa pasta num belo e florido Elefante Efervescente. Um elefante que esmagou os conceitos sobre música para sempre. Não era um maluco, nem doido, nem doente mental. Era um gênio. E a história da musica deverá ser escrita no futuro da seguinte forma: AB/DB, ou seja, Antes de Barrett e Depois de Barrett.

PEDIDOS: http://abarata.com.br/livros.asp?secao=L&registro=1

13/11/2013

E Este Aqui? Ainda Sou Eu!

E ESTE AQUI?  AINDA SOU EU!
Luiz Carlos Barata Cichetto

E este, assim, sou eu: esfarrapado. Desdentado, roto, maltrapilho e ferrado. Sem eira nem beira, à beira de um ataque... Do coração. Assim, este aqui sou eu, lúcido, translúcido e cristalino. Nem preto nem branco apenas humano. Apenas um, humano ser. E este, que não dorme nem sonha, este aqui sou eu. Maquiavélico, maldoso, cuspidor e punheteiro. Sou eu. Assim! Assim, este aqui sou. Eu? Sou o que sou e não onde estou, porque os pés são mais importantes que o lugar, parafraseando toscamente ao Franz. As vezes as noites são curtas demais e os dias longos demais... Mas para todos esses casos, há a poesia. To buy or not to be.. this is the really question. E este, ali adiante, também sou eu. Refletido num espelho quebrado, invertido, rachado e empoeirado. Eu, apenas eu. Que pensou que eram doces as uvas. E percebeu que eram frutas as vulvas. Ou seria o contrário? Metralhadoras não cospem doces, putas não fedem perfume e eu, este que sou eu, ainda sonha. Perdido, fedido, fodido e mal pago! Eu, apenas eu e ninguém mais. Quem mais seria? E ainda pergunto: quem sou eu? Eu mesmo? Quem? Quem dá mais... Quem dá? Pra mim? Quem dá pra mim? Quem pra mim dá, empresta aos deuses... Então... Dá pra mim? A mim. Este que sou eu, esfarrapado, desdentado, punheteiro, duro e safado. Quem dá mais? Leilão de poetas e de poesia. Quem dá mais? E eu, eu mesmo, este mesmo, que não fede, mas não cheira... Que não cheira nem fuma... Maconha. Marlboro e café... Tem cigarro aí, Rogério Skylab? Ele me disse, tome um cigarro, mas vá fumar em outro lugar, porque quem fuma junto conspira, inspira e aspira. Ontem peguei um caminho. O caminho mais rápido era de Metrô, mas não era linha a 743, Era a estrada 666, estrada da dor, Facção Central, Central do Brasil, Brasil Central. Onde é que está meu Rock'n'Roll? Ah, foi ao Inferno, mas ao contrário do Poeta ainda não voltou. E este aqui sou eu, sem tirar nem por... Pondo e tirando, pondo e tirando, pondo e tirando... Gozei! Tirando o tirano, este aqui sou eu! Algo em mim está morto e eu não sei quem fui. Morto e torto. Torto? E o porto, como fica nessa rima? Porto... Alegre... As praças de Quintana... Um dia chego lá... Em Porto... Alegre? Triste ou alegre eu chego lá. Tem tanto bêbado e tanta puta na estrada que é capaz de eu não chegar. Ao porto.. Aporto... Aeroporto, espaçoporto. "Não fique triste, venha ser minha..." Cantou Luiz Carlos, o Porto! O Peso... Pesa muito? E este ainda sou eu... Ainda sou. Eu? Este aqui ainda sou... Ainda somos? Eu, paranóico, paródico, esquizofrênico. Eu? Ainda eu. E mais ninguém...

13/11/2013

04/11/2013

Quarenta Anos de Poesia ou Vênus em Fúria

Quarenta Anos de Poesia ou Vênus em Fúria
Luiz Carlos Barata Cichetto

No início de 1973, quando eu tinha 14 anos de idade, e já rompia e rasgava as ruas de São Paulo, um garoto magrelo e tímido e virgem carregando pacotes e envelopes, cometi meus primeiros poemas. Poesia concretista na maioria. E muito ruim e foi tudo ao lixo. Dois ou três anos depois, ainda magrelo e tímido e não mais virgem, já rasgava as cortinas dos puteiros do centro e escrevia poemas de amor impossível para as putas da São João. Poemas secretos, não concretos, mas ainda assim, ruins. E foi tudo jogado no lixo, embora alguns tenham sido publicados em "jornaizinhos" (não existia ainda o termo "fanzine"), que decerto foram jogados ao lixo também. O tempo corria e eu também, de um balcão a outro de banco, trajado de terno e gravata, pois bancário, mesmo auxiliar de porra nenhuma, tinha que se trajar assim. Descobri Lou Reed e a barra pesada, depois, bem depois, descobri Augusto, Baudelaire e outros. Era a poesia do Rock e o Rock da Poesia e eu ainda era magrelo, não era tão tímido e nem um pouco virgem. Em 1978, peguei doença venérea, coisa séria, ao comer o rabo de uma puta. Enchi a cara e a porra do corrimento recolheu. Me fodi dois anos tratando daquilo. E minha poesia falava daquilo e eu não joguei nada  no lixo, porque aquela era nojenta, mas era boa. Guardei dois anos e editei um livro, resgatado há pouco, em mimeógrafo. Guardei mais dois anos e uma recém-esposa ficou com ciúme, fez uma cena e rasguei tudo e joguei no lixo. Era ela ou a poesia e eu escolhi o lixo. E daí, mais dois, mais dois... Mais dois ou três ou cinco... Passaram-se quinze e sonhava com o Paraíso. Eu era infeliz... E sabia... Sabia de cor e salteado... Perdi empregos, dignidade e fui digno de pena, porque era assim que me queriam. Enchi a cara, passei fome e fui revirar o lixo que tinha na esquina. Fedia aquele lixo. E naquele lixo, entre papel higiênico sujo de esperma e de bosta encontrei meus poemas, aqueles que tinha rasgado há anos. Eles disseram; "Olá, estamos todos aqui, no lixo te esperando!". Disputei com mendigos a cachaça e o café com leite de misericórdia, colei os pedaços dos poemas e ficávamos na calçada, eu e uma meia dúzia de mendigas e mendigos. Eles sabiam do que eu falava e eles sabiam o que eu sentia. Ambos já estávamos mortos e sabíamos disso. Disputei com abraços com eles e fugi aos braços da primeira... Que de primeira... Fodeu! Quem era eu? Rum, vodka, cerveja e putaria, sexo e porrada na madrugada. Pirações e inspirações, num personagem de desenho animado da década de trinta. O diabo, como dizem, não é tão feio quanto se pinta. E ela não tinha trinta e na buceta uma pinta. Gostávamos de foder, de bater e de apanhar. E de buceta, os dois. E minha poesia crescia. Lixo? Jamais! Eu não tinha mais 14 nem 24 nem 34. A rua tem gosto de podre e cerveja gosto de mijo. Lixo? E não tinha mais família, e existir era tão boa quanto Cynar, amarga e doce ao mesmo tempo, dependendo de quanto deles se bebe. Mas o tempo mijou na minha cara. Olhei pra cima e vi a buceta peluda do tempo se abrindo e despejando aquele mijo quente e salgado na minha cara. Ah, a buceta do tempo... Eu fodi com ela, com a buceta do tempo. E eu sabia escrever, escrever, escrever. Poesia é uma puta lésbica e mentirosa e eu só fodia com ela. Betty Boop? Ah, fodam-se os desenhos e os desejos infantis. Quero olhar pra cima e esperar o gozo da buceta do tempo na minha cara. Poetas apenas esperam por esse momento. Orgástico, plástico... Mágico. Ah, maldita língua portuguesa: por que usar a palavra "balas" para doces e projéteis de arma de fogo? Onde estão minhas balas? Perguntei. No seu bolso, respondeu  a criança. Mas não lembro se são balas de chocolate ou de revólver. Revolver? Balas de chocolate, são as minhas. Derretem na boca. Disparo e pronto. Conheci uma senhorita que adorava balas... De hortelã e de menta... E um dia acabou levando ... Balas de revólver. De revolver o estômago essa. Gosto de balas, principalmente de metralhadora. Encho a minha com letras e saio atirando, a esmo, sem alvo fixo. Deixo as balas espalharem os pedaços dos miolos dos incautos pelas calçadas. Adoro cérebros espalhados pelas calçadas. Sempre que pego um livro de poesia, numa espécie de ritual, abro numa página aleatória, ao acaso. E como alguém que tirava a sorte com os velhos realejos, leio a mensagem. Entendo assim, ali e desta forma, dentro da minha descrença aos deuses, mitos e mestres, uma mensagem secreta do autor a mim. Sempre foi assim, desde o primeiro que lembro. Foi assim com Baudelaire, foi assim com Rimbaud, foi assim com todos os poetas, desconhecidos e inglórios que li ao longo dos últimos 40 anos. Mas agora olho para cima e a buceta do tempo não é tão gostosa, o mijo não nem tão quente nem tão salgado quanto antes, mas eu ainda quero foder com ela. Enfiar meu pau nesse buceta e esporrar na buceta do tempo. Mas eu não tenho mais 14, 24, 34, 44... Nem 54 mais. Lou Reed está morto. Eu não sabia inglês e imaginava que a tradução de “Venus in Furs” era “Vênus em Fúria” e aí escrevi “O Cu de Vênus”. John Cage é um gênio, Nico  uma gostosa e eu ainda bato punheta para PattiSmith. Patti é uma cadela, né, Banga? Adoro as cadelas, mas prefiro as gatas. E a buceta do tempo, da puta universal e lésbica do tempo ainda é sempre bela e limpa e sempre mija na cara de todo mundo. Depravada e maldita! Quarenta anos de poesia é uma merda! Porque poesia é dos jovens, dos que ainda, dentro de suas rebeldias ainda acreditam que podem mudar o mundo. Não acredito mais em porra nenhuma. Acreditar é para os moços, acreditar é para os que acreditam que nasceram com o dom da poesia, da arte, e acham que assim podem mudar o mundo. Tolos moços e moças. Um dia ficarão feito eu: velhos e cansados para acreditar em algo. Quarenta anos, vinte livros de poesia que não interessam a ninguém. Sacerdote sem altar, deus sem devoção, artesão de livros. Homem. Não sou referência a ninguém. Espero que rasguem e apaguem dos computadores da Deep Web tudo aquilo que eu escrevi. Poesia é merda, entendam isso de uma vez por todas. Hoje vou dormir de barriga pra cima, amanhã acordo mijado? Hein??? Feliz quarenta anos de poesia, Barata Cichetto.

01/10/2013

O Pai, O Filho e o Espírito Santo

O Pai, O Filho e o Espírito Santo
Luiz Carlos Barata Cichetto

(Sobre a matéria indicada pelo historiador e escritor Viegas Fernandes da Costa, uma "quase entrevista" com Raduan Nassar, feita por Fernando Gaioto. )

A muitas pessoas, a descoberta de Raduan Nassar abriu as portas da literatura. Meu caso não é um nem outro, pois li Lavoura Arcaica não tem muito tempo. Achei realmente um trabalho esplêndido em todos os sentidos. Agora, fico aqui, depois de ler essa matéria do Alexandre Gaioto, em duas coisas: a que se devem duas coisas: primeira o culto a ele; segunda, o porque de ter largado a literatura. E me preocupa a primeira mais que a segunda. O culto se deve ao fato de Raduan ter largado a literatura, ao filme?

As pessoas gostam de mistério e escritores misteriosos. E como ele nunca deixou claro porque largou tudo, aumenta mais o interesse. Não há dolo, mas enxergo isso como mais uma peça nesse quebra cabeças imenso montado sabe-se lá por quem a fim de se manter um "status quo". Uma peça curiosa, mas uma peça. Parecida com aquela que transforma a quase todos os poetas mortos na juventude em gênios, mesmo que não passem de rabiscadores de letras. Muito me preocupa isso, sim, pois existem muitos poetas, escritores, artistas de uma forma geral, que não desistiram de sua arte, que não se mataram... Continuam por ai, envelhecem, adoecem, trabalham em empregos medíocres para sobreviver e criar filhos, a quem não é dada uma oportunidade, se não de culto, ao menos de sobrevivência. Falo sim por mim. E por uma série enorme de outros que produzem bons trabalhos mas continuam vivos e ativos, sem despertar interesse nas pessoas, a não ser em um pequeno, muito pequeno grupo delas.

Agora um fato que me chamou a atenção nessa excelente matéria: tirando e desculpando o deslumbre juvenil do "entrevistador" perante um ídolo, ele conseguiu brilhantemente coloca em cena um personagem que muito me interessou: o filho de Raduan. Sereno e solicito, aparentemente não concorda com o pensamento do pai com relação ao autor de Lavoura Arcaica. Uma voz ecoando, sem carga de piedade, sem arroubos de arrogância, mas firme e respeitosa à figura paterna. A mim, a grande personagem dessa matéria é ele.

E a mim, ainda o grande mistério não é o fato de Raduan Nassar ter abandonado a literatura, mas sim, por que cultuam os que desistem, os que se matam, os que morrem cedo e não aqueles que insistem, sobrevivem e se recusam a morrer. Sem mérito oiu demérito à qualidade artistica de nenhum deles. Uma frase, atribuida a Raul Seixas dis mais ou menos o seguinte: a sociedade mata seus poetas para depois os cultuar. Isso é morbidez e crueldade. E creio estar nas raízes desse culto a moral cristã, que elege santos mortos, enquanto dos vivos exige apenas sofrimento e entrega. aliás, não creio nisso, estou certo disso, dessa cristianização inconsciente até. É preciso morrer, de preferência sob muita dor e sangue, quanto mais dor e sangue melhor, para se alcançar o Éden. E como Paraíso entenda-se ser cultuado pelos vivos. Mortos não precisam de culto, os vivos sim! E não falo necessariamente sobre adoração, mas reconhecimento. Nenhum ser humano (ou não humano, caso prefiram os religiosos) merece adoração, mas todos merecem respeito. E um artista, mais que isso: reconhecimento.

Que os mortos permaneçam em suas sepulturas, que os que se escondem, que continuem escondidos, mas que os que lutam, que buscam seu reconhecimento, que trabalham e sobrevivem não precisem morrer e ou desaparecer misteriosamente para que tenham suas obras valorizadas e reconhecidas. Em outras palavras: enterrem os mortos e selem as cavernas dos reclusos. E escutem os vivos.

Matéria de Alexandre Gaioto: http://alexandregaioto.blogspot.com.br/2013/09/o-silencio-de-raduan-nassar.html

01/10/2013

28/09/2013

Manifesto Sem Eira Nem Beira

Manifesto Sem Eira Nem Beira
Luiz Carlos Barata Cichetto



Eu, Barata Cichetto, que de poeta tenho muito e de médico nem um pouco, sem eira nem beira, sem dinheiro na carteira, "nada no bolso nem nas mãos", que não temo a um deus que não conheço e nem reconhece; que não tem medo de cara feia nem de cara de pau, apenas medo de altura e de ratos - de homens não; que não tem carteira assinada, nem cadela vacinada, apenas um par de gatas mestiças; que nunca leu o "Manifesto do Nada na Terra do Nunca"; que há tempos não escuta nem um disco do Lobão; muito menos adora esquisitices caetaneiras e babaquices gilbertianas, e não ganhou de presente nenhuma caetania hereditária; além de achar que buarque, apenas o sérgio e mesmo assim, nem sempre; que é radical à despeito dos filhos e ao achar que o mundo é dividido em duas partes "Rock" e "Não-Rock"; lança o presente Manifesto Sem Eira Nem Beira, sem nenhuma pretensão a não ser o de marcar seu ponto vista, visto de um ponto que fica entre o Nada e a Terra do Nunca, ou entre o Nunca ou a Terra do Nada, como prefiram.

O presente manifesto é pessoal, mas facilmente transferível aos que dele desejarem e grosso modo, do meu modo grosso de ser, imploro que não façam do presente Manifesto uma bandeira. E na melhor das hipóteses, use no lugar do papel higiênico, pois sustentabilidade é bola da vez, a moda da hora. E quem sabe faz agora e faz NA hora. Manifestos são coisas de comunistas, operários vagabundos e artistas frustrados. E em qual categoria me encontro? Enquanto Lobão é um "fenômeno editorial", estou plantado dentro de um porão num subúrbio a trinta quilômetros do centro de São Paulo, pedindo para que a barriga pare de roncar e faça silêncio para que eu possa escrever sossegado. Não tenho NADA, nem NUNCA tive nada contra Lobão, que ao menos, concordemos ou não, meteu o dedo no buraco, fazendo muita gente reagir. Artista tem que ser provocador, e isso Lobão é de sobra. Ainda não li nenhum dos livros dele, não por não querer, mas por falta de dinheiro pra comprar, mesmo. Então não vou cair na armadilha de provocar onça, ou lobo, com vara curta.

O presente manifesto, que de manifesto mesmo não tem nada, começou a ser escrito no dia em que completo cinquenta e cinco anos de idade, num inverno gelado, num porão gelado da extrema periferia de São Paulo, onde eu e minha quarta esposa moramos há três anos e meio. Ela é um doce e eu sou um cavalo. Há muito perdi a esperança de empregos fixos, de carteira assinada, trem lotado e salário no final do mês. Ganho a vida, mal e porcamente, parcamente mal, fazendo sites para a internet, mas como não sou programador nem artista gráfico, desses especialistas em Photoshop, tenho que me contentar com migalhas, porões em subúrbios e a constante falta de dinheiro para pagar contas. Meus dentes há muito não visitam um dentista., e por revolta operária, pulam da minha boca, feito ratos de um navio que afunda. Minha boca é um navio que afunda? Sim, afunda na tua bunda!

Escrevo livros de poesia e precisamente hoje terminei mais um. Deve ser o décimo quinto ou décimo sexto da era moderna, ou seja, depois que minha primeira esposa me chantageou emocionalmente, na era antiga, e me obrigou a rasgar uma mala cheia deles. Mas, minha era moderna começou no final do século 20 e de lá pra cá escrevi cerca de oitocentos poemas, ou ao menos oitocentos deles sobreviveram à minha sanha assassina de serem abortados e jogados nas lixeiras sem tampa do banheiro. Meus poemas beiram a loucura e a pornografia. A dor e suas matizes. Um universo humano povoado por putas, desamores e lutas. Idealismo, ira e iconoclastia em poemas rimados, extensos e densos, O poeta atira em todos os sentidos, usando seus próprios sentidos como arma. E acerta o alvo. Forte, certeira e cruelmente. Sem eira nem beira, sem dó nem piedade.  Pornografia é arte sincera! Toda arte é pornográfica e toda sinceridade também!

É, a vida não tem lógica, nem respeita números.. E fico pensando então porque as pessoas se preocupam tanto com essas coisas... Talvez com uma intenção inconsciente de tentar enganar a morte. Do mesmo que se enganam com o amor, que segundo Schopenhauer é a compensação da morte. Enfim. Só existe uma lógica e um resultado matemático: a morte... O resto é tapeação, enganação... Fingimento...  Matematicamente, é tudo uma questão binária: 1 e 0. A vida é o 1 e a morte o 0. Simples isso. A morte é o zero, o nada absoluto. Mas pensando bem, a vida seque mesmo uma lógica matemática, mas não da matemática conhecida, uma própria, onde qualquer operação, com qualquer numero resulta em zero... Matemática absurda, surda, cega e muda... Só não é analfabeta.  E o que faço com os números? Somamos idade, contamos datas, mas tudo no fim é apenas uma contagem regressiva para... o zero... Embora a gente não saiba a partir de que numero contamos. De qualquer um que contamos, chegamos ao zero, às vezes sem uma sequencia... Assim, simples assim.

Então, conte comigo, até zero...

11/06/2013

Uma Ilha e Um Disco: Um Desafio

Uma Ilha e Um Disco: Um Desafio
(Parte 1)
Luiz Carlos Barata Cichetto


Introdução

Há cerca de três anos uma amiga me colocou num problema. Um delicioso problema, quero acrescentar. Aliás, usar o termo "problema" para isso é um tanto incorreto, no mínimo exagerado, de minha parte. Desafio é o mais correto.

- "Cê que já escutou tanta coisa em tanto tempo de vivência dentro da música, particularmente no Rock, me diga: se tivesse que escolher um, e apenas um único disco para uma ilha deserta, qual levaria?"

A pergunta em principio poderia ser de simples resposta, mas esta simples resposta seria uma resposta simplória para agradar, demonstrar meus lautos conhecimentos sobre Rock e etc. Mas, para uma resposta honesta e sincera, primeiramente comigo mesmo e também com minha interlocutora, pedi a ela um tempo para responder.

Há dois anos, a cobrança foi feita e eu ainda não tinha a resposta, embora frequentemente pensasse nela. Hora ou outra confeccionava listas, uma com vinte, outra com dez, e dali tentava tirar um, escolhendo sempre o melhor que no momento me parecia. Mas, antes que eu encontrasse com minha amiga e desse a ela a resposta, começava a lastimar a não escolha de outro, e de outro, e de outro... E assim o tempo passou. Três anos. Muito tempo para uma resposta tão simples. Ou não?!

"Se ao menos fossem dez discos, como normalmente se pede às pessoas..." Cogitei com ela. "Não, é apenas um!" - Enfática. "Tem que ser aquele disco que cê pense: 'Sem tal disco eu não viveria...' Coisas assim".

Há poucos dias, cansado de minhas próprias evasivas, decidi encarar o desafio de frente. Queria eu mesmo saber minha resposta. Era uma questão de honra até, não apenas para responder a uma pessoa que te considera, mas uma questão pessoal mesmo. Era preciso ter a resposta.


O Processo Inicial

Decidi encarar realmente o desafio. A primeira coisa que fiz foi deixar de pensar nele como "problema", como vinha fazendo. E embora todas as questões e dificuldades ainda fossem as mesmas, penar naquilo não como um problema, mas como um desafio, já me deixava mais leve e com a visão aberta a tudo o que poderia ser feito, não para "resolver um problema", mas sim, "vencer um desafio".

Próximo passo: até aquele momento eu tinha criado listas enormes com inúmeros nomes e procurava destacar, com critérios pouco claros, a minha escolha. Critérios subjetivos, momentâneos, que não levavam em conta fatores altamente relevantes. Critérios que poderiam mudar de acordo com o meu humor, por exemplo. Portanto a forma já no inicio estava errada, e jamais me levaria a um consenso.

Para tal escolha eu tinha, sim, que estabelecer inicialmente uma lista, mas não escolher o melhor e sim eliminando aqueles que não cumprissem todos os "requisitos" que o indicariam a ser meu companheiro e absoluto durante sei lá quanto tempo. Era mistér, portanto, que além de uma lista com nomes, eu tivesse uma outra, uma espécie de "check list" com os tais requisitos. E ambas não poderiam ser nem tão longas nem tão curtas e deveriam conter critérios totalmente objetivos. Não necessariamente práticos, mas objetivos.


A Primeira Lista de Nomes

Decidi estabelecer um numero que serviria com parâmetro final. É necessário estabelecer uma meta a qualquer projeto, à qualquer desafio. Seja a data final de sua realização, a concretização prática do plano; ou um numero ou um valor financeiro a ser atingido. E para esse projeto estabeleci um numero inicial de vinte nomes. Por que 20? Não sei e não importa, pois o que importa não é o numero, o valor, a data, mas sim os estabelecermos e o encararmos como meta, seguindo a risca. E os nomes eram, sem nenhuma ordem, propositalmente:

1 - Grand Funk Railroad - E Pluribus Funk
2 - Grand Funk Railroad - Survival
3 - Slade - Alive
4 - Black Sabbath - Black Sabbath
5 - Lou Reed - 1974 - Rock'n'Roll Animal
6 - Black Sabbath - Vol. 4
7 - Nazareth - Loud'n'Proud
8 - Led Zeppelin - (4)
9 - Scorpions - Fly To The Rainbow
10 - Pink Floyd - The Dark Side Of The Moon
11 - Pink Floyd - The Piper At The Gates Of Dawn
12 - Janis Joplin – Joplin In Concert
13 - Jethro Tull - Benefit
14 - Uriah Heep - The Magician's Birthday
15 - Bob Dylan & The Band - Before The Flood
16 - Deep Purple - Fireball
17 - Dio - Holy Diver
18 - David Bowie - Ziggy Stardust
19 - Tom Waitts - Heartattack & Vine
20 - Patti Smith - Radio Ethiopia


Os critérios para essa primeira lista foram simplesmente lembrar os primeiros que viessem a minha mente. E se são os primeiros a vir a minha mente depois de milhares e milhares escutados durante os últimos 40 anos é porque são importantes. Simples assim. Mas objetivo.


A Primeira Lista de Critérios

Conforme expliquei acima, os nomes deveriam ser selecionados não a partir da pergunta: "Qual é o melhor?", mas obedecer a uma checagem que incluem fatores lógicos e objetivos, mesmo que esses fatores pareçam - e sejam - ilógicos e subjetivos. O importante é determinar os fatores determinantes e estabelecer a eles o valor exato na análise. Claro que em uma seleção destas, alguns fatores são extremamente pessoais e intransferíveis, mas outros nem tantos. O importante é que existam e nos façam decidir o que queremos, e melhor ainda, o que não queremos. Normalmente o fator "exclusão" - ou seja "qual dessas coisas eu não quero" - é muito mais útil e justo.

Estabeleci então uma lista de checagem com 10 itens, que incluem não apenas o disco em si, mas tudo o que existe por trás dele. Desde o histórico e afinidade com o artista ou banda, até fatores extremamente pessoais, como por exemplo "Esse disco me lembra uma coisa ou fato ou pessoa ruim". Tal fator não é tão subjetivo, afinal, lembre-se, querido leitor, que estamos falando de um único disco que eu poderia ouvir em uma ilha deserta. Portanto, minha lista de checagem ficou assim:

1 - A banda ou artista tem uma carreira coerente musicalmente, sob o critérios de criatividade, teve sólida formação, considerando qualidade técnicas?
2 - Tem essa banda ou artista, interesses acima de tudo artísticos e não puramente comerciais?
3 - Tal artista ou banda pode ser considerado um artista do mundo e tem postura ética com relação a racismo ou violência?
4 - O disco possui, além das qualidades musicais, arte de capa e impressão ou outras que lhe agregam valor?
5 - Esse disco poderia ser escutado sob qualquer condição física ou psicológica?
6 - Já comprei mais de uma cópia desse disco, seja em qualquer mídia existiu e ainda hoje escuto?
7 - O disco poderia ser escutado, sem prejudicar a essência, tanto num equipamento simples, como num altamente sofisticado?
8 - Poderá esse disco ser sentido e compreendido em paralelo à outras atividades intelectuais, como por exemplo lendo um livro ou admirando uma pintura ou paisagem, sem prejuízo de nenhuma delas?
9 - Poderia esse disco ser escutado em qualquer condição climática ou geográfica, ou seja tanto com temperatura baixa ou sol intenso?
10 - É bom para ser escutado tanto se masturbando quanto fazendo sexo, seja com uma girafa ou uma árvore, passando pela Sharon Stone?


Uma parte considerável da lista, como podem notar, eu coloquei fatores que dizem respeito especificamente à banda ou artista, pois acredito na coerência entre o trabalho de um artista e seu histórico e comportamento perante o mundo. A análise foi feita por exclusão, ou seja, aqueles discos cujas respostas aos meus critérios fossem "não" estariam eliminados.

(Continua na Próxima Semana)

01/06/2013

Eu, Robot (Trilha Sonora Patrulha do Espaço - Robot)


Colagem sonora e visual, tendo por base a música "Robot" da banda Patrulha do Espaço, com áudios da série Perdidos no Espaço e do filme italiano "L'Uomo Meccanico", de 1921, escrito, dirigido e interpretado por André Deed. O título é uma referência ao livro de Isaac Asimov "Eu Robot", com a provocativa inclusão da vírgula, o que cria uma interpretação totalmente diferente.

Entrevista Barata Cichetto Por Paulo Ragassi, Programa Tah Ligado! All TV