O CONTEÚDO DESTE BLOG É ESPELHADO DO BLOG BARATA CICHETTO. O CONTEÚDO FOI RESTAURADO EM 01/09/2019, SENDO PERDIDAS TODAS AS VISUALIZAÇÕES DESDE 2011.
Plágio é Crime: Todos os Textos Publicados, Exceto Quando Indicados, São de Autoria de Luiz Carlos Cichetto, e Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. (Escritório de Direitos Autorais) - Reprodução Proibida!


Mostrando postagens com marcador Lou Reed. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Lou Reed. Mostrar todas as postagens

27/10/2019

Lou Reed e Eu Sem Eira Nem Beira

Lou Reed e Eu Sem Eira Nem Beira
Barata Cichetto



And the colored girls say: doo doo doo, lou, lou, lulu, lulu...!

Um dia eu sonhei que era um Lou Reed doce e pervertido
Cruzando a Ipiranga com a São João em sentido invertido
E as putas na frente do prédio incendiado da Julio Mesquita
Eram Rachel e Jane, mas também era Ângela a hermafrodita
E Dalva a estrela negra da manhã que tinha a buceta quente
Mas eu era um Lou Reed sem New York e doía o meu dente.

Um dia ainda sonhando descobri a poesia da sarjeta imunda
E penetrei pelas suas entranhas de forma inocente e profunda
Eu era aquilo que não podia ter, e era poeta e não queria ser
Lembrava de coisas que não existiam e sonhava com perecer
O Anjo Negro da Morte não queria e fomos juntos ao Inferno
E éramos três agora, além de mim e Lou Reed vestindo terno.

E se um dia sonhei que era Lou cuspindo o rosto da hipocrisia
Agora sou apenas um tosco poeta que ainda cospe na poesia
Sem eira nem beira, apenas perdido num mundo que não quer
Giro as balas no tambor do revolver brincando de mal-me-quer
Ainda sonho ser Lou Reed, mas a Avenida não tem mais beleza
Foram-se as putas, Lou está morto e o que me resta é a tristeza.

06/09/2014
©Luiz Carlos Cichetto  - Direitos Autorais Reservados

Balada Barata Blues

Balada Barata Blues
Barata Cichetto



Um dia acordei Barata, e não era literatura
Mas fruto de uma sessão interna de tortura
E se acordei Barata, então Gregor Samsa ainda vive
Dentro da cabeça do monstro que em mim sobrevive.

Ser Barata não é pouco, louco daquele que não sente
Pois poeta é ser doente, que nunca a si mesmo mente
E nessa balada, ao sabor de uma tempestade mental
Grito de dor, e nada mais pode ser feito com o Metal.

Um dia morri sozinho num buraco lotado de bichas
E era pior que morrer num lugar cheio de lagartixas
Que louca balada era aquela, onde pegaram meu pau
O Inferno das lésbicas, que era não bom nem era mau.

Tinha uma puta anciã, além de uma lésbica quase anã
Mas eu tinha que chegar ao fim num culto ao deus Onã
E então a enrugada e a pequena grudaram suas bocas
Com as mãos enfiadas no meio de suas pernas loucas.

Uma das piranhas gritou: "Hey, Barata, quer casar comigo?"
E eu lhe disse, "Quieta, Rachel, que Lou Reed é meu amigo!"
Então cantaram as putas, as bichas e a lésbica sem jeito:
"Doo-doo-doo-doo-doo!"  E juntas pularam em meu peito.

Naquele Inferno só tinha uísque custando muito dinheiro
Misturado com urina de travesti e desinfetante de banheiro
E se fiquei muito bêbado e sem grana foi culpa do destino
Mas não conseguia sair da privada com cólica de intestino.

De manhã, ainda com gosto de ferrugem suja na língua
Acordei deitado ao lado de uma diarista morta à míngua
E ao pensar que eu tinha comido aquela buceta imunda
Vomitei sem antes enfiar meu pau inteiro naquela bunda.

E se eu era agora um porco, fodendo empregadas nojentas
Que tal ser mais imundo e deixar de viver a bater punhetas?
Então naquela manhã, transformado num inseto monstruoso
Barata ficou sendo o meu nobre apelido de poeta mentiroso.

27/06/2017

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

23/10/2019

O Dia em Que Lou Reed Comeu Patti Smith

O Dia em Que Lou Reed Comeu Patti Smith
Barata Cichetto


Foto by Judy-Linn

Parte 1 - O Filme

Há um tempo sem precisão, mas um domingo de manhã, decerto
Em um cinema imundo do Centro, que não era longe, nem perto
Um daqueles em que as putas chupam pintos na poltrona imunda
E em que as bichas cobram o preço por dar o buraco da sua bunda.

E aquele dia poderia ser um dia no parque, um dia quase perfeito
Poderia ser apenas outro dia em que eu sabendo ser homem feito
Acreditei ser apenas uma boa pessoa, curtindo a barra da cidade
Enquanto na porta do cinema putas fodiam por pura necessidade.

O lugar fedia mijo e tinha marcas de unhas no chão de esteira
Camisinhas jogadas sobre o tapete e na tela umidade e sujeira
O filme sem nunca começar e eu segurando meu pau na mão
Enquanto um sujeito na escada gemia segurando o corrimão.

Mandei a puta que sentou na poltrona ao lado se foder de graça
E olhei a tela com as letras desbotadas e reclamei por tal trapaça
Porque tinha o filme um estranho nome ao cinema pornográfico
E "O Dia em Que Lou Reed Comeu Patti Smith" era o tal gráfico.

A bicha que chupava pau na poltrona de trás reclamou da cena
O cara que pagava puta reclamou que aquilo era coisa obscena
E eu mandei todos tomarem no cu e ficarem de bocas fechadas
Mas enquanto Lou Reed metia na Patti as putas ficavam caladas.

Eu era um homem pobre e podia fazer qualquer coisa no escuro
Mas enquanto os ricos pagavam michê às bichas a preço seguro
Patti com os dedos tatuados mijava no rio segurando suas pregas
E Lou dizia “Ah, menina, deixe de falar de anjos e siga as regras”.

Na porta do cinema as meninas putas esperando por seu homem
Poeiras de estrelas por um barato e a morte enquanto consomem
E dos topos dos edifícios se atiram feito aos pássaros amortecidos
Beijando a calçada onde mijam os últimos bêbados adormecidos.

No cinema não tem mais ninguém e na platéia apenas escuridão
Todos foram embora buscar pelas ruas outros pontos de solidão
Acabou o filme, e cortinas sebentas tomaram o lugar do roqueiro
Sozinha no escuro Patti aguarda a chegada do ultimo mensageiro.


Parte 2 - Viciados

O dia ainda era um domingo, não de manhã, mas ainda perfeito
Era noite e eu tinha com das putas da esquina um retrato refeito
"Porque a noite pertence à luxúria, a noite pertence aos amantes"
E eu era Lou Reed procurando Patti Smith em loucos diamantes.

E ela dançando descalça, dando piruetas sob a lâmpada fosca
Projeta sombras nas vidraças das lojas, com sua alegria tosca
Enquanto busco naquelas pernas finas, tortas e mal cuidadas
A satisfação dos desejos no mistério das infâncias arruinadas.

Dançam a bailarina branca debaixo das lâmpadas de sódio
Mas a negra não consegue, com seu coração cheio de ódio
E Patti pergunta aos anjos e Lou às bichas depiladas a razão
E as bailarinas cantam em coro: "Doodoodoo, ai que tesão!"

Pergunto por Rachel e por trás dos óculos brilhantes escuros
O poeta americano responde: "ótimos aqueles tempos duros"
E aos anjos pergunto sobre Patti e de seu eterno namorado
Ao que Banga responde que ela por ele muito tem chorado.

Então eu disse, Patty, transa comigo e ata-me como aos viciados
Que eu esmago tuas mãos enormes com meus pés embriagados
E éramos eu, Lou Reed e Patti Smith. Lou comia Patti, e eu não
E entre eu e o gigante, ela preferia a bailarina, o palhaço e o anão.

Lembro do cinema onde aquele filme pornográfico foi exibido
E no Centro da cidade onde fui crucificado, morto e ofendido
Não tem cinemas pornográficos agora, e nem as putas seminuas
Morreram da mesma morte, mataram as putas, cinemas e as ruas.

Patti agora chora a morte do amigo, e nem mesmo eu a consolo
As mãos enormes sobre o rosto e eu nem posso pegá-la no colo
Ainda era domingo quando ele morreu, mas não um perfeito dia
Era final de semana e afinal de contas era o que ele sempre pedia.

Os satélites podem subir ao céu e eu não posso segurar sua mão
Seres humanos pisaram na Lua deixando marcas em seu coração
E Lou Reed era Jesus e também não morreu pelos meus pecados
E Patti e eu ficamos no mundo para morrer sem ser crucificados.

06/12/2013

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

08/09/2019

Uma Carreira Para Lou Reed

Uma Carreira Para Lou Reed
Barata Cichetto
(Poema Lido Primeiramente no Programa Gyroscopio 69, de 08/09/2019)




Era um domingo de manhã, mal tinha amanhecido
E fiquei sabendo que Lou Reed tinha desaparecido.
As putas da Sé nem sabiam o que tinha acontecido,
E até as bichas da República dele tinham esquecido.

Aí apanhei no armário meu casaco de couro rasgado,
E juntei meu óculos escuro há muito tempo guardado.
Rabisquei um poema e fui para a rua feito um soldado,
Firme em sua luta, mesmo com seu coração machucado.

Lewis Allen Reed está morto, e eu totalmente perdido,
Mulheres de braços tatuados me chamando de fedido.
O casaco de couro está rasgado e um tanto encardido,
Mas sou eu o fedor dentro de um mundo arrependido.

Holy não veio de Miami, nem Caroline e o Delegado,
E ninguém sabe se a Rachael também tenha chegado.
Fui ao enterro, e Lou não tinha ainda sido enterrado,
E não havia negras cantando, que agora isso é errado.

Era domingo de manhã, e eu ainda nem tinha dormido,
Abraçado com duas putas pagas a preço de comprimido,
A doce Jane sabia por alto que Lou Reed havia morrido.
Mas nenhuma das musas sabia sobre o tempo decorrido.

Ao fim da noite tirei os óculos e o meu casaco descascado,
E depois esmurrei a parede com o punho ensanguentado.
Lou Reed morto e a mãe dos versos havia agora abortado,
Pois outro poeta grandioso quanto ele não teria suportado.

27/08/2019




16/07/2019

Lou Reed Morreu! Antes Ele e Depois Eu

Lou Reed Morreu! Antes Ele e Depois Eu
Luiz Carlos Cichetto, AKA Barata

"(...) não há espaço nas calçadas para os personagens de Lou Reed. Festivais de rock hoje tem vibe de shopping center. E ‘Perfect Day’ foi cantada até por Susan Boyle. Lou Reed morreu ontem, mas o mundo que o tornou possível já tinha morrido faz tempo. (...)” - Camilo Rocha, "Lou Reed, o Cronista da Cidade Suja”, 28/11/2013

No mundo de (quase) 2020, não há mais lugar. Não apenas para as personagens de Lou Reed, como para o próprio, e qualquer um que ouse não ser politicamente correto à esquerda do espectro. Não há lugar para se cantar putas, bichas e travestis, sem ser apedrejado, processado, esquecido, ofendido. Nesse mundo de 2019, onde ando perdido e deslocado, não há lugar para artistas como Lou, Buk (a não ser para os que o usam como desculpas para serem bêbados), Henry Miller, e por tabela, não há espaço - nem para respirar - a pessoas como eu e tantos - nem tantos - outros. A sujeira debaixo do tapete sala de estar; a imundice disfarçada no barraco alimentado por bolsas do Estado; a educação jogada no lixo (em todos os sentidos da palavra educação, e em todos os sentidos da palavra lixo). A fome de que nos matam não é por falta de comida, mas de caráter. As putas ganharam o jogo e fazem plantão na porta de presídios pedindo a liberdade dos amantes bandidos, que lhes juraram amor eterno, apenas até gozar e balançar o pau. As putas ganham mal, não gozam, mas defendem seu cafetão, numa história que foi cantada de formas diferentes tanto por Lou quanto por Buk quanto por mim. Lou morreu rico, Buk também. Eu não. Ainda vivo. Pobre e fudido, como um personagem deles. Um personagem que não poderia ser descrito neste mundo de merda de (ainda) 2019. Um personagem feito eu não pode mais ser criado, sem que ele e o autor sejam processados, apedrejados, esquecidos. E eu, personagem de mim mesmo, ainda estou aqui, a despeito de tudo. Existo apenas como personagem de um autor fracassado, que jamais poderá existir enquanto a maldita e rançosa onda violenta do politicamente correto moer os cérebros.Muito obrigado, Marx e Gramsci. Seu genocídio corre muito bem.

16/07/2019

10/05/2019

Sexo, Baratas & Rock 'N' Roll (7 Dias do Diário de Um'A Barata)

Sexo, Baratas & Rock 'N' Roll
(7 Dias do Diário de Um'A Barata)
Luiz Carlos “Barata” Cichetto

Dia 1
Putinhas, Conhaque & Rock'n'Roll
(Lou Reed)

Sou uma dor... Uma dor de dentes! Ou seria melhor, uma dor de parto? Parto, mas parto sem dor! A pergunta não é partir para onde, a pergunta do dia é: partir de onde? Sou um estrangeiro em minha terra, um alienígena em meu planeta, um cego em terra de caolhos... Mas quem sou eu afinal? Uma barata? Como será a vida sexual das baratas? Quem estou e onde sou? Uma barata extraterreste em um mundo de caolhos e hermafroditas loucos. O Rock morreu, há muito tempo. Morreu junto com Janis e Brian Jones e Hendrix. Quando Lennon foi assassinado, o Rock já tinha morrido. O Rock é igual a mim: morto insepulto. Também se debate para não cair na cova rasa. O Rock morreu e ninguém tocou a marcha fúnebre... Em ritmo de Rock... Tocaram um tango argentino! Com quantos paus se faz um canoa? Sei lá, Rosinha Minha Canoa! E em São Paulo não tem mais garoa, tem apenas chuva ácida e frio no Natal. A Coca Cola deve estar gostando disso, o Papai Noel que eles inventaram, gordo, bem nutrido, com aquelas pesadas roupas e seu trenó de neve, passeia nos finais de tarde pelas esquinas sombrias do centro travestido enquanto o anão tosco lhe traz uma bagana e ele fuma sozinho sem alimentar as renas. Há quanto tempo eu não fumo uma bagana... Muito tempo, mesmo! Ai que dor de dentes! Uma farinha ia bem agora, ainda mais se for de trigo, em um bolo de chocolate! Adoro bolo de chocolate. As baratas adoram doces. "Eu não preciso de doce/Você não vive sem doce", cantou Cornélius Lúcifer. "Pare de gritar mamãe/Pare de gritar mamãe!" Tem horas que escrever é um porre, a cabeça dói e as pontas dos dedos latejam. Escrever é que nem sexo... Tem uma putinha bonitinha que pisca pra mim depois me leva pra chupar meu pau na beira do córrego, enquanto que um bando de famílias decentes cansada da Globo espia pela janela por trás das cortinas. A putinha chupa meu cacete depois pega o dinheiro e corre a comprar comida para seus gatos! Sou amante dos animais, então acabei de cometer uma causa nobre: ajudei uma putinha que chupou meu pau até o fim a comprar comida pros gatinhos dela. Será que se ela me der o cu, sobra dinheiro para alimentar uma creche inteira de gatos? Pobres putinhas famintas de porra, pobres gatinhos famintos de comida. Ou seria ao contrário! Sempre gostei de putinhas caridosas! Principalmente as putinhas caridosas que chupam bem! Amanhã estarei lá para alimentar sua sede de porra e seus gatos indecentes! Malditos gatinhos que não sabem chupar meu pau! "Vicious, you heat me a flower" Lou Reed da Penha, eu mesmo, cantaria para aquela putinha de bucetinha raspada. Amanhã aquela putinha irá chupar minha pica e fumar um baseado... É, faz tempo que não fumo um baseado! Escutando Lou Reed!!!!! "Eu não sei exatamente para onde estou partindo / Mais eu vou tentar ir para o reino se eu puder /Porque isso me faz sentir como um homem / Quando eu ponho uma estaca em minha veia. Sonho com heroínas e heroína. Que mal há em desejar heroína? Porque quando um beijo estalado começa a escorrer / Então eu realmente não me importo mais!" Há quanto tempo, minha putinha chupadora! Há quanto tempo não usa Heroína? Eu nunca desejei a heroína, nunca quis ser um herói do Rock... Morto! Mas na beira do córrego que carrega a merda da sociedade que habita acima, aquela putinha chupa meu pau e eu nem ligo, Lou Reed canta a sujeira de New York e eu canto pelos cantos sujos da cidade de São Paulo... Mas ele é famoso e eu apenas um sujo, que tem apenas um par de calças e uma botina que nem salto tem mais... Salto no escuro, escuto a escuridão! O som da escuridão é apenas o som de putinhas cheirando cocaína e chupando picas nas beiras dos córregos. Ah, também tem gatinhos miúdos chorando de fome esperando que suas donas acabem de chupar umas rolas para lhes dar o que comer! Ontem completou anos que John foi assassinado e então recordei de algo: "Nobody loves you when you're down and out / Nobody sees you when you're on cloud nine". Mas a realidade é que John morreu rico e famoso, com um apartamento cheio de casacos de pele e uma bela conta bancária e agora minha barriga ronca. Um monte de baratas escuta-me lamentar e em uníssimo cantam: "Doo, Doo, Doo, Doo" igual as negras da música de Lou Reed... Baratas, baratas! Um coral de baratas desafinadas cantam uma música de Lou Reed, mas os ossos de Lennon estão em algum lugar, retorcidos de remorso. Mas onde anda aquela putinha que chupou meu pau na beira do córrego? Chupa meu pau, putinha, enquanto eu canto uma música do Lou Reed em sua orelha antes de arrancá-la a dentadas. "Eu sou o homem que assumiu tudo aquilo que os outros abandonaram.", disse GG Allin, o único rebelde real do Rock. Pois é, abandonaram a putinha-chupadora que cuida de gatinhos abandonados. O Rock verdadeiro foi abandonado e na estrada existem apenas aventureiros com suas guitarras de última geração. Enfiem essas guitarras no cu, filhos da puta! Você foderam o Rock e ele agora, estuprado pelos consumistas age igual aquela putinha: chupa pintos na beira dos córregos para dar de comer aos gatinhos! Meus ídolos estão mortos ou ainda nem nasceram. Prefiro as putinhas-chupadoras-de-pinto-na-beira-do-córrego aos falsos roqueiros. Queria agora pegar minha guitarra e compor uma música parecida com aquelas do Lou Reed, mas nem guitarra eu sei tocar. Então o que resta é ir para a beira do córrego e enfiar minha pica na boca daquela putinha e depois lhe dar 10 reais. Ela é muito mais sincera: sabe o que quer e todos sabem o que esperar dela. Ela é melhor que os músicos de Rock, que os policiais, que os advogados e as esposas. São sinceras. Querem apenas chupar um pinto e receber 10 reais. Ainda mais que enchem de interesse aquelas famílias de hipócritas que espiam seu trabalho por trás das cortinas dos apartamentos. A pergunta é: Lou Reed já foi chupado por alguma putinha em alguma ponte escura de New York? Yoko Ono chupava a pica de John Lennon no Central Park? Mark Chapman chupou a pica de Lennon antes de apertar o gatilho? Um disco de Lou Reed, de Lennon e de todos eles custa mais caro que 10 pratas que a putinha do córrego me cobra.

09/12/2003


Dia 2
Putas , Som & Rock'n'Roll
(Raul Seixas)

Quarta-Feira, dia de Sexo, Conhaque e Rock'n'Roll... Sério! Quarta-Feira tem som! Quarta-Feira tem conhaque, do Dreher, que Domecq é muito caro... Quarta-Feira tem sexo com a putinha chupadora de rola na beira do córrego! Estou certo de que ela espera que eu passe e dê 10 pratas por uma chupada. Depois de Lou Reed e John Lennon, depois de Led e Sabbath, nada melhor que ter o pinto chupado por aquela putinha-dos-gatos. Mas o som do dia é Raul Seixas e Zé Ramalho. Justo Raul que morreu de cachaça, pancreatite e solidão. Ah dói isso! "Eu morri, e nem sei mesmo qual foi o mês/Metrô Linha 743". Um, dois, três. Respire fundo! Ah, não dá! Meu pulmão está cheio de nicotina. Maldito cigarro! Preciso parar de fumar! "Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? / Virá antes de eu encontrar a mulher que me foi destinada" Ah, bom, então me deixa apagar o cigarro e correr para a beira do córrego! "Eu vou sempre avante no nada infinito/Flamejando meu Rock, o meu grito/Minha espada é a guitarra na mão" É, eu sou mesmo ego, ego-ista! O nada infinito é o caminho, mas "Você me pergunta/Aonde eu quero chegar/Se há tantos caminhos na vida/E pouca esperança no ar" Bah, Mestre Raul, deixa quieto isso, que eu sei até onde essa estrada chega. Chega disso! Deixa estar, let it be, let it bleed! Yeah, yeah, yeah! She Love You! Mas eu sei que existe alguém em meu caminho! "Citação:leve um homem e um boi ao matadouro. O que berrar mais na hora do perigo é o homem, nem que seja o boi." Isso é de Torquato Neto... Mas eu digo: leve uma putinha e uma santinha na beira do córrego, a que chupar melhor sua rola é a santinha, mesmo que seja a putinha. Chega mais perto, putinha-dos-gatos, quero ver seus dentes! Deixa-me ver sua língua ferina! Ah, felina! Deixa ver seu útero! Mostra teu cérebro! Deixa-me arrebentar tua cabeça e comer teu crânio a vinagrete! Uma pergunta: você chupa o pau de seus gatinhos antes de dormir? Ah chupa vai, só um pouquinho! Minha cabeça está cheia de fumaça de cigarro e conhaque em doses maciças, macias de conhaque vagabundo. "Há uma grande diferença entre se ajoelhar e ficar de quatro." O genial Zappa disse isso. Portanto, minha filhinha chupadora da beira do córrego, chupa meu pau ajoelhada! Meu esperma em sua boca, meu amor no esgoto, no córrego imundo que carrega a sujeira da cidade em direção ao mar. E meu coração onde anda? Com certeza sendo carregado pela corrente de lama que os políticos jogam nos rios, junto com o fruto dos abortos de suas secretárias. Meu coração está morto, resta a mente, embotada de álcool e fumaça de cigarros. Um torrente de sangue tenta reanimar meu coração, mas a corrente da morte enrolada em meu pescoço impede minha digestão. Estou com uma baita enxaqueca agora e a única coisa que consigo pensar é "Toca Raul!" Mas eu estou velho demais para o Rock'n'Roll, mas jovem demais para morrer. "Não, você nunca é velho demais para o Rock'n'Roll se é jovem demais para morrer." Assim cantou Ian Anderson. Juro que eu tentei ser velho demais para o Rock'n'Roll e jovem demais para morrer, mas o que consegui foi apenas ser velho demais para morrer e jovem demais para o Rock'n'Roll! Danem-se! E o que ela, a Grande Chupadora pensa a respeito disso? Ela acha que eu sou o quê? Velho demais para o Rock'n'Roll? Jovem demais para morrer? Ela nem está ai para o Rock'n'Roll, nem para a morte, muito menos para mim. Ela é simples: quer apenas chupar um pau, pegar seus 10 contos e alimentar seus gatos. Ah, mas deixa quieto. Quero contar até 10 e depois estourar meus miolos, esparramar pedaços do meu cérebro pelas esquinas, que depois ela, a Grande Chupadora do Universo recolherá e dará para seus gatos comerem. Nesse dia ela nem irá precisar chupar pintos para comprar ração! Espero apenas que os gatos da Chupadora não tenham uma indigestão! Agora quero apenas deixar uma coisa, uma letra de música que acompanha minha solidão: "Quero desejar, antes do fim,/Pra mim e os meus amigos,/Muito amor e tudo mais;/Que fiquem sempre jovens/E tenham as mãos limpas/E aprendam o delírio com coisas reais./Não tome cuidado./Não tome cuidado comigo:/O canto foi aprovado/E Deus é seu amigo./Não tome cuidado./Não tome cuidado comigo,/Que eu não sou perigoso:/Viver é que é o grande perigo" Belchior, 76, "Antes do Fim" Mas antes do fim queria pedir: chupa meu pau na beira do córrego, minha putinha, Grande Chupadora do Universo!

10/12/2003


Dia 3
Boquete, Dinheiro & Rock'n'Roll
(GG Allin)

Ontem foi Quarta-Feira, mas a Grande Chupadora do Universo não apareceu... Será que ela estava chupando outro pinto na beira do córrego? Fiquei com ciúme, afinal! Ai lembrei que outro dia, enquanto ela chupava meu pau, fiquei olhando para dentro do córrego e vi passar alguns sacos de lixo e o cadáver de um cachorro. E fiquei pensando... Que porra ficar pensando em algo enquanto a Grande Chupadora do Universo chupa meu pau! Só eu mesmo! Enquanto eu enchia sua boca de esperma, o cadáver do cachorro batia em uma pilastra e se desmanchava. Ainda bem que não é o cadáver de um gato, pensei, senão a Grande Chupadora do Universo ia parar de chupar meu pau e correr até lá. Mas de qualquer forma ela nem percebeu, apenas preocupada em chupar meu pau e receber seus 10 paus. Ela guardou a grana dentro da blusa e eu guardei meu pau dentro das calças e ai fiquei pensando: onde mora a Grande Chupadora do Universo? Ao certo em algum cortiço! Pensei um monte de coisas, como por exemplo, se ela chupa o pau dos seus gatos antes de dormir, se apanha de algum cafetão filho da puta porque trouxe pouca grana - ai essa história dos gatos é mentira? - Fiquei ali, fumando um cigarro e pensando enquanto ela caminhava na minha frente. Ai pensei e falei sem pensar: você é uma putinha, mesmo! E ela: sou mesmo! E levantou a saia deixando uma bundinha bem gostosa a mostra, coberta por uma micro tanguinha vermelha. Você é a Grande Chupadora do Universo, disse. E ela: Sou mesmo! Chupo mesmo! Me dá mais dez paus e eu deixo você chupar minha buceta! Não dou merda nenhuma, eu respondi. Gastei o que tinha em conhaque barato e os últimos 10 paus eu lhe dei. "I Wanna Piss On You", cantou GG Allin. E eu disse para a Grande Chupadora do Universo: Quero Te Mijar. E ela disse: são vintão! E fiquei ali pensando enquanto os saltos gastos da minha botina batiam no asfalto: Que grande vaca essa ai. Por cem acho que ela casa comigo! Só se for muito burra, minha consciência berrou lá do fundo do córrego onde jazia o cadáver em decomposição do cachorro. Ai eu caminhei mais um pouco e enfiei a mão na bunda dela. A Grande Chupadora do Universo pulou pra frente e disse: isso não. Estou testando a mercadoria... Epa, peraí, isso ai aconteceu enquanto a gente ia para a beira do córrego. Ah, putinha, vem aqui! Queria comer sua bucetinha! É trintão ali no hotel, disse ela... E eu nem sei porque lembrei de uma frase de Allin enquanto cantarolava o refrão de "I Wanna Piss On You": "Se você acredita no verdadeiro rock'n'roll underground, então é hora de fazer alguma coisa. A hora é agora de derrubar a situação e declarar guerra às gravadoras, estações de rádio, publicações, bares e qualquer um que promova a chamada" cena "que existe atualmente. Precisamos destruir tudo e tomar de volta o que está nas mãos de empresários idiotas e conformistas. Mas a ação deve começar agora e sangue poderá ser derramado". É, continuei a pensar sem tirar os olhos da bundinha da Grande Chupadora do Universo: precisamos dar início á uma grande revolução: quebrar todos os discos, convocar todas as putas do universo e declarar guerra ao sistema que é capaz de jogar um cão morto em um córrego em cuja beirada a Grande Chupadora do Universo faz um boquete para alimentar seus gatos. As putas serão os soldados dessa nova revolução - re-evolução - elas chuparão o pau dos inimigos até que eles morram esgotados. Uma revolução limpa. A Grande Chupadora do Universo será minha Primeira-Comandante Em Chefe. Ela será a chefe geral dessa verdadeira revolução. O hino será a música de GG Allin e tomaremos o poder sem derramar uma gota de sangue, apenas muita porra engolida pelas putas comandadas pela Grande Chupadora do Universo. "Bêbados não marcham!", disse o grande Frank e completou com algo que pode ser o mote de minha revolução: "Se você quer trepar, vá à faculdade. Mas se você quer aprender alguma coisa, vá à biblioteca". Depois de ganha a revolução, as putas irão criar os ministérios, convocar as massas e em comemoração a vitória, chuparão o pau de todos os homens do povo! Desde os operários até os professores. Mas ai chuparão com prazer. A Grande Chupadora do Universo será eleita a grande Rainha e todas as putas a reverenciarão. À beira daquele córrego será erguida uma estátua, com a Grande Chupadora do Universo chupando meu pau a aos nossos pés, um cachorro morto. Revolução, sim revolução, minha Grande Chupadora do Universo! Fizeste sem saber a revolução! Mas: "Minhas palavras, um sussurro, sua surdez, um grito. Eu posso fazê-lo sentir, mas não consigo fazê-lo pensar. Seu esperma na sarjeta, seu amor no esgoto. Assim vocês cavalgam pelos campos e vocês fazem todos seus negócios bestiais e seus sábios não sabem como é se sentir burro como um tijolo ". Perguntei para a Grande Chupadora do Universo se ela conhecia Jethro Tull. E ela me respondeu: "The poet and the wise man stand behind the gun And signal for the crack of dawn, light the sun Do you believe in the day ?" E eu disse: acredito no dia, mas agora é noite, e você tem que ir embora dar comida aos seus gatos. Seus gatos já lamberam sua bucetinha? E ela: "Deixe-me contar-lhe as histórias de sua vida, do corte da faca e da facada, da incansável opressão, da sabedoria incutida, do desejo de matar ou de ser morto. Deixe-me cantar sobre os derrotados que ficam nas ruas enquanto o último ônibus vai embora. As calçadas estão vazias: as sarjetas correm vermelhas enquanto o bobo brinda o seu deus no céu". E eu: lamberam ou não lamberam? E ela, ainda: "E o amor que eu sinto está tão longe. Eu sou um sonho mau que tive hoje e você balança a cabeça e diz que isto é uma vergonha. Faça-me voltar aos anos e dias de minha juventude, puxe as cortinas pretas e grite ao mundo a verdade. Faça-me voltar aos longos séculos, deixe-os cantar a canção."Ela, a Grande Chupadora do Universo, ali em minha frente, erguendo a saia, balançando a bundinha e cantando, cantando, cantando:" Gentilmente anunciem o tempo de nosso ano e juntem suas vozes num coro infernal. Determinem precisamente o tipo de seu medo. Deixem-me ajudá-los a levantar seus mortos enquanto os pecados dos pais são alimentados com o sangue dos tolos E com os pensamentos dos sábios e com o pinico embaixo de sua cama." Canta, putinha, canta! Canta, Grande Chupadora do Universo, canta! Que loucura isso, pensei e depois falei! Mas ainda não respondeu: Lamberam ou não lamberam? E ela: Não! Mas eu chupo o pau deles toda noite antes de dormir! Aquilo era demais! E sai correndo até o próximo amanhecer!

11/12/2003


Dia 4
Putas, Emoções & Rock 'n' Roll
(Led Zeppelin)

"As baratas não rastejam, é apenas o jeito delas caminharem", uma frase proferida por alguém que não me quer bem... "Existe uma grande diferença entre ajoelhar e ficar de quatro." Esta é de Frank, o Grande Zappa. Então eu junto as duas coisas e chego a conclusão que as baratas não conseguem ajoelhar-se nem ficar de quatro, sequer rastejam... Apenas caminham e estão neste planeta muito antes que nós, pobres seres humanos. Ser uma barata ou não ser? "Aquela manhã Gregor Samsa acordou transformado em um inseto monstruoso." Kafka não usa a palavra "barata" em sua obra, mas quando fala em "inseto monstruoso" todos entendem que ele fala de barata. O que há de monstruoso em uma barata, querido Kafka? Imaginou uma barata acordar pela manhã transformado num monstruoso ser humano? Ela ia morrer do coração. (Barata têm coração? - Claro que tenho!, embora um pouco doente, fraco e que carrega pouca paixão, mas ainda tenho). Acordei ontem com uma puta dor de cabeça. Tinha brigado com o mundo, de mau humor porque a Grande Chupadora do Universo não aparecera para chupar meu pau na beira do córrego. Uma Aspirina e uma Coca-Cola foram o suficiente para abrandar, mas me deu uma caganeira desgraçada. Depois sai andando pelas ruas e quase pisei em uma barata. Pobre dela, quase a esmaguei. Uma barata entrando por baixo da saia de uma mulher é muito sensual e elas nem percebem isso, aquelas patinhas roçando a pele das coxas, caminhando em meio aos pelos da bucetinha, passeando no rego, entrando na bunda, depois subindo e passeando ao redor dos bicos dos peitos. Uau! Existe um certo charme profano nas baratas. Algo que nem o mais maluco dos psiquiatras poderia explicar. Queria ser uma barata e poder entrar debaixo da saia da Grande Chupadora do Universo na beira do córrego. As baratas não precisam fazer nenhuma revolução para dominar o mundo. Elas são a própria revolução, pois sabem que herdarão este planeta que a espécie humana acha que é proprietária. Apenas caminham e esperam que sua herança natural lhes seja entregue. Talvez sobrem alguns humanos rastejantes que se esconderão pelos esgotos e pelas beiras dos córrego, não mais sendo chupados pela Grande Chupadora do Universo, mas rastejando em busca de comida. Possivelmente elas, as chupadoras, sobreviverão. Mas eu não. Aliás, eu não sobrevivo, sub-vivo! Uma chinelada e pronto, estou morto... Por isso escondo os chinelos da casa... Alguém pode ter uma péssima idéia. Todos sabem que a música da minha vida e da minha morte é "Dazed And Confused". Aquele clima denso e tenso, aquela estrutura melódica caótica, é algo que penetra em minha alma, perscruta minhas mais tênues emoções...("Estar atordoado e confuso por tanto tempo não é verdade. /Procurando uma mulher, nunca barganhada para você./Muitas pessoas falam e poucas delas sabem,/a alma da mulher foi criada em baixo.") Page fala de mulheres, de putas e de emoções... De emoções baratas? Ou seria de baratas emoções ou ainda de emoções de baratas? Sou uma dor, uma dor e nada mais! Mas hoje, bem hoje, a letra que está falando muito alto, definindo minhas emoções é The Last In Line. Escutem isso: "Nós somos um navio sem uma tempestade / O frio sem o calor / Luz na escuridão que precisa/ Somos uma risada sem uma lágrima / A esperança sem o medo." E a coisa continua: "Nós saberemos pela primeira vez / Se somos maus ou divinos / Somos os últimos da fila" Dio é um cara fantástico: "Bem, se parece real, é ilusão / Para cada momento de verdade, há confusão, na vida / Amor pode ser visto como uma resposta, mas ninguém sangra pelo que dança". É duro mesmo, a sensação de ser o último da fila. A fila anda, os primeiros chegam, mas o último é sempre o último, não importa o que aconteça. "Você pode se libertar/Mas o único caminho é para baixo" Dio canta isso! É bem assim, não existe liberdade! Não liberdade real! O caminho é a morte, "o caminho da dor é o amigo", cantou Raul. Mas onde andam meus amigos? A dor eu sei onde anda, diretamente em minha mente, mas os amigos? Onde andam, que caminhos percorrem? "Você me pergunta / Aonde eu quero chegar / Se há tantos caminhos na vida / E pouca esperança no ar". Existem caminhos que eu reconheço. Sei quantos passos separam a esquina onde fica a Grande Chupadora do Universo e a beira do córrego! Mas a Grande Chupadora do Universo conhece seu caminho? Imagina que é apenas chupar umas rolas, enfiar 10 paus dentro da blusa e comprar comida de gatos? Mas em que Lugar da fila está a Grande Chupadora do Universo? O último é meu! Ninguém tasca!

12/12/2003


Dia 5
Sangue, Paixão & Rock 'n' Roll
(Jim Morrison)

Deixa eu lhes contar sobre o sangue que não escorreu do meu peito porque o medo da dor impediu que a faca penetrasse mais que apenas umas tenras camadas de pele. Deixa eu lhes contar sobre a dor que eu senti, do ardor e do medo, do muito medo que o medo da dor provoca. Deixa eu lhes contar sobre a morte que eu não experimentei, sobre a vida que também não. Deixa eu lhes contar sobre a falta de desejo e sobre a falta de beijo que empurrou minha mão em direção ao sangue, sobre a falta de paixão e compaixão, de passo e compasso, pacto e compacto... Deixa eu lhes contar sobre a jornada que não aconteceu porque a passagem era cara demais, porque o condutor do trem tem cara de fantasma e aquilo nem é um trem fantasma. Ah, como eu queria estar bem, forte... Mas estou mau, muito mal... Os olhos ardem por causa das noites sem dormir, do conhaque, dos cigarros e da falta de paixão... Ah minha paixão, onde estás? Queria mesmo falar cobre paixão e cantar sobre a beleza da vida, odes supremas a uma musa que não é a Grande Chupadora do Universo. Deixa eu lhes contar sobre as mulheres que não transei, sobre as bundas que não apertei. Apertei... Apertei o gatilho da faca... Mas quando o sangue jorrou eu morri... De medo de morrer... E não morri! Deixa eu lhes contar sobre o medo que eu tenho de viver, não sobre o medo de morrer! Deixa eu falar sobre o que eu desconheço, sobre tudo o que temo, o sobretudo que não tenho, sobre tudo o que não tenho e temo, temo e tenho! Tenham dó de mim! Não, não tenham dó de mim, pois e não sou digno de dó, nem de compaixão... Deixa eu falar sobre as putas que paguei, o dinheiro que não ganhei, as causas perdidas, as dores ardidas, as almas partidas que partem em pedaços. Deixa eu falar sobre mim, deixa! (?) Então: na outra linha, parágrafo, dois dedos da margem: eu nasci quase sem nascer, de um parto dolorido não desejado, o Brasil era campeão de futebol e minha mãe queria comemorar. Mas eu e minha hepatite a impedimos. Ela olhou pela janela da maternidade e amaldiçoou aquele momento e eu nem sequer sabia que Lennon cantaria poucos anos depois: "Mother, you have me, mas I never have you". John morreu e eu também. Um tiro na cabeça, outro no coração. "Ninguém ama você quando você esta arruinado / Ninguém olha para você, quando você esta em situação difícil / Todo mundo é empurrado para a responsabilidade e o dinheiro". Mas, John, seus casacos de pele e sua grana guardada dentro do Edifício Dakota, perto do Central Park? Ai eu corri e chorei porque era real sua definição. Minha mãe nunca chorou minha morte, nem sentiu saudades. Minha hepatite a impediu de dançar pelas ruas, comemorando o futebol e naquele momento eu comecei a pensar que "Sábios não conhecem o que é ser burro feito um tijolo". E Ian Anderson cria carpas e eu crio baratas! Ia esquecendo: a grande chupadora do universo cria gatos. Outro dia, dia 8 de dezembro, data de casamento de minha mãe e exato um ano em que fui agredido por ser roqueiro, encontrei com Jim Morrison num bar na Penha, ele estava bem magro e com os cabelos brancos. Disse que era o Rei Lagarto e eu lhe disse: "Oh, eu sou o Rei Barata"... E ajudei-o a erguer-se com a testa ferida, da beira da sarjeta. Mas Jim falou: "Eu Sou o Rei Lagarto. Posso fazer tudo" . Até espatifar-se contra uma guia em frente a um bar fedorento da Penha. Mas Jim, ainda muito lúcido apesar dos seus 60 anos completado naquele dia, ainda disse: "Tudo o que é desordem; revolta e caos me interessam; e particularmente as atividades que parecem não ter nenhum sentido. Talvez seja o caminho para a liberdade. A rebelião externa é o único modo de realizar a liberdade exterior." E emendou: "Cancele minha inscrição para a ressurreição, envie minhas credenciais para a casa de detenção, tenho muitos amigos lá". E quando perguntei sobre ele, respondeu: "Alguns nascem para o suave deleite, outros para os confins da noite" . Mas, Jim...!!! Onde anda minha alma, onde andam meus sonhos, onde andam minhas pernas e o meu pau? Onde anda a Grande Chupadora do Universo? "Nunca mais olharei em seus olhos de novo / Você consegue imaginar o futuro / Tão sem limites e livre / Precisando muito da ajuda de alguém estranho." A realidade é que estou desesperado e meu desespero causa pensamentos estranhos, Queria deixar de rimar caixão com paixão, sorte com morte... queria deixar de rimar rimas com estimas, ego com prego... queria deixar de ser o que sou e ser o que não sou. Agora, deixo apenas um poema de meu xará Maciel, publicado em" A Morte Organizada ":

"Não encontro as palavras. / A surpresa das coisas me confunde. / Não sei mais o que eu sabia
Estou perdido. / Extraviei-me na metade do caminho e a carne é fraca e trêmula.
Quem me combate? As palavras fogem como pássaros assustados.
A tarde cai e a noite acorda suas sombras, seus gestos de consolo.
Quem luta comigo e ameaça numa esquina desconhecida dos subúrbios?
De onde vem essa queda súbita? / A carne é fraca e trêmula.
Procuro as palavras como alguém procura um segredo que não existe.
Eu não queria ferir tua alma delicada de mulher.
Não queria  feria tua calma. / A surpresa do mundo me confunde e não sei mais o que eu sabia.
Observo minhas roupas: estão sujas e gastas, estão cansadas e não acredito mais que possam brilhar à luz do dia.
A noite me consome e me consola. / De onde vem esse punhal escuro?
Não, eu não queria  ferir tua alma.
Mas a dor se insinua entre as frestas das portas esparrama-se pela sala, visita o quarto, o banheiro, a cozinha, abre a geladeira, fechas as cortinas e eu não sei mais o que sabia.
De onde vem esse muro súbito? / Quem desconfia do calor de suas pedras frias?
Os olhos vagam. / Os ouvidos secam. / A boca treme por um momento e se cala.
Quem me guerreia? / Quem derrama meu sangue na areia fria?
Não encontro as palavras, elas fogem como pássaros assustados e se escondem nos cantos mais sombrios do dia.
Não, eu não queira ferira tua alma delicada de mulher. Não sei mais o que eu sabia.
Quem conspira a minha queda súbita? Quem me enfraquece?
As palavras fogem. Observo minhas roupas: como estão sombrias.
Estou perdido na metade do caminho e ainda caminho e não há vento e é pesada a calmaria e não sei mais o que eu sabia.
Eu não queria ferir com essa tristeza a tua alegria.
Eu não queria. Quem me tira as forças, quem mexe os fios dessa agonia? Quem tenta me matar?
A surpresa das coisas me confunde.
Não sei mais o que eu sabia.
E não queria ferir tua alma delicada de mulher.

14/12/2003


Dia 6
Mães, Padres & Rock'n'Roll
(Ozzy)

Estou chegando ao fim! Fim do quê? Não sei.Se soubesse não seria o fim! Quero morrer igual ao pai de minha mãe, transando! Mas não com a mãe de minha mãe, é claro! Quero transar e morrer, morrer e transar! Quero o que é bom! "Compra bombom, moço!" Uma menina de oito anos oferece e eu nem quero saber de bombom. A menina com cara de choro implora e eu compro seus malditos bombons. Ah, já sei: vou dar de presente á Grande Chupadora do Universo. Gatos comem bombom? Senão eu enfio um bombom no cu dela enquanto ela chupa meu bombom de carne na beira do córrego. "A sanidade agora está além de mim, não há alternativa". Ozzy escreveu em seu diário, enquanto no meu eu escrevo algo mais ou menos assim: "A vida está além de mim, não há alternativa!". Ozzy tem o Diário de um Louco e eu tenho meu Diário de um Morto! Não "Diary Of a Madman", mas "Diary of a Deadman", algo assim. Muito bem! O padre e minha mãe contaram histórias mentirosas sobre Mim e sobre Ele! Fui enganado e agora é tarde demais. Não quero o Céu embaixo de meus pés nem o Inferno sobre a minha cabeça. Nem mantos nem chifres. Nem o Padre nem minha Mãe! Escorracem, sim! Estou farto de suas bondades! Estou farto de suas penas. De galinhas e de anjos alados ou caídos. Estou farto e quero voltar para casa! Onde estou agora, querida criança? Quero voltar para uma casa que eu nunca tive então não é possível, pois ninguém volta para onde nunca esteve. Mas eu queria os claros dias de sol e brincadeiras inocentes... "Ah, bom, queria ser criança, novamente!", disse meu filho. Não, está errado, queria ser velho, porque ai estaria mais perto da morte. Sem futuro a preocupar, sem mães e sem padres! Apenas ser velho e brincar... De ser criança! Queria sem velho e chegar ao fim chegando ao fim, igual ao pai de minha mãe, que era um artista! Queria ser artista forte igual a ele! Mas a mãe de minha mãe também morreu. De solidão... O anjo da morte com suas penas sujas de sangue a carregou e depois em meu sonho ela disse que tinha cometido suicídio. Suas mãos era quase pretas de nicotina igual ás minhas e ela ainda sabia que aquilo era a morte, do mesmo jeito que eu sei. Mas deixa eu acender um cigarro que depois eu continuo. (...) Ah, então continuando: será que a Grande Chupadora do Universo vai ficar velha? Ou vai morrer chupando pinto na beira do córrego? Então devolve meus 10 paus, sua piranha! Os 10 paus que você chupou! E ai, quem vai sustentar seus gatos? Não olhe pra mim! Eu não! Sou um monstro sem sensibilidade, feito de merda e terra. Merda sagrada e terra amaldiçoada. Rimbaud tinha "Sangue Ruim" e eu? Sangue Podre! Sou perigoso porque sou triste ou sou triste porque sou perigoso? Disseram que estou doente, da mente e da alma, que corro perigo! Que preciso de minha Mãe e do Padre. Aliás, o Padre disse que eu corro perigo e minha Mãe que eu sou o perigo! É, realmente, o fato é que estou a perigo e então vou até a beira do córrego encontrar a Grande Chupadora do Universo! Quem sabe uns tapas na cara dela faça com ela se apaixone por mim! Ou na bunda, melhor ainda! Padres e mães não sabem o que é sentir-se "Burro feito um tijolo". Chega ai, Padre, preciso entrar no confessionário e confessar meus pecados. Ganho uma carteirinha para o seu Céu? Minha mãe disse que sim! Minha Mãe é uma mentirosa hipócrita! A Grande Chupadora do Universo um dia será Mãe? "Ser mãe é desdobrar fibra por fibra o coração dos filhos", digam isso a ela. E nem chora não! Conta uma história, um conto da carochinha, sobre a Mãe Coruja, mente bastante, cria ilusão, depois abandona a cria! A Grande Chupadora do Universo tem peitinhos pequeninos e um par de bicos pretos. Deixa eu mamar neles? Deixa??? Implorei outro dia! E ela: "São trintão!" Ai eu mandei ela se foder! E ela falou: "Ai são cinquentão!" Grande filha da puta, vai tomar no seu cu!" Eu disse. E ela:" Aí são cenzão!" Quase mijei de rir e repeti: "I Wanna Piss On You" e ela ajoelhou e chupou meu pau até eu mijar na boca dela. Maldita puta filha da puta!

15/12/2003


Dia 7 (Último)
Cachorros, Merda & Rock'n'Roll.
(Tublues)

Torquato Neto enfiou a cabeça dentro do forno e abriu o gás. Deixou um testamento poético: "Difícil é não correr com os versos debaixo do braço. Difícil é não cortar o cabelo quando a barra pesa. Difícil, pra quem não é poeta, é não trair a sua poesia, que, pensando bem, não é nada, se você está sempre pronto a temer tudo; menos o ridículo de declamar versinhos sorridentes mestre de cerimônias." Será que se eu enfiar a cabeça dentro do micro-ondas e apertar o "power" meu cérebro fritará até parecer Batata Prengles, ou coisa parecida? Deixo também meu testamento poético: "Fodam-se!" Poético isso, não? Nunca quis ser poeta mesmo... Do mesmo jeito que aconteceu de eu ser narigudo e um tanto estúpido, aconteceu de eu cometer algumas porcarias poéticas. Mas cumpri o que Torquato pediu: nunca trai a poesia, nunca trai o Rock'n'Roll, nunca trai ninguém. Fui traído, sim... Muito! Parece maldição isso! Torquato abriu o gás e eu vou ligar a tomada. Mas agora quero mesmo é escutar um som! O pessoal do Tublues realizou um sonho meu, tenho uma porcaria de uma poesia musicada. Sangue de Barata ficou legal pra caralho! Tem um monte de gente querendo sugar meu sangue e ninguém a não ser a Grande Chupadora do Universo, quer sugar meu pau! Aperta o "power" ai! Aperta meu pau ai! "Quando eu nasci/um anjo louco muito louco/veio ler a minha mão/não era um anjo barroco/era um anjo muito louco, torto/com asas de avião/eis que esse anjo me disse/apertando minha mão/com um sorriso entre dentes/vai bicho desafinar/o coro dos contentes/vai bicho desafinar/o coro dos contentes/let's play that". Tenho mais de quarenta anos e então não deixam que eu trabalhe, ai nem tenho jeito de pagar as contas que ficam penduradas, o aluguel fodendo e tal. Difícil é cometer poesia assim, mas o mais difícil é estar em perfeita solidão, a solidão perfeita que só sente quem está no meio de uma multidão insensível. Acaso eu morra, só irão perceber dias depois por causa do fedor de carne podre. Ninguém afinal nota minha presença e eu grito e ninguém escuta. Escuta aqui: vão todos se foder! Deixem-me (morrer) em paz, então! Danem-se, apenas não desliguem a luz que pra eu ter como ligar o micro-ondas. Ontem tentei recomeçar a ler um livro pela décima-sétima vez e não consigo passar da página 17 ("Todos seus psiquiatras de dois bits / estão dando a você um choque elétrico / eles dizem que deixaram você viver em casa com seus pais / no lugar de manicômios / Mas todo o tempo que você tenta ler um livro / você não consegue passar da página 17 / porque você esqueceu onde você está /então você nem mesmo pode ler" - Lou Reed, "Kill Your Sons" Sinceramente, tenho inveja de Lou Reed, a cara faz o que eu queria pra mim. Sempre imaginei que as porcarias das minhas poesias seriam letras de Rock. Imaginem: "Aquela era uma noite muito calma até um certo ponto / O porque dessa mudança, ao entardecer eu lhe conto / Então toda cachorrada começou a ladrar esganiçada / E as ladras pararam diante da fechadura enguiçada." Ou "Ácida Cida de madeixas cor de sangue nobre / Cida ácida, doces ameixas, o ouro e o cobre / Ácida Cida dos cantos, encantos, recantos / Cida, ácida droga, lágrimas e prantos" (Esta Eu imagino algo como "Vicious"; ou ainda: "Filho bastardo de uma consciência dúbia, alguém sem escrúpulos, doente. / Perambulo pelas esquinas, bêbado de cachaça sem uma maconha decente. / Seria realidade a minha infinita pré-disposição em ser eternamente pobre? / Em ser um inútil poeta de bar de esquina, jamais de um restaurante nobre?"??? Canto assim, porque assim é minha maneira de cantar. Nenhum acorde musical, nenhuma nota. Apenas letras toscas com rimas idem. Mas, o que importa agora. Kafka mandou queimas seus escritos pouco antes da morte, mas como tinha amigos, algo ainda sobreviveu. E eu? É uma pena! Queria apenas um pequeno lugar sob o Sol, mas deram apenas a escuridão. A trilha sonora da minha existência nem deveria ser um Rock, mas um Blues... Solta o disco:

"Não posso ser menor que o Sonho, Nem maior que o Pesadelo!
Não posso ser menor que a Liberdade, Nem maior que a Prisão!
Não posso ser menor que o Homem, Nem maior que o Cão!
Não posso ser menor que o Bem, Nem maior que o Mal!
Não posso ser menor que o Amor, Nem maior que o Ódio!
Não posso ser menor que a Vida, Nem maior que a Morte!

O Heavy cantando isso ficou bem legal. Imaginei que isso seria um Blues-Rock e Heavy fez disso um Rock'n'Roll. Ai ficou bem legal... Sonha, poeta desgraçado, sonha maldito sonhador, morre maldito guerreiro. Fodam-se! Nem quero mais saber! Que importa agora? Claro que para encerrar essa merda toda, só poderia recorrer a Jim Morrison. No mais fiquem com "Deus e o Diabo na Terra do Sol". Vocês merecem!

É o fim, bela amiga / É o fim, minha única amiga / O fim de nossos planos incríveis / O fim de tudo que está de pé
O fim
Sem segurança ou surpresa / O fim / Nunca mais olharei em seus olhos de novo / Você consegue imaginar o futuro / Tão sem limites e livre / Precisando muito da ajuda de alguém estranho / Em uma terra desesperada
Perdido em uma imensidão de dor Romana / E todas as crianças são insanas / Todas as crianças são insanas
Esperando a chuva de verão / Há perigo no subúrbio da cidade / Ande na auto estrada do rei
Cenas estranhas dentro da mina de ouro / Vá para o oeste na auto estrada, baby / Ande na cobra
Até o lago / O lago antigo, baby / A cobra é comprida / Sete milhas / Anda na cobra / Ele é velho / E sua pele é fria / O Oeste é o melhor / Venha aqui e nós faremos o resto / O ônibus azul está nos chamando / Motorista, para onde está nos levando? / O matador acordou antes de raiar o sol  / Ele colocou suas botas / Pegou um rosto da antiga galeria / E desceu o corredor / Entrou no quarto onde sua irmã morava / E depois visitou seu irmão / Depois ele continuou a caminhar pelo corredor / E chegou a uma porta / E olhou para dentro / Pai? 
Sim, filho? / Eu quero te matar / Mãe, eu quero...  / Vamos, filho nos dê uma chance / E me encontre atrás do ônibus azul / É o fim, bela amiga / É o fim, minha única amiga / O fim / Dói libertar você / Mas você nunca me seguirá / O fim de risos e mentiras leves / O fim de noites em que tentamos morrer / É o fim

1/1/2003

04/03/2019

Eu Estou Esperando Por Meu Homem (O Dia Em Que Lou Reed Conheceu Charles Bukowski)

Eu Estou Esperando Por Meu Homem
(O Dia Em Que Lou Reed Conheceu Charles Bukowski)
Barata Cichetto

Sou um homem branco, cantor e compositor. Uso óculos escuros de caminhoneiro e botas e jaqueta de couro preto e bem gastos. Estou parado em frente a um prédio em San Pedro, na Califórnia, e nem sei como vim parar aqui. Só sei que estou esperando por meu homem, me sentindo doente e sujo, mais morto do que vivo. Eu estou esperando pelo meu homem.

Sou de New York, entretanto. E lá, meu homem era apenas um amigo traficante, mas em San Pedro espero por outro homem. E ele é também outra espécie de traficante. Seu produto é bom e com ele eu chego a ficar alto por dias seguidos. Ele é um escritor, trafica palavras, que na verdade são cápsulas que envolvem as mais puras e loucas sensações. O meu barato é heroína, o barato dele também, mas de outro tipo: aquelas heróinas que ficam na calçada cobrando michê. De certa forma também sou tão traficante quanto ele, também, mas minha droga é embalada em notas musicais. Como disse, sou cantor e compositor. Já usei e abusei de heroínas de todos os tipos.

Estou parado na frente desse prédio e toco a campainha. Uma morena alta, com olhos de cavalo e cabelos que parecem uma peruca mal feita atende. O nome dela é Rachel, ela conta, e percebo que é uma bicha daquelas que sempre canto em minhas musicas. Ela é um homem, mas não é meu homem, e quer ser minha mulher. É bonita a desgraçada, e quando se vira para que eu a siga, sem dizer uma única palavra, eu olho para sua bunda, que parece bem gostosa. Eu a sigo para dentro da casa, sempre de olho na bunda, e quando chegamos ao meio da sala, o homem que eu estava esperando se levanta da cadeira, sem deixar cair a cerveja e vai ao meu encontro, me abraçando como seu eu fosse um antigo amigo, ou alguém que fosse lhe pagar uma bebida. Ele parece um viciado em corridas de cavalos bêbado.

- Nenhuma bunda vale cinquenta pratas. - Diz ele.
- Sou um homem branco e uso óculos escuros e botas e jaquetas de couro. - Disse eu. - E nunca pago nem um dólar por um rabo de mulher.
- Rachel não é mulher. Ah, ela não é nada. Ou melhor, Rachel é tudo. Tudo o que ela quiser ser.
- Sou bissexual na maioria das vezes, menos quando rola uma daquelas festas em que ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo. Sou de New York, e lá é o lugar onde todo mundo é o que e quem quiser. Eu sou cantor e compositor, ando na barra pesada, e, portanto sei o que digo.
- Tudo isso aqui é um filme ruim, cara. Aliás, um filme ruim, feito por atores péssimos. A gente sempre representa, e mal. Então qual é o problema? 

Era uma manhã de domingo, e eu tinha passado a manhã bebendo sangria num parque, cheio de crianças remelentas por perto. Detesto crianças remelentas, detesto parques e detesto sangria.  Foi então que decidi ir a algum lugar melhor, e de repente estava na sala de um homem, cujo rosto era familiar, ao menos de longe. E na minha frente uma mulher que era quase um homem, ou um homem que era uma quase mulher, parecia que queria me dar a bunda ou me comer, não sei bem. Eu estava esperando meu homem, era só o que sabia. Só não sabia se era a tal Rachel, ou se era o outro cara.

Rachel se levantou, o homem também se levantou. Rachel se apoiou nos braços do sofá, empinou a bunda e levantou a saia. Depois disse:
- Charles, meu querido, pegue uma bebida bem forte. Nosso garoto precisa de algo que o faça se sentir um homem.

O homem, o que agora eu sabia se chamar Charles, deu uns passos cambaleantes em direção à cozinha, e eu, do mesmo jeito, em direção ao rabo de Rachel. Em minutos eu a estava enrabando e ela rebolava. Enfiei a mão no meio das pernas e um pau de bom tamanho ficou maior ainda quando o segurei. Não tinha perguntado a Rachel quanto custaria seu rabo. Se fosse mais de cinquenta pratas, como dizia o outro homem que se chamava Charles, não valia. Então gozei no cu de Rachel e Rachel gozou no sofá, sujando minha mão. O outro homem voltou com garrafa e copos. Sentou-se e nos serviu, e a ele mesmo. Bebemos em silêncio, com Rachel passando as pontas dos dedos no esperma no sofá e lambendo, entre um gole e outro.

O outro homem, que eu sabia que se chamava Charles ficava me olhando, fumando, bebendo e tossindo. Era um sujeito asqueroso, tinha sotaque alemão disfarçado e ficava o tempo inteiro olhando para uma máquina de escrever no canto da sala, como se lembrasse de algo a escrever e o precisasse fazer imediatamente. Talvez não fosse isso, e ele escondesse heroína dentro da tal máquina. Ninguém dizia nada. E eu só pensava que Rachel era uma viciada, talvez uma Vênus em Peles, que quisesse ser chicoteada ou apanhar na cara. E talvez ela quisesse me bater com uma flor. Ela tinha olhos negros de cavalo, eu já disse. E tinha pernas de cavalo, também. Eram musculosas.

Comecei a cantarolar uma das minhas musicas. E o outro homem a recitar uma de suas poesias. Quando terminamos nosso dueto sem pé nem cabeça, Rachel soltou um bocejo e disse que era tarde demais. E o outro homem, que se chamava Charles, me perguntou se eu queria ser escritor. E eu disse:

- Não, cara, eu estou apenas esperando por meu homem.

E ele me disse:

- Nenhum rabo vale mais que cinquenta pratas. 
Era um dia perfeito. Eu paguei cinquenta para Rachel, coloquei os óculos escuros e a jaqueta e botas de couro e sai pela porta, sem antes escutar o outro homem que se chamava Charles dizer a Rachel:

- Nem tente!

20/02/2019

29/10/2013

The Black Angel's Death - Sad Song

The Black Angel's Death - Sad Song 
Barata Cichetto


"And if epiphany's terror reduced you to shame
Have your head bobbed and weaved
Choose a side to be on.."
"The Black Angel's Death Song" - Lou Reed and John Cale, 1967

Eu era ainda um garoto quando pelas calçadas mijadas
Encontrei o mundo das putas peludas e bichas aleijadas
E pelas esquinas nojentas, muita gente fedida e ordinária
Pelas sarjetas, bêbados sorridentes e a poesia sanguinária.

E encontrei um homem com um cabelo curto e alaranjado
De óculos escuros e que cantava esse mundo desarranjado
E ele contava as mesmas histórias que eu conhecia de cor
Glórias a um mundo torto, imundo, mas nem por isso pior.

Então conheci um casal de irmãos andando de mãos dadas
Eram Rock e a Poesia e tinham eles suas almas maltratadas
Os dias eram perigosos e escuros nos subterrâneos de veludo
E meu mundo era apenas um buraco, muito quente e peludo.

Então um dia eu disse a Janete “Vamos passear pelo lado selvagem?”
Mas a garota negra da minha rua disse: “Ah, pois deixe de bobagem!”
E depois mandou: “Eu estou esperando por meu homem sujo agora!”
Mas ela não sabia que eu não podia esperar. E a paguei e fui embora.

Realmente eu não sabia onde estava indo, naqueles dias tensos
E Janete também não sabia, pois os seus dias eram mais densos
Queria rosas do céu, vinho do paraíso e morreu sem sentir a dor
Enquanto eu recebia na porta de entrada ao seu novo comprador.

Somos todos póstumos viajando sós dentro de um trem
Que ninguém sabe para onde vai, nem de onde ele vem
Disputando os lugares sentados na janela enquanto ele apita
Mas no silêncio do túnel escuro é o anjo da morte quem grita.

Um dia imperfeito e o coração do sujeito parou em segundos
Silêncio nas esquinas, e bêbados, bichas e putas estão mudos
O dia amanheceu com menos veludo, o subterrâneo encolhido
Pois Lou Reed, o que escolheu escolher, foi agora o escolhido

E todos foram dormir cedo, a barra pesada é dentro das casas
Pois uma bicha negra de pernas depiladas lhe abriu suas asas
E, ah, meu amigo Lou, cujas histórias encantadas eram contos
Os porquês depois das vírgulas e o fim depois dos dois pontos.

"Start the game I che che che che I
Che che ka tak koh
Choose to choose
Choose to choose, choose to go."

28/10/2013





27/04/2012

Christa Päffgen ou Um Vulcão Chamado Nico

Christa Päffgen ou Um Vulcão Chamado Nico
Luiz Carlos Barata Cichetto

Começo essa história pelo fim. Em 11 de Abril de 1986, em Tokyo, Japão, com a melhor interpretação já feita da música "The End" do The Doors, por uma alemã chamada Christa Päffgen. Ou simplesmente Nico. E continuo com o fim, em Ibiza dois anos depois, em 18 de Julho de 1988, por falta de atendimento médico adequado, de hemorragia cerebral.

Nico era um ícone (“icon”, em inglês), num anagrama sacado por Andy Warhol. Feminina, linda e dona de uma voz grave que penetra fundo, perturba, cutuca e fere. Mas Warhol errou, Nico não era um ícone, era um uma fonte, um vulcão, uma fonte de lavas que escorriam pelas calçadas e até os bueiros mais escuros de Nova York, Londres, Paris; um vulcão gerador do caos, um vulcão cujas lavas solidificadas geram montanhas, colinas...

Christa Päffgen nasceu a 16 de outubro de 1938, em Köln, na Alemanha. Mas Nico não nasceu, jorrou das entranhas da Terra feito a lava de um vulcão, que brota e se esparrama queimando o que encontra em seu caminho. E queimou a muitos: Andy Warhol, Alain Delon, Lou Reed, John Cale, Bob Dylan, Brian Jones, Paul Morrissey, Jim Morrison, Jackson Browne, Tim Buckley, Iggy Pop… Nico queimou a todos e todos queimaram por ela.

Aos 13 anos Nico abandonou a escola e começou a esparramar suas lavas fumegantes, primeiramente trabalhando como modelo, para revistas de moda como a Vogue. Depois como atriz aparecendo em pequenas participações em filmes de diretores como Alberto Lattuada, Rudolph Maté e Fellini, decerto encantados com aquele Vulcão de beleza e sensualidade. Em 1962 Alain Delon também queimou nas lavas fumegantes de Nico e tiveram uma criança de nome Ari. Em 1963 o Vulcão Nico reina, ao ganhar o papel principal e gravar a musica tema do filme "Strip-Tease", do diretor Jacques Poitrenaud, produzido por Serge Gainsbourg.

Em Londres de 1965 foi a vez do guitarrista do Rolling Stones Brian Jones conhecer o Vulcão e gravar com ela "I'm Not Sayin'". Logo em seguida Paris a apresentaria a Bob Dylan que mais tarde escreveria a música "I'll Keep It With Mine" para ela.

E Andy Warhol e Paul Morrissey conheceram o Vulcão Nico e a colocaram a jorrar suas lavas de sensualidade e talento em seus filmes experimentais, "Chelsea Girls", "The Closet", "Sunset" e "Imitation of Christ".  Warhol deu ao Vulcão o nome de Nico e a colocou no centro do underground nova-iorquino com seu projeto "Exploding Plastic Inevitable", um show experimental e alternativo que misturava música, filme, dança e pop art. O Velvet Underground que passaria a ser: "& Nico" e ela fez o vocal principal em três músicas ("Femme Fatale", "All Tomorrow's Parties" e "I'll Be Your Mirror") e  o backing vocal em "Sunday Morning" no álbum de estréia da banda, lançado no ano de 1967, fundamental para a história do Rock.

O Vulcão a cada ímpeto jorrava a lava fervente de suas entranhas e é claro que isso incomodava àqueles em suas encostas. E Nico foi brilhar sozinha, lançando a partir daí e pelos próximos 20 anos, discos com a qualidade gerada por sua energia vital. Afinal, Nico era o Vulcão. O gênio John Cale esteve particularmente envolvido nas músicas de Nico, produzindo, fazendo arranjos e tocando nas gravações em vários de seus discos.

E durante muitos anos o Vulcão jorrou intensamente sua lava e ela participou de inúmeros filmes e gravou muitos discos. Sempre a presença do cigarro, as mãos trêmulas, e os olhos sempre a procura de algo. Olhos depois escondidos por óculos escuros... O jorro ainda era intenso, mas a força e a intensidade daquele vulcão estava debilitada pela heroína e por suas experiências traumáticas de guerra durante a infância... E principalmente por ter gerado tanto calor e tanta luz, que fizeram com que ela se esgotasse completamente em Ibiza em 1988.

Nico teve um ataque cardíaco enquanto andava de bicicleta e, na queda, bateu a cabeça. Nenhum hospital quis atender uma mulher que usava aquelas detestáveis roupas hippies de lã para disfarçar uma aparência deteriorada...

E o Vulcão silenciou, esvaiu, extinguiu ou adormeceu?... Mas ainda podemos, das profundezas da Terra escutar suas canções, naquela voz grave... E o Vulcão Nico ainda jorra, ainda queima, ainda arde, ainda é bela, ainda... É um Vulcão!


27/04/2012