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27/04/2012

Christa Päffgen ou Um Vulcão Chamado Nico

Christa Päffgen ou Um Vulcão Chamado Nico
Luiz Carlos Barata Cichetto

Começo essa história pelo fim. Em 11 de Abril de 1986, em Tokyo, Japão, com a melhor interpretação já feita da música "The End" do The Doors, por uma alemã chamada Christa Päffgen. Ou simplesmente Nico. E continuo com o fim, em Ibiza dois anos depois, em 18 de Julho de 1988, por falta de atendimento médico adequado, de hemorragia cerebral.

Nico era um ícone (“icon”, em inglês), num anagrama sacado por Andy Warhol. Feminina, linda e dona de uma voz grave que penetra fundo, perturba, cutuca e fere. Mas Warhol errou, Nico não era um ícone, era um uma fonte, um vulcão, uma fonte de lavas que escorriam pelas calçadas e até os bueiros mais escuros de Nova York, Londres, Paris; um vulcão gerador do caos, um vulcão cujas lavas solidificadas geram montanhas, colinas...

Christa Päffgen nasceu a 16 de outubro de 1938, em Köln, na Alemanha. Mas Nico não nasceu, jorrou das entranhas da Terra feito a lava de um vulcão, que brota e se esparrama queimando o que encontra em seu caminho. E queimou a muitos: Andy Warhol, Alain Delon, Lou Reed, John Cale, Bob Dylan, Brian Jones, Paul Morrissey, Jim Morrison, Jackson Browne, Tim Buckley, Iggy Pop… Nico queimou a todos e todos queimaram por ela.

Aos 13 anos Nico abandonou a escola e começou a esparramar suas lavas fumegantes, primeiramente trabalhando como modelo, para revistas de moda como a Vogue. Depois como atriz aparecendo em pequenas participações em filmes de diretores como Alberto Lattuada, Rudolph Maté e Fellini, decerto encantados com aquele Vulcão de beleza e sensualidade. Em 1962 Alain Delon também queimou nas lavas fumegantes de Nico e tiveram uma criança de nome Ari. Em 1963 o Vulcão Nico reina, ao ganhar o papel principal e gravar a musica tema do filme "Strip-Tease", do diretor Jacques Poitrenaud, produzido por Serge Gainsbourg.

Em Londres de 1965 foi a vez do guitarrista do Rolling Stones Brian Jones conhecer o Vulcão e gravar com ela "I'm Not Sayin'". Logo em seguida Paris a apresentaria a Bob Dylan que mais tarde escreveria a música "I'll Keep It With Mine" para ela.

E Andy Warhol e Paul Morrissey conheceram o Vulcão Nico e a colocaram a jorrar suas lavas de sensualidade e talento em seus filmes experimentais, "Chelsea Girls", "The Closet", "Sunset" e "Imitation of Christ".  Warhol deu ao Vulcão o nome de Nico e a colocou no centro do underground nova-iorquino com seu projeto "Exploding Plastic Inevitable", um show experimental e alternativo que misturava música, filme, dança e pop art. O Velvet Underground que passaria a ser: "& Nico" e ela fez o vocal principal em três músicas ("Femme Fatale", "All Tomorrow's Parties" e "I'll Be Your Mirror") e  o backing vocal em "Sunday Morning" no álbum de estréia da banda, lançado no ano de 1967, fundamental para a história do Rock.

O Vulcão a cada ímpeto jorrava a lava fervente de suas entranhas e é claro que isso incomodava àqueles em suas encostas. E Nico foi brilhar sozinha, lançando a partir daí e pelos próximos 20 anos, discos com a qualidade gerada por sua energia vital. Afinal, Nico era o Vulcão. O gênio John Cale esteve particularmente envolvido nas músicas de Nico, produzindo, fazendo arranjos e tocando nas gravações em vários de seus discos.

E durante muitos anos o Vulcão jorrou intensamente sua lava e ela participou de inúmeros filmes e gravou muitos discos. Sempre a presença do cigarro, as mãos trêmulas, e os olhos sempre a procura de algo. Olhos depois escondidos por óculos escuros... O jorro ainda era intenso, mas a força e a intensidade daquele vulcão estava debilitada pela heroína e por suas experiências traumáticas de guerra durante a infância... E principalmente por ter gerado tanto calor e tanta luz, que fizeram com que ela se esgotasse completamente em Ibiza em 1988.

Nico teve um ataque cardíaco enquanto andava de bicicleta e, na queda, bateu a cabeça. Nenhum hospital quis atender uma mulher que usava aquelas detestáveis roupas hippies de lã para disfarçar uma aparência deteriorada...

E o Vulcão silenciou, esvaiu, extinguiu ou adormeceu?... Mas ainda podemos, das profundezas da Terra escutar suas canções, naquela voz grave... E o Vulcão Nico ainda jorra, ainda queima, ainda arde, ainda é bela, ainda... É um Vulcão!


27/04/2012

26/04/2012

John é Um Gênio


John é Um Gênio
Luiz Carlos Barata Cichetto




Existem centenas e centenas de postulantes a gênio, mas poucos, muito poucos podem realmente ter assegurado tal titulo. Entre eles, decerto encontra-se um galês de nome John Davies Cale, (Garnant, 9 de março de 1942). E antes que pedras comecem de rolar em minha direção, é mister que eu defina o termo: gênio é uma pessoa com uma capacidade de criação acima do comum, alguém que com seu trabalho ou idéias mudou ou fez a história, ou teria mudado e feito acaso fatores independentes de sua genialidade não o impedissem. E é nesses quesitos que enquadro John Cale dentro da mesma categoria de gênio em que coloco Frank Zappa, Nicola Testa, Syd Barrett, Leonardo Da Vinci, Jimi Hendrix e mais uns dois ou três. Muitos dos gênios não são ou não ficam conhecidos por sua genialidade porque estavam de alguma forma exercendo sua genialidade em hora errada, no lugar errado, ou pior ainda, junto à pessoas erradas. Caso específico de Syd Barrett e John Cale. Syd foi chutado do Pink Floyd não por causa de sua loucura, pois afinal ali, ninguém absolutamente poderia ser considerado normal, e ninguém se importava se ele passava bolachas por baixo da porta da namorada ou tocava uma nota só. O que importava é que sua genialidade incomodava os planos pretensiosos e egocêntricos de Roger Waters.

E quase o mesmo aconteceu com John Cale, que até conhecer a turma do Vervet Underground tinha estudado composição moderna no Conservatório Eastman integrado o grupo de música de vanguarda Dream Syndicate e participado de um recital de piano que durou 18 horas, juntamente com o músico John Cage. Em 1964 conheceu Lou Reed e juntamente com o guitarrista Sterling Morrison fundaram no mesmo ano o Velvet Underground. Cale era o responsável pelo tipo de som produzido pelo grupo, introduzindo elementos experimentais e tocando baixo, viola e teclados, além de compor algumas das canções, como Heroin, Venus In Furs, White Light / White Heat, Femme Fatale e I’m Waiting for The Man. Nico era a gostosa que cantava e Lou Reed tinha pretensões a líder e começou a criar dificuldades com Cale, até que em 1968, ele decide deixar o conjunto. O Velvet Undeground continuou até 1973, mas sem a sem o lado experimental que a genialidade que Cale proporcionava, passou a ser apenas mais um grupo de Rock igual a qualquer outro. Basta que escutem e prestem atenção aos discos da banda: The Velvet Underground and Nico (1967) e White Light/White Heat (1968) tem a participação de Cale, os demais não, sendo que Reed assume todas as composições e a liderança da banda. Nico participara apenas no primeiro disco.

Cale então passou a dedicar-se à produção de discos, tendo trabalhado com Nico, ex-vocalista dos The Velvet Underground, e em dois álbuns com os Stooges de Iggy Pop. Em 1970, iniciou carreira a solo com o álbum Vintage Violence, um trabalho pouco experimental que incluía canções de estilo tradicional. Seu disco seguinte, Church of Anthrax, quase todo instrumental, entretanto mostrou-se mais radical, resultado da colaboração com o compositor minimalista Terry Riley. Até o final da década de 70, o som de Cale aproximou-se cada vez mais do Rock básico e paralelamente continuava a produzir trabalhos de outros artistas, como Nico, Patti Smith e os Squeeze.

Em 1974 lança o que seria a grande obra-prima de sua carreira solo: Fear. Neste disco, mantendo a originalidade do som do Velvet Undeground., John Cale prova que foi ele o responsável pela criação de um dos grupos mais influentes da música contemporânea e faz de "Fear" é um dos discos mais impressionantes da história do Rock em todos os tempos.

A partir de meados da década de 80 a produção de Cale diminuiu bastante com ele se dedicando mais a colaborações com outros músicos, sendo uma das mais significativas a parceria com Brian Eno, que resultou no álbum Wrong Way Up, de 1990. Nesse mesmo ano, Cale voltou a trabalhar com Lou Reed e gravaram Songs for Drella, um álbum de homenagem póstuma a Andy Warhol, um dos mentores dos The Velvet Underground. O trabalho foi bem aceito pela crítica e pelo público e levou a uma volta do Velvet Underground, em 1993, que gerou uma turnê pela Europa e um disco ao vivo. Mas, mais uma vez, a rivalidade entre Cale e Reed veio á tona e voltaram a separar-se.

Cale voltou a trabalhar em sua carreira solo e na criação de trilhas sonoras de filmes, como por exemplo,  "I Shot Andy Warhol", de 1995, e "Basquiat", de 1996. Já em 1998, lançou o CD Nico, um álbum de homenagem à recém falecida antiga vocalista do Velvet Underground. Posteriormente compôs outra trilha sonora para o cinema, Le Vent De La Nuit. O regresso aos trabalhos originais de estúdio, aconteceria apenas em 2003, com o disco "HoboSapiens", revelando o seu melhor estilo iconoclasta, energético e inovador, utilizando-se de diversos samples, uma marca na nova etapa no som do genial John Cale.

O presente texto sobre John Cale foi criado por uma trilha sonora quase paranóica, com a repetição continua de uma única musica, "Venus In Furs", em suas inúmeras encarnações. Aliás, foi essa música, uma das mais belas, fortes e instigantes musicas da história do Rock, que deflagrou a necessidade de falar sobre John Cale.

(Venus In Furs)
John Cale

Vênus em Peles

Brilhantes, brilhantes, brilhantes botas de couro
Garotinha açoitada no escuro
Vem ao sinal do sino, seu servo, não o abondone
Golpeie, querida senhora, e cure o coração dele
Pecados aveludados das fantasias da rua
Caçe as roupas que ela deverá vestir
Peles de arminho adorna a soberba
Severin, Severin o aguarda lá
Eu estou cansado, eu estou exausto
Eu poderia dormir por mil anos
Mil sonhos que iriam me acordar
Cores diferentes feitas de lágrimas
Beije a bota de brilhante, brilhante couro
Brilhante couro no escuro
A língua da correia, o cinto que o aguarda
Golpeie, querida senhora, e curo o coração dele
Severin, Severin, fala tão superficialmente
Severin, fique de joelhos
Sinta o chicote, em amor não dado levemente
Sinta o chicote, agora implore por mim
Eu estou cansado, eu estou exausto
Eu poderia dormir por mil anos
Mil sonhos que iriam me acordar
Cores diferentes feitas de lágrimas
Brilhantes, brilhantes, brilhantes botas de couro
Garotinha açoitado no escuro
Severin, seu servo, por favor não o abandone
Golpeie, querida senhora, e cure o coração dele.


26/04/2012