Merda no VentiladorLuiz Carlos Barata Cichetto |
Foto Extraída do Blog "Fetozine" |
Muita gente me critica pelo fato de eu estar sempre jogando merda no ventilador, mas a merda que eu jogo é a deles, por isso que reclamam tanto e se sentem tão ofendidos. Em uma entrevista ao poeta e zineiro Diego El Khouri, o poeta Glauco Mattoso afirma: "Eu diria que, sendo o Brasil um país bem vira-lata, quem quiser assumir o rotulo de 'sujo' tem mesmo que estar um pouco acima da media... Mas ser um poeta sujo não é apenas chafurdar na merda: é saber jogá-la no ventilador, saber fazer dela boas tortas para atirar na cara dos politicamente corretos.". Concordo completamente com ele, mas preciso acrescentar neste contexto que muita gente liga o ventilador, apanha a merda e a espalha, mas não basta jogar a merda de volta na caras das pessoas a própria merda que eles produzem, é preciso fazê-las sentir que aquela merda toda é deles mesmos, não de quem a colocou no ventilador. Seria quase que o mesmo efeito da tortura de Alex, personagem de Laranja Mecânica, causar o asco pelo próprio feito. No livro de Burgess e no filme isso não dá resultado, anulando o que chamam de "livre arbítrio", tornando o ser incapaz também de gerar o bem. E na tortura pelos métodos de "merda no ventilador" funcionaria? Os torturados se sentiriam enojados pela própria merda a ponto de não mais produzi-la? O que a sociedade produz é apenas merda, no final das contas. Tudo vira merda! Tudo. Até mesmo o pensamento dos intelectuais, a musica, a poesia, tudo. Tudo acaba se transformando em merda pura. E artistas, que não são aqueles que como os poderosos se locupletam com a merda produzida por essa sociedade, como poucos que ainda existem, como é o caso de Glauco Mattoso e outros, sendo que nesses outros também incluo sinceramente a mim mesmo, precisam pegar essa merda toda e jogar no ventilador com toda a disposição. Existimos num país de fracos, doentes e incultos. Muita merda é o que existe. Então precisamos de mais ventiladores.
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Pessoal Mas Transferível
Barata Cichetto |
Thomas Eakins (1844-1916) Old Man Said To Be Wal Whitman |
- Acorda, preguiçoso! Corta o cabelo e arruma um trabalhoE aproveita e corta essa barba, seu vagabundo do caralho!Não tem respeito quem não madruga em fila de empregoEscuta o que falo ou preciso falar em russo ou em grego?
Ah, mas que tolo fui eu em acreditar naquilo que eu podiaMinha arte não dá dinheiro e a cada poesia mais me fodiaCom escrita nunca recebi sequer uma moeda de um realE o mundo que conheci acabou, agora o mundo é surreal.
- Acorda, filho da puta! Nesses dentes podres dá um jeitoNinguém precisa de poesia e poeta não é um bom sujeitoO trem funciona desde as cinco da manhã, todos os diasE estou farta de suas poesias e de suas eternas covardias!
Esqueci o que sabia e não aguento mais subir descidas Precisamos de comida e as contas estão todas vencidasEu preciso provar que não sou um ladrão ou vagabundo Ainda arranjo um emprego nem que seja um moribundo.
- Acorda e manda currículo, qualquer emprego lhe serveE peço em nome de Deus, que seu emprego lhe conserveLembra da senhoria, paga as contas de luz e o crediárioDeixa portanto essas histórias de poesia, Poeta Ordinário!
Hoje pensei em abrir o gás do fogão e tal a Torquato NetoEnfiar a cabeça deixando um bilhete de adeus bem diretoMas não tenho coragem, deixo que me matem aos poucosPois tenho a covardia dos poetas e a coragem dos loucos. ----------------------------------------------------------------