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12/05/2018

Carta a Neruda (Ou O Padeiro e o Poeta)

Carta a Neruda
(Ou O Padeiro e o Poeta)
Barata Cichetto
"La Poesia no muere pero los Poetas tienen que sobrevivir." - Alejandra Arce D Fenelon


Poetas não são pequenos deuses, assim disse Pablo, poeta maior
E não são, pois não existem nem deuses nem ser humano menor.
Se não julgam deuses os padeiros, também não me julgo poeta
Estamos quites então, queridos deuses, padeiros e velho profeta.

Somos todos, querido Poeta, todos nós trabalhadores
Dos padeiros aos poetas, trabalham até os ditadores.

Afirma ainda o poeta amigo do carteiro, que poeta é o padeiro
E eu que nem conheço direito da farinha e do trigo o paradeiro.
O suor do padeiro é o mesmo da meretriz, do pedreiro, do atleta
Mas todos comem de seu suor, enquanto morre de fome o poeta.

Somos todos nós, caríssimo Poeta, todos nós panificadores
Dos padeiros aos poetas, merecem o pão até os senadores.

Porque tem o poeta que entregar seu pão de graça a brutos
Se todos os trabalhadores do mundo recebem de seus frutos?
E o que falaria um padeiro ao receber o Nobel da Panificação
Decerto que pequeno deus não é ele, mas o mestre da Poesia?

Somos todos, querido vate, todos nós somos transpiradores
Dos carteiros aos poetas, transpiram mesmo os sofredores.

Eu não coloco aos poetas no panteão dos pequenos deuses
Mas naquele onde são enterrados os que morrem duas vezes.
E somos todos, médicas, enterradores de defuntos e parteiras
Seres que merecem por trabalho dinheiro em suas carteiras.

Somos todos, doce Poeta, todos nós merecedores
Dos pedreiros e poetas aos pequenos pecadores.

07/03/2013

12/04/2018

(Jurame) Cartas Online a Poeta Alejandra Arce


(Jurame)
Cartas Online a Poeta Alejandra Arce

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24 de setembro de 2015 • São Paulo

Querida Alejandra Arce D Fenelon:
Confesso-me surpreso e surpreendido com teu chamado à escrever cartas num espaço tão estranho. Antes, costumava escrevê-las à mão, em papel de embrulho nas épocas magras, depois comprei uma máquina de escrever, estilosa, vermelha, e de lá saiam minhas correspondências à poetas amigos. Era um tempo dificílimo, mas o matraquear das teclas negras durante noites inteiras de solidão, enchiam de esperança minha mente. Cartas aos poetas do mundo, ao mundo dos poetas. Cartas internas, endereças a mim mesmo, que nunca foram entregues. Até hoje espero chegar essas cartas, feito alguém apaixonado, no portão, a espera da carta amorosa que nunca chegou. Quebrou-se o portão, mudou-se a vizinhança, o Carteiro se aposentou. E o Poeta morreu. As cartas, essas devem estar perdidas nalgum porão escuro, meio roídas por ratos ou baratas. Ainda existem? Quanta esperança existe numa carta escrita em noites de solidão, feito esta em que lhe escrevo? Quanta dor existe em noites tristes feito esta em que lhe escrevo esta carta, não mais num teclado de máquina de escrever, mas de computador? Quanta angústia, quanta perversidade? É perversa a madrugada dos insones, malvada a esperança aos que sonham.

Esperança é uma maldição religiosa, portanto, junto com todas as relíquias religiosas, incluindo crucifixos, rezas e perdão, as atirei no lixo. Não creio mais nessas coisas. Tanto quando joguei no lixo todos os dogmas malditos, todos os desejos benditos, todas as ideologias falsas e mentirosas. Joguei no lixo até mesmo quase que a totalidade do meu ser. Quase tudo se foi. Restou apenas um pequeno pedaço de poesia, que ainda me mantém respirando.

E é esse pequeno pedaço que entrego-lhe, nesta noite em que até os gatos dormem, não há corujas e nem sequer um trinado de um pássaro noturno se escuta. Os cachorros dos vizinhos, sempre barulhentos, emudeceram. Não há mais nada, querida Alejandra. Nada mais. A maldição da humanidade chega ao fim. A maldade reina. Resta-me apenas o desespero, que expresso nesta primeira carta, que lhe entrego. Ainda com o que resta de mim.

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24 de setembro de 2015 • São Paulo

Honey...
Depois da ultima carta, me peguei escutando Ely Guerra, a quem não conhecia. A força dessa moça é algo extraordinário. Ainda não consegui dormir e olhe que a noite não acaba. É triste. Estou com uma forte dor de cabeça desde ontem de manhã. Não sei, mas tem horas que penso que minha cabeça irá explodir. Queria ter alguém com quem falar, nestas horas, mas todos parecem estar dormindo. Mas muitos simplesmente estão surdos. Que esta carta a encontre de manhã. Sonolenta, ainda, de pés descalços. Minhas gatas dormem no meu colo. E sinto que por elas sou querido. Bom dia, minha amiga!


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26 de setembro de 2015 • São Paulo

Honey...
Todas as madrugadas pertencem às sombras. E todas as sombras à solidão. Erroneamente pensam os poetas que as sombras são coisas do passado. Enganam-se. São tolos em achar que sombras são culpas, atos, fatos. Pois que são as sombras, minha amiga, Poeta da noite, do futuro. Nós as projetamos à nossa frente, com nossos corpos opacos. E é por isso que as tememos tanto. As sombras, que tanto tememos, que tanto cortejamos em poemas, negras, escuras, sombrias, são de fato nossos medos, estampados na parede da frente. E essas sombras, que por vezes chamamos de solidão, são apenas o medo. E se essas sombras podem ser as da morte, mas podem ser também as de uma eternidade que nunca compreendemos, presos à dogmas e ideologias imprecisas e burras. Não há eternidade ao corpo, mesmo nossas tão decantadas obras não serão eternas, mas há uma coisa, algo que de fato não nos reflete no passado, mas no eterno, que são as sombras, que se projetam num universo tão extenso que nunca seremos capazes de compreender, numa espiral ascendente gerada pelo próprio medo- sombra. Portanto, o que temos, de fato é o medo... De nossa própria eternidade..De nossa própria sombra. Solidão infinita. Eterna.

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2 de Outubro de 2015 • São Paulo
Querida Poeta..
Há tempos que cartas não chegam. Mataram o carteiro, ou mataram o poeta? O mundo moderno não carece mais de uma nem de outra coisa. Há solidão apenas. E não encontro agora nas palavras o consolo que sempre achei. Não há. As palavras estão mortas. Feito carteiros e poetas. Queria encontrar uma forma de aplacar essa angustia que corrói, destrói e amaldiçoa meu espírito. Há muito não sei o que é dormir direito. Insônia é a maldição. Esperei que desejasses boa noite, numa postagem de Facebook para escrever-te. Fico tímido diante de tua presença. Sou um tolo, eu sei. Mas, o que pode ser feito, se a tolice é minha irmã gêmea? Quero estar longe. De mim. Longe de meu próprio cheiro. Longe. Apenas longe. De qualquer lugar. De qualquer coisa. De qualquer alguém. A distância. Inconstância. Há um deserto enorme a minha frente. Dentro de mim. Apenas areia que não move uma ampulheta. O tempo perdido. O espaço perdido. A busca perdida. Inútil busca. Nada há a ser encontrado. Nada. Apenas o nada. E se há tempos não recebo uma carta, foi que dentro de mim nada mais deseja, nada mais busca, nada mais procura. Não há! Nada. Beso, mi querida amiga.